Álbum reúne canções autorais, marcadas por percussões, guitarras, naipes de metais e reverências ao congado e ao candomblé, incluindo parcerias com Sérgio Pererê e releitura inédita do pai, Maurício Tizumba; show de estreia será no dia 26/9, em BH
Com mais de 20 anos de uma carreira que entrelaça os ofícios de atriz, cantora, compositora, percussionista e escritora, Júlia Tizumba inaugura sua discografia autoral com “Minêra” (2025). Grafado como se fala, em referência às liturgias do sotaque característico de Minas Gerais, o disco nasce como um canto de pertencimento e um documento de ancestralidade, através da celebração da força feminina e da afirmação de uma cena musical afro-mineira vibrante. Minêra tem patrocínio do Instituto Unimed-BH, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e produção da Napele Produções Artísticas. A entrada para o evento é gratuita, sem retirada de ingressos.
Com produção de Acauã Ranne e estrelado pela Banda Gloriosa — formada por parte da nata da cena musical contemporânea mineira — o show de estreia do álbum acontece no próximo dia 26/9, no Teatro Francisco Nunes. Os ingressos poderão ser retirados na bilheteria do teatro com uma hora de antecedência. Antes, o público poderá conferir um show/ensaio gratuito, no qual será apresentado parte do repertório do disco, no Centro Cultural Vila Santa Rita, no dia 24/9.
“Minêra” reflete o amadurecimento de uma artista consagrada em espetáculos teatrais e referência à frente de tambores, composições e didáticas percussivas. Mas também é uma celebração de uma cultura secular, dos quilombos aos Reinados. A ideia do disco surgiu em 2022, após Júlia apresentar, em seu primeiro show solo, no Minas Tênis Clube, canções importantes em sua trajetória, interpretando de Sérgio Pererê a Milton Nascimento.
“Na minha vida e na minha carreira, me dediquei muito ao teatro musical brasileiro, ao mestrado, doutorado, fiz livro, fiz filhas… Até que recebi um convite pra fazer um show solo. E foi tão gostoso que nasceu o desejo de fazer o disco”, diz Júlia. “Posso dizer que o álbum ‘Minêra’ sou eu — mulher negra, nascida em Minas Gerais, candomblecista, reinadeira, mãe e filha — e, ao mesmo tempo, um gesto coletivo de celebração da cultura afro-mineira”, completa a artista.
MPB afrocentrada com sotaque mineiro
Na sonoridade, “Minêra” apresenta o que Júlia Tizumba chama de “MPB afrocentrada com sotaque mineiro”. Uma trama que evoca o afrobeat e o congado, por meio dos tambores e guitarras em constante diálogo, mas também se abre para a música pop, a música baiana, as percussões do Carnaval de rua e o sound system, sob a influência de artistas reconhecidos por ampliarem o alcance das sonoridades afro-brasileiras, como Tambolelê, Nação Zumbi e Berimbrown, por exemplo.
O disco é estruturado em 10 faixas que transitam entre canções autorais de Júlia Tizumba e de outros compositores mineiros, como Sérgio Pererê, Leri Faria e o pai da artista, Maurício Tizumba. Mas a força de “Minêra” definitivamente está na narrativa própria de Júlia Tizumba, ancorada pela Banda Gloriosa, formada integralmente por músicos de Minas.
Banda Gloriosa
Batizada em referência ao bairro Glória, em Belo Horizonte, onde a maioria dos músicos têm origem, a Banda Gloriosa é uma família musical, composta por amigos que atravessam gerações e projetos coletivos, como os Grupos Tambolelê e Tambor Mineiro — duas das principais referências dedicadas à percussão afro-brasileira em Minas Gerais.
Entre eles, estão Acauã Ranne (direção musical, arranjos e multi-instrumentação), referência na produção de música afro-brasileira contemporânea; Juventino Dias (trompete), um dos fundadores do Bloco Chama o Síndico e da Orquestra Babadan Banda de Rua; Leonardo Brasilino (trompete), um dos nomes mais requisitados dos metais no Brasil, acumulando participações com Gilberto Gil e Milton Nascimento; além dos craques das percussões, Débora Costa e Daniel Guedes, e do baixista Brunno.
“Essa união com a Gloriosa é mesmo como a união de uma família e celebra também uma amizade que atravessa gerações. Eu e Acauã, por exemplo: nossos pais são amigos, nossas famílias de sangue são parceiras e nós dois, felizmente, seguimos essa conexão e afinidade artística e pessoal”, avalia Júlia.
Heranças e parcerias
Junto à sonoridade potente, a escrita de Júlia mistura imagens íntimas de mulheres (filhas, mães, avós) e valoriza os ritos coletivos (irmandades, reinados, lendas e saberes), produzindo um relicário da cultura negra em som e poesia.
“Minhas músicas tratam muito do universo negro feminino, trazem muito da minha história, da minha ancestralidade, das lutas que eu acredito, dos meus amores, da minha espiritualidade. Tem música em homenagem à minha avó paterna, à minha mãe, às minhas duas filhas, a Minas Gerais… E acredito que o que atravessa a minha história ressoa com a existência de muitas outras mulheres negras”, adianta Júlia.
