Famoso pela grandiosidade de suas esculturas, o artista mineiro revisita suas origens na pintura, no desenho e na gravura em sua parceria com o MAMU.
O pintor, escultor e desenhista, Jorge Luiz dos Anjos, um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, é o artista convidado para a 4ª edição do MAMU – Morro Arte Mural, que acontece no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Nesta edição, Jorge é o artista que assina o macro mural que será pintado nas fachadas de casas do território. Com o tema “Águas da Serra”, o projeto evoca os fluxos vitais que atravessam a região destacando sua relevância simbólica, histórica e ecológica para a cidade.
O convite ao artista surgiu de uma vontade de conectar a potência artística, cultural e territorial do Aglomerado da Serra a um artista mineiro e de projeção internacional. Para Juliana Flores, diretora artística e curadora do MAMU, Jorge representa esse desejo. “Eu buscava um artista que fosse local, que pudesse se conectar verdadeiramente com o território e traduzir essa escuta em arte. Não queria apenas um artista que viesse realizar a pintura e fosse embora. Por isso, Jorge dos Anjos foi considerado ideal para elevar o nome da Serra além das montanhas mineiras”, explica.
Durante a escuta comunitária e imersão no território, a equipe do MAMU captou uma importante revelação: a memória dos ‘antigos’, dos moradores mais velhos, guardiões da história da Serra e suas águas que alimentaram o início da urbanização do território. E essa percepção impactou diretamente na escolha de um artista cuja trajetória dialogasse com essa ancestralidade e a proteção da arte mineira contemporânea. Jorge, com toda sua experiência e sensibilidade, foi uma escolha natural: seu traço, sua visão artística e suas cores se alinham à ideia do projeto que é de valorizar a ancestralidade, contar a história viva da comunidade e projetar arte para o mundo. “Tenho certeza que o resultado será lindíssimo, acredito que os moradores da Serra merecem ter uma grande obra de um grande artista em seu meio, e esse momento chegou”, ressalta.
Natural de Ouro Preto (MG), Jorge estudou na Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP) nos anos 1970, onde conviveu com Nuno Mello, Ana Amélia e Amilcar de Castro. Sua produção transita entre escultura, desenho, pintura e instalações, dialogando com o corpo, a espiritualidade e a ancestralidade afro-brasileira. É reconhecido por obras instaladas em espaços públicos do Brasil, com destaque para o Portal da Memória, localizado na Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte; e painéis e esculturas instaladas também em Brumadinho, Salvador e São Paulo. Além disso, é Mestre do Notório Saber pela UFMG.
Mesmo com o destaque na escultura, Jorge dos Anjos nunca abandonou a pintura. “Comecei pintando com meu pai aos sete anos. Foi o desenho que abriu meu caminho para a arte. Agora volto à pintura com o mesmo entusiasmo”, afirma. Em sua juventude, pintava operários da fábrica de alumínio vizinha à sua casa, o que lhe rendeu os primeiros prêmios e a venda de suas primeiras obras ainda adolescente.
Sua paixão por grandes painéis artísticos vem de longa data. Estudou muralismo mexicano e se inspirou em artistas como como Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros. Recentemente, se impressionou com o mural criado por Criola, artista da segunda edição do MAMU, na Vila Nova Cachoeirinha. “Eu vi a obra dela e pensei: será que um dia vou pintar algo assim?”. A resposta chega agora. Para o artista, o macro mural do Aglomerado da Serra é uma convergência de arte, memória e pertencimento. “Minha linguagem é coletiva. Eu tiro inspiração da ancestralidade, da cultura, da religião, da minha infância. Minha arte pertence às pessoas, ao espaço público. O meu grande desejo é que minhas obras fiquem na rua. Eu faço esculturas para colocar nas praças e avenidas. Eu quero ver que as pessoas estão em contato com ela, por isso que eu quero que minhas obras estejam onde o povo está”, explica.
Para ele, fazer arte para expor em espaços urbanos é mais gratificante do que estar em museus. “O mural do MAMU vai me dar essa alegria. É uma pintura para e com o povo”, ressalta.
Jorge reconhece no Aglomerado da Serra um espelho de sua história. “Nasci numa vila operária, cresci vendo meu pai trabalhar na fábrica, ouvindo samba, respirando a periferia. Quando ando pelas ruas do Serrão, vejo minha infância. Podia ter nascido ali. Essa conexão é real.”, completa.
O MAMU é uma iniciativa viabilizada por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, com patrocínio da CEMIG – parceira do projeto desde a primeira edição – e do Governo de Minas Gerais, além da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte via Banco BS2.
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