Bárbara Reis e Ivy Souza encarnam Ruth de Souza e Léa Garcia e convidam o público a refletir sobre memória, arte e representatividade
Entre os dias 15/8 e 01/09, de sexta a segunda-feira, às 21h, o Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB BH) recebe o espetáculo Ruth & Léa, estrelado por Bárbara Reis e Ivy Souza, dirigido por Luiz Antônio Pilar e escrito por Dione Carlos. A peça é um tributo às duas grandes damas do teatro brasileiro e um convite à sensibilidade e à reflexão. “Sendo Ruth de Souza encontro minha própria memória: pés firmes no palco, olhos que rasgam silêncios, voz que costura o tempo”, afirma Bárbara. Para Ivy, fazer a peça é “tomar consciência sobre o que elas construíram e reconhecer a dimensão dessas duas grandes artistas”. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) e podem ser comprados na bilheteria do CCBB BH ou no site ccbb.com.br/bh. A classificação é 12 anos.
No dia 16/8, após a sessão do espetáculo, as atrizes e o diretor da peça farão um bate-papo com o público falando sobre a montagem, suas curiosidades e sobre a importância na cena cultural nacional de Ruth de Souza e Léa Garcia.
Na trama, três mulheres se encontram em um estúdio de cinema para criar, rever memórias e imaginar futuros. As atrizes Zezé e Elisa, nomes inspirados em Zezé Motta e Elisa Lucinda, iniciam o ensaio para um filme musical sobre Ruth de Souza e Léa Garcia e mergulham nas trajetórias dessas figuras fundamentais da história do teatro e do audiovisual brasileiro. Acompanhadas por Naná (vivida por Gláucia Negreiros), diretora e musicista do filme, elas constroem uma jornada de escuta, troca e provocação. A narrativa se entrelaça com cenas projetadas, números musicais que incluem canções de Tom e Vinícius, Milton Nascimento e Debussy, e a presença simbólica de figuras marcantes, como Mercedes Baptista, Grande Otelo e Abdias do Nascimento.
“Há pretos e pretas que fizeram coisas fundamentais e que ninguém sabe”, justifica o diretor Luiz Antônio Pilar sobre a montagem da peça, o qual tem no currículo a indicação ao Emmy Awards Internacional pelo remake de “Sinhá Moça” (2006), da TV Globo, o Prêmio Shell, em sua 34ª edição, pelo espetáculo “Leci Brandão, na Palma da Mão” na categoria de Melhor Direção, e a direção da novela “Todas as Flores” (2022-23). Foi em 2003 que veio a vontade de fazer um trabalho sobre Ruth e Léa, primeira brasileira a concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes, por “Orfeu Negro” (1959). “A Ruth me chamou à casa dela. Chegando lá, para a minha surpresa, também estava a Léa”, lembrou o diretor. Este espetáculo é uma homenagem a elas e ao teatro negro no Brasil. “É um trabalho-tributo a essas duas grandes atrizes do cenário cultural brasileiro, no ano que marca os 80 anos da estreia do primeiro espetáculo do Teatro Experimental do Negro (TEN), grupo idealizado por Abdias do Nascimento, do qual Ruth e Léa são as maiores expoentes”, observa Pilar.
Para a dramaturga Dione Carlos, vencedora do prêmio APCA 2022 com a peça “Cárcere ou Porque As Mulheres Viram Búfalos”, falar sobre essas mulheres é lembrar um coletivo, um exercício de sankofa (termo de origem africana que significa voltar e buscar). “Escrever sobre Ruth e Léa implica lidar com duas artistas talentosas, pioneiras e longevas, atravessadas por movimentos artísticos e personalidades históricas. Logo, criar uma dramaturgia sobre as duas é, também, escrever sobre outras pessoas, tempos e eventos. São mulheres que emergem da força do coletivo. ‘Ruth & Léa’ é um movimento de Sankofa, de retomar o que é nosso”, atesta.
