O que não pode faltar na ceia de Natal dos chefs

Quando dezembro chega, cada cozinheiro tem seu próprio mapa afetivo do que significa sentar à mesa no dia 24. Não importa quantas técnicas dominem, quantas viagens tenham feito ou quantas cartas de restaurantes tenham assinado: na hora da ceia, todos voltam para casa. Para as lembranças. Para os sabores que carregam histórias.

Na Casa Azeite, a chef Amanda Ferreira abraça sem reservas a tradição. Para ela, Natal tem gosto de frango assado, farofa, salpicão com maçã e sobremesas clássicas, como rabanada e pavê — sem espaço para a piada óbvia que sempre aparece no fim da mesa. Muita gente espera que ela crie algo novo para a data, mas seu desejo é outro: reviver a comida de mãe e de avó, aquela que conforta e sustenta a família por dias.

No Tom, Ana Clara Valadares não hesita: a farofa é o centro gravitacional da sua ceia. Qualquer farofa, desde que saborosa, capaz de se transformar em refeição por si só. É ela quem costura os sabores da noite, unindo o salpicão, o arroz, as carnes e até o caldinho. Um elo silencioso, mas indispensável.

Para Ornella Matos, do Gabo, o trio perfeito reúne pernil assado, um cuscuz bem natalino com amêndoas tostadas, passas e bastante verdinho, além de um salpicão cremoso. A combinação equilibra tradição e leveza, trazendo o sabor das reuniões em família, a textura festiva do cuscuz e o conforto doce do salpicão. São pratos que, para ela, traduzem acolhimento e a alegria que acompanha a data.

Na Cozinha Santo Antônio, Ju Duarte retorna a um rito familiar que atravessa gerações: o peru. Ela lembra da época em que o peru chegava vivo, e a casa inteira se envolvia no preparo. Seu pai cuidava do tempero, mergulhava a ave em uma lata de arroz e, até o momento de virar o peru de madrugada, a família e os vizinhos permaneciam acordados, transformando o processo em celebração. Hoje, Ju mantém o ritual vivo com um peru suculento e acompanhamentos atualizados, porque para ela Natal sem peru simplesmente não é Natal.

Na Casa da Agnes, a memória ganha forma no tender defumado com fio de ovos e na sopa dourada, uma rabanada cozida em calda de açúcar. São receitas que atravessam sua família: o tender era o favorito do pai da chef Agnes Farkasvolgyi, enquanto a sopa dourada é um legado querido de sua avó. Ambos estão no menu especial criado pela chef para as encomendas de ceia deste ano, como forma de manter essa herança viva na mesa de outras famílias também.

No Casulo, Marina Leite guarda para o Natal algo que ultrapassa o prato em si: a partilha. Cresceu em uma família que se reunia em torno da mesa para comer bem e conversar ainda melhor, marcada pela cozinha generosa de sua avó libanesa, que transitava entre receitas árabes, baianas e mineiras com a mesma naturalidade com que reunia todos à sua volta. Depois que ela se foi, a ceia passou a ser responsabilidade coletiva. Cada um leva um prato e, juntos, formam uma mesa que é quase um retrato da pluralidade brasileira. Tem o gravlax do tio Dudu, a salada do André, o pão de centeio do Gui, o pernil de cordeiro do Tom, a farofa ou o cuscuz do tio Pá, a torta de morango da Kátia e o tiramisù da Clarice. Para Marina, essa soma de mãos, sabores e origens é o que define a noite de Natal: uma celebração farta, diversa e saborosa, que traduz com precisão o espírito da data no Brasil.

Em comum, todas essas escolhas revelam que, quando o ano chega ao fim, os chefs trocam a busca pelo novo pela força das tradições que os formaram. É nesse retorno íntimo — e cheio de sabor — que mora o verdadeiro espírito da ceia.

Cozinha Santo Antônio
Rua São Domingos do Prata, 453 – Santo Antônio, Belo Horizonte
Funcionamento:
Terça a sexta, das 12h às 15h
Sábados, domingos e feriados, das 12h30 às 17h
Quintas e sextas, das 19h às 23h@cozinhasantoantonio

A Casa da Agnes
Rua Paulo Afonso, 833 – Santo Antônio, Belo Horizonte
Almoços: terça a sábado, de 12h às 15h
Eventos fechados para até 60 pessoas
Informações e delivery: (31) 98738-7066
@acasadaagnes

Casa Azeite
Rua José Pedro Drumond, 56 – Floresta – Belo Horizonte – MG
Capacidade: 80 lugares
Funcionamento: terça a sexta, 18h30 às 23h; sábado, 16h30 às 23h (cozinha encerra 30 min antes)
Instagram: @casa.azeite
WhatsApp: (31) 99248-5993 

Gabo
Avenida Cristóvão Colombo, 336, Savassi, Belo Horizonte
Terça e quarta, das 18h às 23h
Quinta e sexta, das 18h à meia-noite
Sábado, das 12h à meia-noite
@casa.gabo.bh 

TOM
Horários: quarta, quinta e sexta das 18h30 à 0h; sexta-feira: 12h às 16h, sábado das 12h às 0h; domingo das 12h às 17h
Endereço: Av. Amazonas, 1049 – loja 70 – Centro, Belo Horizonte
Instagram: @tomcozinha 

Casulo – Restaurante e experiências
Rua Olhos d’Água, 01 – Lapinha da Serra, Santana do Riacho
Funcionamento: terça a domingo
Última sessão do menu Lapinha Memória Viva: 20 de dezembro, às 15h
Reservas e informações: (31) 98408-0368 | casulolapinhadaserra@gmail.com
Instagram: @casulolapinhadaserra