Cena 3×4 – 2025 celebra o teatro de grupo e realiza mostra de espetáculos inéditos em BH
O público irá conhecer, entre os dias 6 e 14 dezembro, os trabalhos inéditos criados pelos grupos Cia. da Farsa, Breve Cia. e [conjunto vazio] e Contraponto <experiência>, durante a edição de 2025 do principal projeto de compartilhamento e criação teatral em Minas Gerais. As apresentações são gratuitas.
De 6 a 14 de dezembro, Belo Horizonte recebe a Mostra Cena 3×4 2025, etapa final do projeto que, ao longo do ano, reuniu artistas e grupos teatrais em um processo intenso de partilha, investigação e criação colaborativa. Nesta edição, três grupos mineiros – Cia. da Farsa, Breve Cia. e[conjunto vazio] e Contraponto <experiência> – apresentam seus trabalhos inéditos, após meses de convivência, trocas e experimentações propostas pela Maldita Cia. de Investigação Teatral, idealizadora do projeto, por meio dos artistas Anderson Feliciano, Lenine Martins, Mário Rosa e Amaury Borges. Todas as atrações são gratuitas, com recursos de acessibilidade. A programação completa pode ser acessada no site do projeto e no Instagram @cena_3x4.
A Mostra Cena 3×4 2025 foi fomentada pelo programa Funarte de Ações Continuadas 2023. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
O encerramento da edição 2025 do Cena 3×4 acontece em uma mostra pública em espaços simbólicos para a cena teatral local. Neste ano, três espaços culturais da capital mineira recebem as estreias dos espetáculos montados durante o projeto: o Centro Cultural Casa de Candongas, a ZAP 18 e a Boate Andaluz. “A proposta do projeto é gerar uma rede de partilhas e reflexões sobre os modos de criação em grupo, e a necessidade de políticas públicas que dialoguem com a realidade desses artistas”, define Amaury Borges, cofundador da Maldita Cia.
Ele explica que o Cena 3×4 “nasceu do desejo de criar espaço e tempo para o encontro entre grupos de teatro, suas formas de pensar e fazer arte e suas experiências com o chamado processo de criação colaborativa.” A partir de uma metodologia que combina pesquisa de linguagem criação e reflexão, o projeto foi criado em 2002, através de uma parceria entre a Maldita Cia. e o Galpão Cine Horto, e promove encontros voltados para a pesquisa de atuação, a dramaturgia e a direção, resultando em criações autorais e inéditas.
Para Chico Pelúcio, diretor do Galpão Cine Horto, o Cena 3×4 é uma das mais importantes ações coletivas no cenário do teatro de Minas Gerais, especialmente em Belo Horizonte. “Os grupos e artistas, os trabalhos de pesquisa de linguagem, e os espaços culturais desses coletivos não encontram abertura para parcerias ou para a construção de políticas para o setor junto ao poder público. Não há representação e nem espaço para trocas. A importância do Cena 3×4 está na resistência da Maldita Cia. em organizar e viabilizar financeiramente esse projeto ante a total desarticulação do teatro mineiro.”
Amaury Borges comenta que esta edição do Cena 3×4 ainda faz parte do movimento de recriação do projeto, nascido há 20 anos. “Desde o retorno do Cena 3×4, em 2023 com o “ofiCena 3×4″, temos nos perguntado sobre o que significa fazer teatro em coletivo hoje? O teatro de grupo é um ofício que precisa de dedicação e aprofundamento, de tempo para se perder antes de se encontrar, tempo que parece estar escasso”, pondera.
Nesta edição, o Cena 3×4 se expandiu para diferentes territórios da capital e também para Sabará, criando uma verdadeira circulação entre sedes de grupos teatrais. Foram parceiros do projeto os grupos de longa trajetória Morro Encena (Aglomerado da Serra), Teatro Kabana (Sabará/Vila Marzagão), Cia Candongas (Santa Cruz) e ZAP 18 (Serrano), além do Galpão Cine Horto, espaços que acolheram atividades, ensaios e participaram de rodas de conversa, a fim de compartilhar suas histórias, sobre como resistiram décadas e seguem suas práticas até hoje.
