A vez da branquinha: cachaça conquista espaço nobre nos bares de BH

De envelhecidas em diferentes madeiras a batidinhas autorais, bares da capital apostam na bebida para surpreender paladares e criar experiências únicas

Antes vista como bebida de segunda categoria, a cachaça vem conquistando espaço nobre em bares e restaurantes de Belo Horizonte, que agora fazem questão de dar à bebida o protagonismo que merece, valorizando sua importância cultural, histórica e econômica.

O Botequim Sapucaí, no bairro Floresta, a partir do próximo dia 13, data dedicada à cachaça, lança uma carta com 13 rótulos, sendo 11 mineiros, um baiano e um capixaba. A proposta, segundo o sócio Lucas Brandão, é reunir marcas de diferentes regiões, armazenadas em variados tipos de madeira, para oferecer experiências sensoriais singulares. “A entrada dessa carta faz parte do processo de revitalização do Botequim, que inclui também um cardápio mais enxuto e certeiro, com ingredientes mineiros e pratos ideais para harmonizar com as cachaças”, explica.

Ainda de acordo com Brandão, a iniciativa busca reforçar a relevância da bebida como ícone da cultura mineira. “A cachaça vai muito além de um simples destilado. No Brasil colonial, junto com a carne e outros produtos, ela financiou o Subsídio Literário, imposto criado em 1773 para bancar salários de professores e o sistema educacional em desenvolvimento”, destaca.

No dia 13, como parte da celebração, a casa oferecerá gratuitamente uma cachacinha de boas-vindas a todos os clientes que chegarem das 11h30 às 21h. O rótulo servido será a cachaça da casa, produzida em parceria com um fabricante de Salinas, região reconhecida por reunir algumas das melhores cachaças de Minas Gerais.

Tradição no Pop Kid Bar e Restaurante

Com mais de 42 anos de história no centro da capital, o Pop Kid Bar e Restaurante também valoriza a tradição da cachaça, incluindo em sua carta clássicos mineiros como a Cachaça Salinas por R$ 11,50, Cachaça Seleta por R$ 11,50 e a Cachaça Vale Verde por R$ 16,90.

Bar da Fila

Outro exemplo é o recém-inaugurado Bar da Fila, na Savassi. O espaço, integrante do Grupo Redentor, lançou uma carta com duas opções de batidinhas autorais: uma de pêssego e outra de coco com maracujá, creme de leite e xarope de baunilha, ambas feitas com a cachaça Chapada das Gerais. “Nós começamos apenas com esses dois sabores, mas em breve vamos adicionar novos, devido ao sucesso que estão fazendo junto ao público”, destaca o mixologista Tiago Santos, responsável pelas bebidas.

Com mais de 20 anos de mercado e uma das maiores referências em coquetelaria na cena gastronômica de BH, Santos afirma que o objetivo de investir nas batidinhas é reforçar o potencial sensorial de cada uma delas. “Os mineiros gostam de batidas, mas elas ainda não têm tanto apelo nos bares da cidade. Nossa intenção é torná-las a marca do Bar da Fila, a ponto de os clientes passarem por aqui antes de seguirem para o Redentor”, afirma, acrescentando que as bebidas ainda são vistas com certo preconceito por muitas pessoas. “Eu mesmo fui uma dessas pessoas e, quando o Daniel [Ribeiro, sócio do Grupo Redentor] me provocou a voltar com as batidinhas, percebi que era o momento de desmistificar minhas convicções.”

Como aprender a apreciar?

            O mixologista do Grupo Redentor afirma que existem algumas dicas para as pessoas, principalmente as mais leigas, aprenderem a degustar os diferentes tipos de cachaça. “Ela é diferente dos outros destilados que conhecemos, por ser bastante peculiar. Temos, basicamente, a branca, que proporciona uma salivação mais aflorada, cujo gosto dura mais no paladar. Por ser mais forte, provoca uma explosão alcoólica na boca. Muitos chegam a dizer que ela é amarga e ruim, o que não é verdade. Ela é acentuadamente fresca”, explica.

            O segundo tipo de cachaça, conforme Tiago, é a envelhecida em diferentes barris de madeira. Há desde aquelas armazenadas em carvalho e jatobá, às condicionadas em barris de amêndoa e amburana. “Todos têm características diferentes. O que têm em comum é justamente o aspecto amadeirado, afinal, passaram pela madeira. Quem deseja entender melhor a diferença de uma [madeira] para outra, não pode deixar de ser curioso e experimentar. Com o tempo e a experiência, vai começar a perceber que até mesmo as próprias cachaças armazenadas no mesmo tipo de madeira podem ter sabores diferentes. Uma menos doce pode estar há um ano envelhecida em um carvalho, enquanto aquela com o dulçor mais acentuado também está no barril da mesma madeira, só que há mais tempo, três anos, por exemplo. Essa é a pegadinha: quanto mais tempo envelhecida, mais propriedades terá”.

            Outro macete que Tiago Santos aprendeu quando começou a trabalhar com cachaça, é que ‘menos é sempre mais’. Com exceção da caipirinha, ele não costuma colocar mais do que 50ml em suas receitas, justamente porque afirma conhecer a percepção sensorial que a bebida provoca na boca. “Pelo fato de a cachaça branca, por exemplo, ter uma

explosão alcoólica maior, muitos – por falta de conhecimento – podem associá-la a um produto de baixa qualidade, o que não é verdade. Ao usar uma baixa quantidade da bebida, ela fica mais macia na boca e, com isso, gera outra percepção gustativa. Quando alguém disser que uma cachaça é boa, certamente se deve ao fato de que ela passou macia na boca.”

            Por fim, o especialista finaliza dizendo que a melhor orientação para um consumidor leigo começar a entender que as cachaças, definitivamente, não são todas iguais, é ir a uma loja especializada, e levar, pelo menos, dois tipos da bebida para casa: uma branca popular e outra de tiragem de, no máximo, 5/10 mil litros. “Assim será possível entender, por meio da degustação, por exemplo, o que é um produto massificado e industrializado na comparação com outro artesanal.”

Batidinha de pêssego

Batidinha criada pelo mixologista Tiago Santos – Bar da Fila

Ingredientes

– 75ml de cachaça

– 225ml de suco de pêssego

– 75ml de licor de pêssego

– 50ml de suco de limão

– 75ml de leite condensado

– 2 unidades de pêssego em calda

Modo de preparo para uma porção de 500ml

– Coloque todos os ingredientes no liquidificador e bata por quase 1 minuto.

– Coloque a mistura dentro de uma garrafa ou jarra.

– Na hora de servir no copo, coloque bastante gelo.

Dica do mixologista: sempre, ao servir, mexa com uma colher na jarra ou balance a garrafa.

  • Botequim Sapucaí

Rua Sapucaí, 527 – Floresta

https://www.instagram.com/botequimsapucai/

Dose gratuita de cachaça no dia 13/09, das 11h30 às 21h

  • Bar da Fila

Rua Fernandes Tourinho, 538 – Savassi

  • Pop Kid Bar e Restaurante

Rua Rio de Janeiro, 661 – Centro