MAMU (Morro Arte Mural) realiza intervenção/pintura no Canão – 5 a 7/9

 Estrutura da Copasa que abastece Belo Horizonte, o Canão será palco da nova intervenção do projeto

O MAMU (Morro Arte Mural), projeto de arte em Minas Gerais que transforma fachadas de casas em um macro mural no Aglomerado da Serra, maior favela da capital mineira, chega com uma programação em um dos pontos mais emblemáticos do Aglomerado da Serra. Nos dias 5, 6 e 7 de setembro de 2025, artistas da comunidade realizam uma intervenção no Canão, localizado na Avenida Mem de Sá, próximo ao número 1806. Considerado símbolo do território, o Canão é marcado pelas águas que alimentam e sustentam Belo Horizonte, sendo visto também como um portal que delimita o Aglomerado em relação à cidade. Além de sua força simbólica, tornou-se um dos principais pontos de referência para moradores e visitantes. 

A pintura do Canão, atividade de intervenção artística patrocinada pela Cemig e pelo Governo de Minas Gerais, integra uma programação cultural intensa que o MAMU (Morro Arte Mural),  programou para acontecer no Aglomerado da Serra, desde domingo dia 31 de agosto com uma caminhada ecológica que fez o resgate da memória e da história das águas do Aglomerado. A grade de atividades conta ainda com oficina de pintura para crianças com Raquel Bolinho, apresentação do grupo de teatro Coletivandu e muito mais.

Na prática, o Canão é uma tubulação de grande diâmetro da Copasa que leva água da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Rio das Velhas até o reservatório de água no Bairro São Lucas. Essa tubulação que tecnicamente é chamada de adutora tem o objetivo principal de garantir o transporte eficiente e a distribuição da água segura para consumo para diferentes locais, assegurando que o volume e a qualidade da água cheguem aos consumidores. 

“A água que passa no Canão abastece grande parte dos moradores da capital, contudo, o Canão tem uma simbologia bem mais significativa, emblemática e mística para os moradores do território. Ele é considerado um portal espiritual, energético e dimensional, uma passagem para outra realidade da cidade, um portão de entrada para o Aglomerado da Serra, local marcado por sua forte resistência artística e diversidade, com expressões como samba, pagode, capoeira, funk e soul, que o tornam uma espécie de “caldeirão cultural”, conta a diretora criativa do MAMU, Fatini Forbeck. 

Para quem mora mais no início do Aglomerado com entrada pela avenida Mem de Sá, o Canão também é um ponto de referência do local e serve para os moradores se situarem. “Normalmente o morador diz: “eu moro antes ou depois do Canão”, esclarece Fatini. Assim, ele se tornou um ícone para a orientação espacial, comunicação e formação da identidade local, pois facilita a navegação e ajuda a encontrar lugares específicos. Tornou-se também uma referência visual para pessoas que não conhecem o local e possui um significado cultural ou histórico para a comunidade. “E é importante a gente lembrar que o Canão é muito visto, relembrado e rememorado, por exemplo, na época que tem grande fluxo na Quebrada, como no Carnaval, quando o Bloco Seu Vizinho passa por baixo dele; e agora o bloco do WS da Igrejinha também faz o mesmo. Ele está localizado próximo a uma das águas da Serra, então acho que não há nada mais próspero do que presentear o Serrão também com a pintura do Canão.  O MAMU vai colorir ainda mais o cotidiano dos moradores da comunidade”, complementa. 

Conheça o MAMU (Morro Arte Mural) no Aglomerado da Serra 

O MAMU (Morro Arte Mural) deu início a obra de arte urbana no Aglomerado da Serra, na segunda-feira, dia 18 de agosto. A escolha da Serra não foi aleatória, e sim estratégica, simbólica e conectada com a cidade. “O Aglomerado da Serra é um dos territórios mais vivos, com potência cultural em constante ebulição, importante polo econômico e grande referência de produção artística periférica”, contextualiza Juliana Flores, diretora artística e curadora do projeto. 

