Álbum “Dé Siqueira e o Trem de Doido” terá show de lançamento – 16/11

Álbum celebra as raízes de um dos instrumentos de sopro mais antigos do Brasil e reúne participações de nomes como Toninho Horta, Sérgio Pererê, Maurício Tizumba, Alexandre Andrés, Carlos Malta e outros; show de lançamento acontece no Teatro Raul Belém Machado, no dia 16/11, com convidados e alunos das oficinas de pífano

Misturando a autenticidade das melodias minerais com a força rítmica das tradições populares do Brasil e da América Latina, o músico e flautista Dé Siqueira apresenta seu mais novo trabalho, o álbum “Dé Siqueira e o Trem de Doido”. O show de lançamento acontece no dia 16/11 (domingo), às 19h, no Teatro Raul Belém Machado, em Belo Horizonte, com entrada gratuita. Os ingressos estarão disponíveis pelo Sympla, a partir de 1/11 (sábado).

Viabilizado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, o projeto joga luz ao pífano, flauta ancestral presente nas festas populares do Nordeste, mas também em Minas Gerais como protagonista de uma nova sonoridade mineira, que une raízes caipiras, música popular, experimentações harmônicas contemporâneas e grandes nomes da música brasileira.

Feito tradicionalmente de bambu, o pífano é protagonista em cortejos, bandas militares e festejos religiosos e cívicos, sendo um dos instrumentos mais antigos do país. A flauta teve projeção nacional com a Banda de Pífanos de Caruaru (PE), ao gravarem o clássico “Pipoca Moderna”, junto a Gilberto Gil no lendário álbum “Expresso 2222”, de 1972. 

Em Minas, o pífano está enraizado no universo das bandas tradicionais, e ganhou novos contornos na contemporaneidade, incorporando-se ao Carnaval de Belo Horizonte e a projetos como o Bloco de Pífanos de BH, fundado por Dé Siqueira em 2022, no ressurgimento da folia mineira. Desde então, ele vem formando novas gerações de pifeiros por todo o país.

“Durante a pandemia, foi a época que eu mais compus. Entre 2019 e 2020, passei a integrar o grupo ‘Pife Livre Brasil’, que reúne gente do país todo que estuda e toca pífano para tentar criar e manter uma conexão online. Depois disso, acabei reunindo uma banda em Belo Horizonte porque eu já tinha a ideia de um disco dedicado ao pífano, com arranjos para pífano”, diz o artista.

Trem de Doido e o pífano mineiro

Com influências que vão das harmonias antológicas do Clube da Esquina às tradições andinas das flautas e zampoñas, passando pelo universo caipira, e incorporando o baião, o forró e o congado, o disco é uma síntese plural e vibrante das paisagens musicais populares brasileiras. Nas palavras de Dé Siqueira, trata-se de “uma fusão entre as melodias brincantes e introspectivas de Minas e o fogo dos ritmos dançantes do país”. 

A direção musical e arranjos são assinados por Dé Siqueira, que também é autor de 10 das 12 músicas, enquanto os arranjos de percussão ficaram a cargo de Daniel Guedes. A gravação, a edição e a mixagem foram realizadas por Alexandre Andrés. A banda principal, Trem de Doido, responsável por imprimir a mineiridade junto aos pífanos, é formada por Débora Costa, Daniel Guedes e Dil Brasil nas percussões; André Oliveira no violão e na viola caipira; e Marcela Nunes nos pífanos e flautas. 

“O disco tem muitas referências. Sempre achei que as músicas do Milton Nascimento combinam com a sonoridade de pífano, por isso, quando esse projeto surgiu, originalmente, fazíamos bastante releituras do Milton. E a música caipira também. Sempre flertei com a dupla caipira de duas vozes, o pífano também faz esse trabalho de pares de duas vozes, existe um diálogo entre dois pífanos, que é comum nas bandas do Nordeste e de Minas. No disco, trazemos a essência de Minas ao tocarmos com violas caipiras e usarmos os tambores de congado” explica.