“É um misto de euforia e realização viver essa experiência. Entendo mais ainda que ser mulher preta em cena é acender luz onde tentaram apagar história. E fazer do palco um quilombo de memória e reexistência”, afirma Bárbara Reis, que interpreta Ruth e foi protagonista da novela das 21h, “Terra e Paixão”, de 2023. Já Ivy Souza, que interpreta Léa em cena e foi destaque da trama das 21h, “Mania de você”, de 2024, fala sobre a responsabilidade de estar nesta peça. “Ela sempre foi uma das minhas maiores referências, tenho profunda admiração por Léa. Sendo uma atriz negra, tenho a consciência de como ela e a Ruth puderam mobilizar tantas coisas com as parcas possibilidades que tiveram, cada uma com seu temperamento e trajetória. E fico pensando: qual o futuro é possível plantar agora? Para que um artista negro possa viver a experiência de exercer a sua arte como ofício, é preciso suporte e rede”, reflete.
Produzir “Ruth & Léa” é, para além de trazer à baila a história de duas grandes damas do teatro nacional, um resgate e a afirmação do lugar do artista preto na construção da identidade cultural do Brasil. “Há ainda muitas e muitas histórias a serem contadas, porque nós ficamos silenciados durante muito tempo”, diz o diretor e idealizador do espetáculo Luiz Antônio Pilar. Dione Carlos, dramaturga da peça, endossa o diretor e afirma que “fazer esta peça envolve reparação e ocupação histórica de um legado do qual somos herdeiras e herdeiros”.
Bate-papo
No dia 16/08, sábado, após a segunda sessão da temporada de Ruth & Léa, Luiz Antônio Pilar, diretor do espetáculo, e as atrizes Bárbara Reis e Ivy Souza conversarão com o público sobre a montagem, curiosidades e sobre a pesquisa envolvida na produção do projeto. “A nossa peça fala, homenageia e mostra outros atores e atrizes que vieram antes do Teatro Experimental do Negro, o TEN. Como filosofia, o nosso espetáculo defende o conceito de legado, não o da primazia”, explica o diretor. Nesse sentido, o bate-papo levará para o público uma análise da obra dessas atrizes em conversa com o que está acontecendo hoje. “Não deixamos de sinalar, em cena, neste período em que o Brasil vibrou com a vitória de um filme no Oscar, que as duas, Ruth e Léa, foram as primeiras atrizes brasileiras a serem indicadas para um prêmio internacional de cinema. Ruth em Veneza, por sua interpretação no filme ‘Sinhá Moça’; Léa em Cannes, pelo filme ‘Orfeu Negro'”, afirma.
Ficha Técnica
Idealização, Direção Artística e Direção de Produção: Luiz Antônio Pilar
Dramaturgia: Dione Carlos
Direção Musical: Wladimir Pinheiro
Elenco Principal: Atrizes -Barbara Reis e Ivy Souza
Intérprete Musical: Gláucia Negreiros
Produção Executiva: Beatriz Dubiella
Produção Local: Liliane Souza
Direção de Movimento: Tatyane Amparo
Preparação Vocal: Pedro Lima
Assistente de Direção Mozart Jardim
Iluminação Gustavø e Marcelo Andrade
Operador e Técnico de Luz Edgard Dedig
Operador de Câmera: Guilherme Coelho
Designer de Som: Vilson Almeida e Denis Méier
Operador e Técnico de Som e Multimídias: Danuza Formentini
Cenografia: Lorena Lima
Cenotécnica: Tita Marçal
Figurinista: Rute Alves
Assistente de Figurinista: Luciano Jardim
Consultoria de Figurino: Tarcísio Zanon
Alfaiate: Renato Nascimento
Costureiras: Vânia Rosa e Jana Rangel
Visagista: Alex Palmeira
Contrarregra: Sandro Carvalho
Contrarregra e Microfonista: Feliphe Afonso
Designer Gráfico: Pedro Conteiro Pessanha
Coordenador de Mídias para Internet: Mozart Jardim
Consultor de Acessibilidade: Jadson Abraão da Silva
Intérprete de Libras: JDL Traduções
Audiodescrição: Plena Produções e Acessibilidade LTDA
Assessoria de Imprensa local: Camila de Ávila
CIRCUITO LIBERDADE
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
Ruth & Léa
Data: de 15/8 a 01/09, de sexta a segunda
Horário: 21h
Duração: 80 min
Local: Teatro I do CCBBBH – Praça da Liberdade, 450 – Funcionários
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH.
Classificação indicativa: 12 anos
Bate-papo com Luiz Antônio Pilar, Bárbara Reis e Ivy Souza
Data: 16/08/25, sábado, após o espetáculo
Classificação: 12 anos
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