Ao chegar no território, a equipe do MAMU se colocou em escuta ativa, e a partir desse contato emergiu o tema “Águas da Serra”, uma resposta sensível às demandas da comunidade. Um lugar que revelou urgência em preservar os mananciais que cortam o morro e que não só contribuem para o abastecimento da região, mas desempenham papel fundamental no fornecimento hídrico de toda a capital mineira. 

Embora a região do Aglomerado da Serra seja dividida oficialmente pelos registros municipais como Vilas Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Santana do Cafezal, Fazendinha, Chácara, Marçola e Novo São Lucas, “a população divide o território como as três águas”, e enfatiza a importância que esses mananciais tem para a história local “antigamente cada água tinha um propósito. Uma era pra lavar a roupa, outra era pra beber e fazer comida, tomar banho e por aí vai. Antigamente não havia água encanada e/ou tratada. A gente subia com as latas na cabeça e depois enchia os galões de água.”, conta Maria Conceição da Costa, moradora e filha de Dalila Monteiro uma das maiores lideranças do Aglomerado.  

Nesta edição, o MAMU mergulha neste tema evocando os fluxos vitais que atravessam o Aglomerado da Serra e sua importância simbólica, histórica e ecológica para Belo Horizonte. “Em uma cidade que cresceu muitas vezes de costas para seus rios e córregos, o projeto propõe um reencontro poético, cultural e político com suas águas originárias. Mais do que recursos naturais, essas águas carregam as memórias de um território profundamente conectado com o meio ambiente”, explica Juliana.

Ela ressalta ainda que durante as escutas com os moradores, muitos dividiram com a equipe detalhes interessantes de como a água se manifesta de forma singular: no nome da Rua da Água, onde pulsa um dos maiores baile funk da cidade; nas trilhas que revelam córregos e quedas d’água preservadas entre as encostas; e nos desafios de acesso que ainda marcam parte do território, com períodos recorrentes de escassez. “O tema “Águas da Serra” busca, assim, ativar a escuta e o olhar sobre essas águas visíveis e invisíveis, celebrando sua força e convocando a imaginação coletiva para sua proteção”, complementa.

Comunidade é protagonista – Um dos pilares centrais do MAMU é a valorização da comunidade local. Ao contrário de outros anos, nesta edição, todos os detalhes foram pensados para tornar os moradores do local os maiores apreciadores do projeto. O principal exemplo dessa mudança de conceito é a disposição do macro mural, que em outras edições privilegiou a vista de quem passa por grandes avenidas da cidade como na Avenida dos Andradas, com a primeira edição do macro mural do Alto Vera Cruz em 2018; avenida Antônio Carlos, na Vila Nova Cachoeirinha em 2022; e avenida Senhora do Carmo, no Morro do Papagaio, com a terceira edição em 2024. Em 2025, o macro mural terá vista da Praça do Cardoso, privilegiando a própria comunidade e quem passa pela famosa Avenida Cardoso, via que dá acesso à Praça. Além desses pontos, o MAMU continuou priorizando contratações e fornecedores, já que 50% dos envolvidos são do Aglomerado da Serra, fomentando o desenvolvimento social e econômico, que vão de produtores a artistas locais.

A participação local é amplamente reforçada durante toda execução. Tal como as casas formam um grande mural, a comunidade, em coletivo, se transforma em uma grande equipe. São eles que decidem como e o que será feito. O protagonismo começa quando o morador avalia a proposta e assina o termo de aprovação, passando pela articulação com os vizinhos, a mobilização, as reuniões da equipe com a comunidade, as ideias para a comunicação do projeto, o fortalecimento da proposta com outros atores do território, no cafezinho que alimenta quem está ali preparando a base para a chegada do desenho e na programação artística que complementa todo o período do processo de pintura. 