“O Cena 3×4 é um projeto onde cada pessoa busca seu lugar de fala dentro do grupo, num movimento que leva cada coletivo a se fortalecer. Após os encontros, saímos desta edição com alguns questionamentos: O que significa fazer teatro de grupo em tempos de precarização e uberização do trabalho e da vida? Como esse desafio se aprofunda quando falamos de corpos e territórios diversos? É impossível trabalharmos juntos, para tornar esse modo de fazer mais possível? Os desafios são imensos, o exercício de encontro e a troca nos parece o único caminho possível”, comenta Elba Rocha, coordenadora do projeto.
Trabalhos inéditos – A Mostra Cena 3×4 2025 apresenta três criações que refletem a pluralidade de temas e linguagens que atravessam o teatro contemporâneo. No espetáculo “Agora sou eu que entardeço”, a Cia. da Farsa aborda com sensibilidade poética os desafios do envelhecimento em uma sociedade marcada pelo etarismo, propondo uma reflexão afetiva sobre o tempo, a memória e a resistência. “Nosso processo foi movido por uma escuta muito atenta às memórias pessoais e coletivas. Partimos de histórias reais e de improvisações que nos colocaram diante do corpo que envelhece, mas que também insiste, deseja e resiste. O Cena 3×4 foi um divisor de águas para a Cia da Farsa, deu pra gente a visão de experimentar coisas novas, e todos se fortaleceram muito nesse processo”, afirma Sidnéia Simões.
A peça “Post Festum: sobre a violência mítica” marca a participação do[conjunto vazio] e Contraponto <experiência> nesta edição do Cena 3×4. A partir da pesquisa em teatro físico, a companhia investiga os limites entre violência e festa, criando um espetáculo que provoca e mobiliza o corpo como linguagem. “Em ‘Post Festum’, o processo se desenvolveu a partir de workshops e improvisações que foram desenhando o roteiro da encenação. O compartilhamento do processo com os pares no Cena 3×4 provocou transformações no material, e o confronto com o público será um momento essencial de escuta e de reformulação viva do trabalho”, declara Paulo Rocha.
Fechando a programação, a Breve Cia. faz a estreia de “assoviá pra chamar o vento”, em comemoração aos 10 anos de existência da companhia. Com atuação de Anair Patrícia e Renata Paz, a peça explora com humor e empatia questões como infância, masculinidade e afeto. “A partir do desejo de trabalharmos com drag kings e o universo da malandragem, iniciamos pelos arquétipos do Nêgo Doce e do Cria, extrapolando os estereótipos e buscando a humanização das masculinidades negras periféricas. O Cena 3×4 acendeu em nós o desejo de reocupar os espaços alternativos, reacendendo a pesquisa sobre dramaturgia do espaço que o grupo iniciou em seu primeiro espetáculo, há quase 10 anos”, constata Anair Patrícia.
Todos os trabalhos têm dramaturgias inéditas, desenvolvidas durante o percurso do projeto, em diálogo constante entre atuação, dramaturgia e direção. Uma das novidades de 2025 foi a parceria entre o Cena 3×4 e os Núcleos de Cenografia e Figurino do Galpão Cine Horto, que acompanharam de perto as etapas de concepção e execução visual dos espetáculos.
Essa integração ampliou o caráter formativo e experimental do projeto, fortalecendo as pesquisas estéticas dos grupos. “Neste ano, o projeto foi território de encontros improváveis, entre grupos e artistas de linguagens, territórios e idades diferentes. Além dos processos de criação entre os grupos selecionados, aconteceram diversas rodas de conversa com convidados, construindo uma rede com a participação direta de 10 coletivos teatrais. O convite é que desse encontro transborde uma mobilização de associações e parcerias solidárias entre esses e outros grupos”, explica Elba Rocha.
Breve histórico do Cena 3×4 – Criado em 2002, o Cena 3×4 foi realizado ininterruptamente até 2006, graças à parceria entre Maldita Cia. de Investigação Teatral e o Galpão Cine Horto, resultante do desejo em comum de experimentar princípios do processo de criação colaborativa e estabelecer uma rede de qualificação e fomento da linguagem de teatro de grupo em Belo Horizonte.