“Kizalelu” aparece como a joia mais íntima do repertório: primeira música composta por Júlia, em 2011, a faixa homenageia sua avó paterna. “Alodê Iara”, por sua vez, mergulha nas águas da mitologia afro-indígena, evocando os cantos de Iara como representação das inspirações femininas retratadas no disco.
Já a releitura de “Sá Rainha”, clássico de Maurício Tizumba popularizado como uma ode à liberdade, gravado originalmente pela cantora Titane, no álbum “Sá Rainha” (200), é um dos pontos altos do álbum: uma interpretação enérgica de Júlia Tizumba, em um diálogo vivo com a trajetória do pai e com a tradição da oratório do Reinado.
Em outra ponte direta com as matrizes africanas, “Mama Okê”, do compositor Leri Faria, combina linhas jazzísticas de trompete com versos que pedem a Oxum para levar a dor embora, a partir do poético encontro do rio com o mar: “Essa água que lava o meu corpo / lá no rio vai parar / o rio que tudo carrega / carrega minha dor para o mar”.
Na mesma linha, “Herança” tem a participação da Irmandade Os Ciríacos — um dos mais antigos e importantes berços da cultura popular afro-mineira, fundado em 1953, em Contagem, na região metropolitana da capital — e ainda conta com as vozes de Rosa Moreira e Jane Moreira, sinalizando o compromisso do disco com os laços comunitários.
O arremate do álbum, com “Estrela Guia”, releitura de Sérgio Pererê, funciona como epílogo espiritual, e coloca Júlia Tizumba como porta-voz de uma tradição que a artista segue antes mesmo de nascer — e continua se renovando cotidianamente.
“Frequento os terreiros de candomblé e congado desde a barriga da minha mãe. Não há como separar a minha existência e a minha criação artística destas manifestações. Elas sempre estão presentes, explícita ou implicitamente. São a minha força, a minha base, a minha raiz e a minha verdade”, ressalta Júlia.
Gravações e shows
“Minêra” foi inteiramente gravado no Estúdio Engenho, em Belo Horizonte, em uma imersão criativa de duas semanas, sob a batuta de André Cabelo, responsável pela engenharia de som, gravação, mixagem e masterização.
Segundo Júlia, o álbum nasceu com “cara de ao vivo”: os arranjos de Acauã Ranne preservam a aura festiva e orgânica da sonoridade, e a transposição para os palcos será espontânea — uma celebração dos 20 anos de trajetória da artista, da amizade entre os músicos e da riquíssima cultura afro-mineira.
“Buscamos uma forma de gravar que deixasse transparecer esse calor, pois o álbum nasce do show, não o contrário. E queríamos muito preservar isso. Sinto que estou em um momento bonito da minha carreira. Com algum caminho já trilhado, boas colheitas e ainda muito o que construir e aprender”, completa a artista.
Júlia Tizumba
Júlia Tizumba é nascida em Belo Horizonte, formada no Teatro Universitário e Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Também formada em Jornalismo pela PUC Minas, é cantora, percussionista e professora. Começou seus estudos artísticos aos 10 anos de idade. É atriz da Companhia Burlantins, co-fundadora do Coletivo Negras Autoras, no qual atua como compositora, instrumentista e curadora.
Também é regente e ministra aulas de percussão na Associação Cultural Tambor Mineiro. Em seus 20 anos de carreira, integrou o elenco de 13 espetáculos de Teatro Musical Brasileiro, dentre eles o premiado musical “Elza”. Ao longo de sua trajetória artística, se apresentou em países como Argentina, EUA (New Orleans), Bangladesh, Portugal, França, Inglaterra, Senegal e em diversas cidades do Brasil.
Em 2021, publicou o livro “Maurício Tizumba: caras e caretas de um Teatro Negro Performativo” e lançou o single: “Mãe na Pandemia”. Em 2025, celebra suas duas décadas de carreira com a gravação e lançamento de seu primeiro disco em carreira solo: “Minêra”.
Instituto Unimed-BH
O Instituto Unimed-BH completou 22 anos em 2025 e conta com o apoio de mais de 5,7 mil médicos cooperados e colaboradores da Unimed-BH. A associação sem fins lucrativos foi criada em 2003 e, desde então, desenvolve projetos socioculturais e socioambientais visando à formação da cidadania, estimulando o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, fomentando a economia criativa, gerando trabalho e renda para diversas famílias, valorizando espaços públicos e o meio ambiente, através de projetos patrocinados, apoiados e realizados em cinco linhas de atuação: Comunidade, Voluntariado, Meio Ambiente, Adoção de Espaços Públicos e Cultura, que estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
Júlia Tizumba apresenta show de estreia do álbum “Minêra”
Quando. 26/9 (sexta-feira), às20h
Onde. Teatro Francisco Nunes (Av. Afonso Pena, 1.321 – Centro)
Quanto. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados na bilheteria
do teatro uma hora antes do show
Show/ensaio do disco “Minêra”
Quando. 25/9 (quinta-feira), às 19h
Onde. Centro Cultural Vila Santa Rita
(Rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita)
Quanto. Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço
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