Bloco Afro Magia Negra anuncia o conceito que levará para as ruas em 2024 – 14/02

O Bloco Afro Magia Negra, que promove a afrobetização por meio da arte e cultura negra com o intuito de desfazer feitiços racistas, anuncia que levará o conceito do Màrìwò para o arrastão deste ano. A celebração de abertura do Arrastão Màrìwò, na quarta-feira de cinzas (14/02) no bairro Concórdia, em Belo Horizonte, deverá ser o maior carnaval do Magia Negra. O Bloco Afro também homenageia o Mestre Ferreiro, Jorge dos Anjos, Ouropretano, considerado um dos maiores artistas plásticos do Brasil

Màrìwò é a folha do dendezeiro e para os candomblecistas possui a função de delimitar o território dimensional de várias particularidades dos rituais. Por isso, está sempre presentes nas portas e nas janelas dos terreiros de candomblé. Além da proteção, a presença da folha significa a identificação como espaço como dimensão dos deuses africanos. Com uma missão de não deixar nenhum mal chegar, colocar para fora as energias negativas e proteger os filhos e filhas de deuses africanos, o Màrìwò é utilizado desfiado, nas portas e janelas das casas de Candomblé. É um termo masculino por ser uma planta principal ligada ao orixá Ogum.

“As plantas são tão fundamentais e imprescindíveis aos rituais no Candomblé, tanto que os candomblecistas acreditam que sem folha, não há orixá (Kò sí ewé, kò sí òrìsà”). São elas que alimentam a vida, traduzem a história e dão movimento às corporalidades do corpo em dança e nas celebrações ritualísticas. Por isso, o Màrìwò foi escolhido para ser tema do Bloco Afro Magia Negra neste ano. É ela que vai ditar os passos do nosso arrastão”, explica Marcos Cardoso, historiador, filósofo e diretor de assuntos afro globais do Magia Negra. 

Roupa de Ogum e árvore primordial – O Màrìwò está conectado às corporalidades de Ogum (Ògún na cultura yorubá), o cientista criador de ferramentas e o “Deus que Guerra pela paz”, guerreiro implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protetor dos ferreiros, agricultores, caçadores. A ira é uma das características do Deus da Guerra e por isso sempre que Ogum chegava de suas batalhas coberto de sangue e raivoso, Obatalá para abrandar a ira de Ogum desfiava uma folha de Màrìwò e vestia Ogum com ela e, a partir desse dia, o Màrìwò passou a ser uma da roupa de Ogum. Por isso foi vetado a Obatalá beber do seu sumo, pois estaria bebendo, simbolicamente, o próprio sangue. 

Ogum, também, está ligado ao culto das árvores. A árvore do qual se extrai o Màrìwò, o dendezeiro pertence aos orixás da criação, chamados Funfun. Portanto, o Igi Òpè, nome iorubano do dendezeiro, é uma árvore primordial, já existia quando Obatalá e Oduduwa criaram o Aiyê (a Terra) e os seres humanos. Para os candomblecistas, o dendezeiro (Igi Òpè) é a essência dos orixás da criação. 

Bloco Afro Magia Negra– Criado em 2013 pelo artista plural Camilo Gan, o Bloco Afro Magia Negra reúne pessoas comprometidas com o enfrentamento ao preconceito étnico-racial relacionado ao povo negro. O principal objetivo do bloco é promover a afrobetização por meio da arte e cultura negra, com o intuito de desfazer feitiços racistas. O bloco tem como mascote e inspiração a formiga, um dos seres que possuem o mais alto grau de organização social do mundo animal, e que tem consciência de que sozinhas não são nada, mas, embora muito pequenas, junto com sua comunidade podem exercer força poderosíssima. 

Atualmente a banda de rua do Bloco é composta por 80 membros divididos entre músicos dos tambores, instrumentistas de sopros, dançarinas e dançarinos. Ela se manifesta por meio de um ritual designer, trazendo elementos característicos do segmento de blocos afros. Que vem envolvendo e arrastando o público em cortejos, por meio de toques de tambores ancestrais, clarins, dança, água de cheiro (aromas) e banho de pipoca (saúde e sabores). 

A banda de palco foi criada em 2015 e apresenta uma feijoada sonora, trazendo um repertório autoral, e de outros artistas negros consagrados no passado, e no presente da cena atual. O estilo musical da banda de palco do magia, é batizada e denominada por Camilo Gan de Aiyê Vision, que tem como característica misturar diversos gêneros da música Negra Mundial, primando por uma construção performática, fundamentada em produzir chaves sonoras, timbres e frequências direcionadas em efervescer a química para a ativação da melanina. A poética é composta de letras de combate ao racismo, que simultaneamente exaltam as tecnologias dimensionais e arquétipos dos deuses africanos e encantados do Brasil.

O que é : Desfile do Bloco Magia Negra 

Quando: Quarta-feira, dia 14 de fevereiro

Onde: Bairro Concórdia

Entrada gratuita