O projeto tem sua importância notoriamente reconhecida pelos artistas que viveram esse período e, em suas primeiras 5 edições, promoveu a criação de quinze (15) espetáculos, além de ter proporcionado a vinda à capital mineira de importantes artistas do cenário nacional como Eleonora Fabião, Tiche Vianna, Antônio Araújo, Luís Alberto de Abreu, Francisco Medeiros e Aderbal Freire Filho. Tudo isso fomentou a atividade de importantes grupos de teatro de Minas Gerais como Morro Encena, Artilharia Cênica, Grupo Trama, Cia. Luna Lunera, Grupo Reviu à Volta, Grupo Armatrux e Teatro Invertido.
A partir de 2006, a Maldita Cia. ministrou oficinas sobre processos de criação colaborativos e experimentou princípios de colaboração em todos os seus trabalhos. Em 2023, iniciou-se o movimento de retomada do projeto através da ação “ofiCena 3×4”, uma oficina sobre criação teatral colaborativa, conduzida para grupos de três (3) cidades de Minas Gerais. Em 2024 o projeto retomou as atividades em completude, amadurecendo os conceitos e propostas para a edição 2025.
Em 2025, o Cena 3×4 se consolida como um espaço de resistência, invenção e memória, celebrando a força do teatro de grupo e a potência das dramaturgias que nascem do encontro.
Sobre os grupos:
Cia da Farsa – Com quase três décadas de trajetória em Belo Horizonte, a Cia da Farsa é reconhecida pela montagem de clássicos da dramaturgia, sempre buscando unir rigor artístico e humor crítico. Fundada em 1997 com a montagem “Macbett com Ketchup”, adaptação de Ionesco, a companhia consolidou-se com obras como “A Farsa da Boa Preguiça” e “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, e “Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues. Mais recentemente, apresentou “O Toró”, releitura mineira de “A Tempestade”, de Shakespeare.
Breve Cia. – Criada em 2016, a Breve Cia é formada por artistas das periferias de Belo Horizonte, Betim e Ribeirão das Neves. Seu trabalho se destaca por uma abordagem crítica e negrorreferenciada, voltada às “Dramaturgias Negras”, às “Escrevivências” e ao “Teatro de Ocupação”, explorando temas como racismo, solidão e hipersexualização de corpos negros femininos. Em 2025, celebra dez anos de atuação com o espetáculo “assuviá pra chamar o vento”, dirigido por Eli Nunes e com dramaturgia de Amora Tito. A obra mistura pagode, funk e memórias periféricas.
[conjunto vazio] e Contraponto <experiência> – A união entre o [conjunto vazio] e o Coletivo Contraponto <experiência> representa a parceria de duas forças da cena experimental belo-horizontina. O Conjunto Vazio, fundado em 2006, é um coletivo anticapitalista e horizontal, conhecido por suas intervenções urbanas e performances de “anti-arte”, como “A Ilha”, “Banco Imobiliário” e “Anti-Antígona”. É também um dos criadores da “Praia da Estação”, marco político-cultural da cidade. Já o Contraponto, criado em 2012, dedica-se ao Teatro Físico, ao Environment Theater e às interfaces com a arte da performance, com trabalhos como “Olho da Rua” e “Perdoa-me por morrer”. Juntos, os grupos aprofundam investigações cênicas sobre corpo, política e presença, compondo o projeto Cena 3×4.
Mostra Cena 3×4 2025 – de 6 a 14 de dezembro
Entrada franca, mediante a retirada de ingressos no site https://www.malditacia.com/cena3x4
Cia. da Farsa:
Espetáculo “Agora sou eu que entardeço”
Datas: 06/12, às 20h, e 07/12, às 19h
Local: ZAP 18 (Rua João Donada, 18, Santa Terezinha)
[conjunto vazio] e Contraponto <experiência>
Espetáculo “Post Festum: sobre a violência mítica”
Datas: 09 e 10/12, às 20h
Local: Boate Andaluz (Rua Mármore, 644, Santa Tereza)
Breve Cia.:
Espetáculo “assuviá pra chamar o vento”
Datas: 13 e 14/12, às 19h
Local: Centro Cultural Casa de Candongas (Av. Cachoeirinha, 2221, Santa Cruz )




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