Influências e participações: dos Reinados ao Vale do Jequitinhonha

Gravado no Estúdio Acústico Motor, em Belo Horizonte, entre 2024 e 2025, o disco reúne uma constelação de convidados que reforçam a diversidade musical dos pífanos, a partir da essência musical mineira. 

O músico chileno Maurício Vicencio, fundador da tradicional banda Altiplano de Chile, adiciona o timbre ancestral das flautas zampoñas e moseños na faixa “Outro Plano”, música de atmosfera andina, que faz parte das memórias de infância de Dé Siqueira. “Na minha infância em Varginha tinha muita música andina, tocada de verdade, sem música gravada em caixa de som, como é hoje. E isso me marcou, aquela sonoridade sempre me perseguiu. Os países latinos têm uma riquíssima tradição na flauta. E eu quis trazer isso para o disco”, diz Siqueira. 

Já Maurício Tizumba, dos principais nomes da percussão afro-mineira em atividade, idealizador do Tambor Mineiro, empresta sua força e voz marcante à contagiante “Ô Trem Bão!”, homenagem à musicalidade negra e ao batuque das folias tradicionais. 

Em “Baião do Dia”, Rodrigo Sestrem divide um dueto inspirado com Bárbara Barcellos, acompanhados pelo toque mineiro do piano de Matheus Ribeiro, parceiro de longa data de Dé Siqueira, com quem mantém o Duo Vera Cruz, que passeia pela música erudita, a MPB e o jazz, unindo experimentações instigantes da música instrumental.

Já em “Trem Voador”, Dé Siqueira presta uma homenagem direta às harmonias do Clube da Esquina. A música foi feita para Toninho Horta e usa o ritmo valsa mineira, criado por ele. Além de Toninho, a faixa tem participações de Beto Lopes e Cyrano Almeida e do cantor sul-mineiro Tutuca, natural de Alfenas e parceiro de Dé Siqueira.

O disco também guarda faixas de caráter profundamente regional, como “O Som do Vale”, inspirada nas Bandas de Taquara do Vale do Jequitinhonha, que trazem o som de sopros e percussões típicas do interior mineiro, incluindo flautas, caixas, reco-recos e pandeiros em suas formações. “Essas bandas têm uma energia muito viva, uma musicalidade que me inspira desde sempre, é muito marcante. Boa parte da sonoridade do disco tem inspiração nas Bandas de Taquara”, comenta o músico. 

No mesmo caminho, há composições que resgatam outros afetos e homenagens ancestrais, como “Nossa Senhora é a Nossa Mãe”, tributo ao mestre Toninho Casimiro, antigo capitão do Reinado 13 de Maio, do bairro Concórdia, em Belo Horizonte. “Eu sempre frequentei o Reinado e quis fazer uma homenagem para o Toninho, que faleceu há um tempo. Gravei o congado tocando os seus tambores e fiz o arranjo das flautas por cima”, diz o artista.

“Tituly” homenageia a mãe de Dé Siqueira, Suely, levando no título o jeito carinhoso pelo qual o músico a chama. Na faixa, o sax soprano de Carlos Malta ganha corpo em um frevo luminoso, em reverência à tradição nordestina. “São Sebastião” é assinada em parceria com Sérgio Pererê, enquanto “Aroeira” é uma composição do multiartista, um dos principais nomes da música afro-mineira. “Descobri que o pai do Pererê era um construtor de pífanos também, e o Pererê toca flauta, tem uma musicalidade muito diferenciada. A presença dele no disco engrandece demais esse trabalho”, justifica Dé.

Show

No show, além da banda Trem de Doido, que gravou o disco, Dé Siqueira também vai contar com convidados especiais. Logo na abertura, haverá a presença de alunos que participaram das oficinas de construção de pífanos e de integrantes do Bloco de Pífanos BH. As aulas foram ministradas pelo artista entre e maio e junho deste ano, no Centro Cultural Venda Nova, no Reinado 13 de Maio e no Instituto São Rafael, escola referência em deficiência visual em Minas Gerais.

