Circo quilombola une teatro, música, dança e espiritualidade em um mergulho profundo na ancestralidade, na memória preta e na força dos povos de terreiro
Tudo começa com o toque do tambor. Corpos que dançam, olhos que brilham e histórias que ecoam enquanto atravessam o tempo. O espetáculo “Identidade Ancestral” é um chamado para o reencontro com os saberes antigos, com as entidades que abrem caminhos, com as vozes que resistem mesmo quando tentam silenciá-las. Criado por um coletivo de artistas quilombolas, o projeto inicia sua temporada 2025 com quatro apresentações gratuitas em Belo Horizonte. A primeira acontece no dia 23 de agosto, às 17h, no Centro de Referência da Cultura Popular Lagoa do Nado, que se transforma em terreiro, palco e altar.
No coração dessa experiência está o Congado, expressão sagrada da fé e da luta negra. Seus toques, suas guardas, suas cantigas ecoam nos corpos em cena e nos olhos de quem assiste. É a alma do povo preto em festa e em oração — dançando para não esquecer.
Criado há cinco anos pela artista Jocasta Roque, o projeto “Identidade Ancestral” já realizou sete montagens cênicas e inicia agora se reinventa em um novo ciclo de apresentações. A estreia da nova fase reafirma a proposta do grupo: colocar no centro a espiritualidade afro-brasileira, a oralidade ancestral e a potência dos corpos negros em cena
O espetáculo entrelaça poesia, música, dança, circo e teatro ritual em uma vivência de força espiritual, estética e política. Tudo é costurado a partir do conceito de Circo Quilombola, uma linguagem autoral criada por Jocasta que ressignifica o universo circense sob uma perspectiva afrocentrada, onde o lúdico e o sagrado caminham lado a lado.
Em cena, estão artistas pretos de múltiplas trajetórias: congadeiros, sambistas, cantores, bailarinos e filhos de terreiro que trazem para o palco a verdade de quem vive o que canta, dança e invoca. São corpos que denunciam o racismo e afirmam a beleza e vozes que mantêm viva a herança africana em cada gesto e palavra.
“O projeto ‘Identidade Ancestral’ nasceu do desejo de recontar nossa história com as nossas vozes, com os nossos corpos e com a nossa espiritualidade. Somos continuidade do que nossos ancestrais começaram a construir. Resgatar a comunicação oral, que está se perdendo com o tempo, é também manter viva a alma do Congado e das nossas tradições. Levamos Exu e tantas entidades para cena de forma lúdica, respeitosa e potente, rompendo com estereótipos e com o racismo religioso. Queremos tocar o coração do público e despertar o que cada um tem de ancestral em si”, afirma Jocasta Roque.
Rito em cena: arte, fé e resistência preta
Filha do Quilombo Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, distrito de Ribeirão das Neves (MG), Jocasta Roque é multi-instrumentista, congadeira e guardiã dos saberes que a formaram. Com a sua arte, Jocasta conduz a cena com firmeza e ternura, evocando os reinados de Minas Gerais, os cânticos dos terreiros, o samba como resistência e os rituais que curam. Cena a cena, ela costura uma narrativa onde o Congado, o samba, a umbanda e o candomblé coexistem em beleza e resistência.
“Identidade Ancestral” não é apenas um espetáculo: é rito, travessia e território. Um espaço de cura coletiva e afirmação radical da identidade preta, onde o público é convidado não só a assistir, mas a sentir, reconhecer e se transformar.
O projeto integra o edital “Desenvolvimento de projetos” do Governo de Minas Gerais, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB). A temporada de 2025 dá continuidade ao que já foi semeado: reafirmação da identidade negra, valorização da cultura afro-brasileira e combate a todas as formas de racismo — inclusive o religioso. Outras apresentações estão sendo planejadas até o fim do ano.
A produção do espetáculo é realizada pela NGB Projetos, sob coordenação de Nara Bonfá, com produção executiva de Felipe Souza, também responsável pela gestão administrativa e financeira por meio da Maré Soluções. A atuação conjunta das produtoras têm garantido o alinhamento técnico, jurídico e institucional da execução do projeto, além de fortalecer a circulação e o acesso a políticas públicas de fomento à cultura afro-brasileira.
Espetáculo | Identidade Ancestral
Quando: 14 de Setembro de 2025 (domingo), às 17h.
Onde: Centro de Referência da Cultura Popular Lagoa do Nado (Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904 – bairro Itapoã).
Quanto: evento gratuito, sem necessidade de retirada de ingressos antecipados
Outras informações: www.instagram.com/identidadeancestral_
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