Desafios – A topografia do Aglomerado da Serra é marcada por encostas íngremes, morros e declives acentuados, e tornam complexa a instalação de estruturas como andaimes. Essa geografia acentuada que torna única e vibrante a paisagem da comunidade, impôs limites técnicos à expansão do macro mural, antes projetada para ser a maior de todas as edições com 40 residências pintadas, provocou ainda mais a ousadia e a criatividade da equipe na adaptação ao relevo, contemplando 34 casas dentro do layout. Segundo Bruna Pardini, diretora de produção do MAMU, “transformar o terreno em um aliado, mesmo com os obstáculos, tornou-se parte do legado do projeto”.

Jorge dos Anjos – O desenho foi criado por Jorge dos Anjos, um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira. O artista que cursou Artes Plásticas na Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP) é reconhecido como Mestre do Notório Saber pela UFMG e enriqueceu o cenário mineiro com suas esculturas. Uma de suas obras está presente na Lagoa da Pampulha. Escultor e desenhista nascido em Ouro Preto (MG), com trajetória iniciada nos anos 1970, sua produção transita entre escultura, desenho, pintura e instalações, explorando o corpo, a espiritualidade e a ancestralidade afro-brasileira. Sua obra marca presença em importantes coleções e espaços públicos do Brasil, com destaque para os painéis e esculturas instaladas em Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. Jorge é reconhecido por incorporar materiais diversos como ferro, madeira e cobre, em trabalhos que dialogam com religiosidade, identidade negra e o imaginário coletivo brasileiro.

Legado – Macro murais são obras de arte de grande escala, geralmente pintadas em fachadas de prédios ou casas, que quando observadas de longe, formam uma imagem maior e mais complexa. No caso do MAMU, as casas de comunidades são a “tela” para a pintura, criando um mosaico gigante que pode ser apreciado de diferentes pontos de vista.

Em Belo Horizonte, o projeto já passou por três localidades. O bairro Alto Vera Cruz, localizado na região leste de Belo Horizonte, foi o primeiro a entrar para o mapa da arte urbana com um mural composto por pinturas em 41 casas. A criação dos desenhos ficou sob responsabilidade da dupla Cosmic Boys, composta pelo paulista Zéh Palito e o paranaense Rimon Guimarães. Ao todo, o trabalho foi desenvolvido em 25 dias e o resultado é um painel vibrante, com a mistura de cores característica da produção de Palito e Guimarães. A marca cromática dos artistas não apaga o tom colaborativo da obra, com moradores e outros profissionais contratados que atuaram em diferentes frentes, como no reboco das casas, na montagem dos andaimes, na pintura e finalização com verniz.

Vila Nova Cachoeirinha – Quem passa pela avenida Antônio Carlos, na região Noroeste de Belo Horizonte, consegue visualizar o mural, que foi pintado em casas da Vila Nova Cachoeirinha, local que fica ao lado da avenida Américo Vespúcio.  Por trás desse trabalho está a artista belo-horizontina Criola, um dos maiores nomes do graffiti no Brasil, que tem um reconhecimento internacional. O mural possui cores vivas e formas geométricas, e transformou o ir e vir da avenida Antônio Carlos mais bonito, tanto para os moradores da comunidade, quanto para os motoristas e passageiros que trafegam pela região.

Série “Brasões – Na terceira edição do MAMU – Morro Arte Mural, 40 casas do Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, receberam um macro mural da artista capixaba Kika Carvalho, inspirado na série Brasões. A obra preenche a vila com imagens de pipas que remetem a símbolos afro-diaspóricos, em diálogo com a cultura local e o cotidiano de crianças e jovens que empinam pipas na região. 

Intervenção/Pintura no Canão /MAMU (Morro Arte Mural)

Data:  Sexta, sábado e domingo, dias 5, 6 e 7 de setembro

Horário: a partir das 9h 
Local: Avenida Mem de Sá, próximo ao número 1806