“Ao longo dos anos, desenvolvi a oficina ‘Moldando Vento’, que ensina a qualquer pessoa a construir um pífano, utilizando apenas canos de PVC e cortiças de vime. E, após construir o instrumento, também ensinamos a tocar. Quis trazer os alunos para o show porque eles são parte fundamental na minha trajetória com o pifano”, diz o músico.

Além deles, o show conta com a participação de Matheus Ribeiro (piano), da Guarda de Reinado 13 de Maio e do multiartista Sérgio Pererê. Para além do disco na íntegra, Dé Siqueira também vai presentear o público com releituras marcantes, em arranjos desenvolvidos por ele especialmente para os pífanos. “Temos duas releituras que são fundamentais, que é ‘Cravo e Canela’, do Milton Nascimento, a primeira música que a banda ensaiou e gravou. E ‘Pipoca Moderna’, a música que deu o holofote nacional aos pífanos”, diz Dé Siqueira.

Roda de conversa “Universo do Pífano”

Além da realização das oficinas e do show de lançamento do disco, o projeto de Dé Siqueira também inclui a roda de conversa online “Universo do Pífano”, que acontecerá no dia 10/11, às 19h, nas redes sociais do Trem de Doido. O encontro reunirá pifeiros e pifeiras de diversas regiões do Brasil, incluindo Alexandre Rodrigues, Kika Brandão, Tanaka do Pife e Vitória do Pife, para debater os caminhos do pífano na música popular e o papel desse instrumento na preservação e renovação das culturas tradicionais.

Perfil – Dé Siqueira

André Siqueira, artisticamente conhecido como Dé Siqueira, é músico, flautista, pifeiro, saxofonista, compositor, professor, luthier de pífanos e diretor musical. Natural de Varginha, no Sul de Minas, iniciou os estudos na música aos 11 anos, tocando violão. É bacharel em Música com habilitação em Flauta Transversal pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e licenciado em Música pela Faculdade Mozarteum de São Paulo (FAMOSP).

Reconhecido por sua trajetória de pesquisa e difusão do pífano, Dé é fundador do Bloco de Pífanos BH, que tem formado dezenas de pifeiros e pifeiras em todo o país. Em 2025, recebeu o título simbólico de “Mestre de Pífano” das mãos do mestre João do Pífano, de Caruaru (PE). Também foi premiado em outras ocasiões, incluindo Jovem Músico BDMG (2014), Jovem Instrumentista (2017) e Funarte RespirArte (2020), neste último, a partir da música “Rio Verde”, dedicada ao curso d’água que corta sua cidade natal.

Dé Siqueira dividiu o palco com artistas como Toninho Horta, Sérgio Pererê, Dona Jandira e Toninho Carrasqueira. É criador do método “Moldando Vento – Aprenda Flauta do Zero”, que ensina a construir e tocar pífanos, e vem atuando como professor em oficinas por todo o país.

Além do novo álbum “Dé Siqueira e o Trem de Doido” (2025), o músico lançou o disco “Espere um Pouquinho” (2014), com o grupo Quinto do Choro; e “Duo Vera Cruz” (2024), em parceria com Matheus Ribeiro, além de acumular participações em diversos outros trabalhos. Atualmente, segue difundindo sua arte e os ensinamentos do pífano, unindo tradição e contemporaneidade num sopro que é, ao mesmo tempo, mineiro e universal.

Show de lançamento do disco “Dé Siqueira e o Trem de Doido”

Quando. 16/11/25 (domingo), às 19h

Onde. Teatro Raul Belém Machado (Rua Leonil Prata, 53, bairro Alípio de Melo)

Quanto. Entrada gratuita. Ingressos pelo Sympla, a partir de 1/11 (sábado)