Até dezembro, nova ação do Memorial Minas Gerais Vale leva arte, cultura e formação a dez escolas públicas da região metropolitana de Belo Horizonte.
Educação antirracista e cultura ancestral são os focos do novo projeto do Memorial Minas Gerais Vale, o Memorial Escola, que, até dezembro de 2025, vai levar uma intensa programação a dez escolas públicas localizadas em Belo Horizonte e região metropolitana. Em cada instituição, o projeto realiza cinco frentes de atuação articuladas, durante uma semana: oficinas educativas, formação com professores, espetáculos culturais, vivências com artistas brincantes e intervenções artísticas visuais. Com foco na valorização da memória afro-indígena como experiência educativa, o projeto propõe encontros entre o museu e o cotidiano escolar, promovendo escuta, experimentação estética e diálogo com as comunidades escolares.
Voltado especialmente a escolas da periferia, onde o acesso a museus e centros culturais costuma ser mais limitado, o Memorial Escola vai mobilizar diferentes linguagens: colagem, brinquedos ópticos, serigrafia, música, teatro e contação de histórias — sempre com referências afro-brasileiras e indígenas como ponto de partida. A temática que orienta esta primeira edição é a memória afroindígena como experiência educativa. Trata-se de reconhecer que as histórias, cosmovisões e práticas culturais de matrizes africanas e indígenas não constituem apenas um conteúdo a ser transmitido, mas um modo de estar no mundo, de narrar o tempo e de produzir conhecimento. “Mais do que uma ação de difusão cultural, o Memorial Escola se afirma como um projeto educativo situado, que reconhece as escolas como territórios de criação e resistência. Ao deslocar a centralidade dos saberes hegemônicos, a proposta abre espaço para outras narrativas e outros modos de ensinar e aprender onde a arte, a ancestralidade e a escuta são as grandes protagonistas”, afirma Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.
O inicio das práticas educativas se iniciaram na Escola Municipal Pedro Aleixo entre os dias 11 e 14/08, no Barreiro. Em setembro, a Escola Municipal Luigi Toniolo, região Noroeste, receberá atividades entre os dias 15 e 19/09. Em seguida, o projeto atenderá duas escolas da regional Pampulha, sendo a Escola Municipal Anne Frank de 22 a 26/09, e a Escola Municipal Jardim Leblon do dia 29/09 a 02/10. O Memorial Escola seguirá ainda para outras seis instituições, percorrendo uma escola por regional da cidade. Também já estão confirmadas as participações da Emei Timbiras (Centro-Sul), Escola Municipal Fernando Dias Costa (Leste), Anísio Teixeira (Nordeste) e Mário Werneck (Oeste).
Espetáculos e brincadeiras
Entre os destaques da programação cultural estão os espetáculos “Sois África Mirim” e “Contação Cênico Musical”, do músico e compositor Tom Nascimento, que, com sua performance percussiva e interativa, convida o público infantil a cantar, brincar e refletir sobre a cultura afro-brasileira. Os shows dialogam com seu livro infantojuvenil “A História do Tambor” e têm como ponto alto a participação do personagem Tomzinho, boneco PCD que simboliza inclusão e representatividade. A Cia Pé de Moleque, formada por Isaac Luís e Juliana Daher, também participa com os espetáculos “Canto de Neném”, que apresenta cantigas de ninar e acalantos de várias partes do mundo, e “Canto de Passarim”, uma narrativa musical inspirada na liberdade e nos pássaros, repleta de histórias da tradição oral.
O Grupo Maria Cutia, com sua pesquisa em música-em-cena e palhaçaria, leva às escolas três diferentes montagens: “Aquarela”, um show cênico em que cenário e figurinos são pintados ao vivo; “Na Roda”, espetáculo brincante com repertório de cantigas do Vale do Jequitinhonha e norte de Minas; e “ParaChicos”, um tributo a Chico Buarque feito com humor, memória e interação com o público infantil. Já a Cia Gêmea, das irmãs Laís e Thais Oliveira, apresenta “A Alegria do Circo”, unindo palhaçaria, mágica, malabares e poesia em um picadeiro itinerante que enche os olhos e ouvidos das crianças. A Chukaká, especializada em educação musical, participa com a Banda Chukaká, formada por professores que apresentam um repertório pensado para e por crianças, aproximando musicalidade e aprendizado de maneira afetiva.
Em cada instituição, um artista brincante também realiza vivências lúdicas com os estudantes por meio de cantos, jogos e histórias tradicionais, ativando vínculos entre os saberes populares e a cultura escolar. As escolas serão contempladas com um painel de grafite exclusivo, que será grafitado em um dos murais da instituição pelos os artistas visuais Gabriel Nast e Kawany Tamoios. Os grafites terão como foco a valorização das identidades periféricas, a celebração da ancestralidade e a expressão das diversas formas de resistência cultural. A iniciativa busca promover o diálogo entre arte urbana e educação, estimulando o pertencimento, a representatividade e o reconhecimento das histórias que compõem o cotidiano dos estudantes e da comunidade escolar.
Ações educativas
Paralelamente aos espetáculos, os estudantes participam de oficinas educativas cuidadosamente desenhadas para atender diferentes faixas etárias do Ensino Fundamental, ativando a criatividade, a memória e a sensibilidade por meio de linguagens diversas como colagem, animação e serigrafia. Para os alunos do 1º ao 3º ano, a oficina “Máscaras, pássaros e cores” parte de um conto africano para introduzir a tradição oral e estimular a escuta e a ludicidade por meio da criação de máscaras inspiradas em pássaros. Já os estudantes do 4º ao 6º ano participam de “Alimentos em Animação”, onde produzem flipbooks artesanais a partir de alimentos que remetem a memórias afetivas, conectando cinema de animação, identidade cultural e cotidiano. Para os alunos do 7º ao 9º ano, a oficina “Entre Impressões e Memórias” utiliza a técnica da serigrafia como recurso expressivo para refletir sobre ancestralidade, território e memória visual. Em todas as atividades, o fazer manual e a experimentação estética se articulam como formas de aprendizado, valorizando o corpo, o olhar e a vivência dos participantes como elementos centrais do processo educativo.
A formação com professores, intitulada “Memória Afro-indígena”, é conduzida por educadores do Memorial e propõe uma vivência imersiva de até quatro horas, organizada em torno de cinco eixos fundamentais: palavra, imagem, oralidade, território e ancestralidade. O encontro começa com o varal “Carrego Comigo”, no qual os participantes compartilham memórias herdadas de seus mais velhos, dando início a uma jornada de reflexão coletiva sobre identidade e pertencimento. A partir da leitura de textos, escuta de vissungos, análise de imagens e práticas de narração, os professores são convidados a construir fanzines pessoais e participar de experimentações narrativas com palavras de origem afro-indígena que permeiam a língua portuguesa. Inspirada nas pedagogias da escuta e na valorização dos saberes orais, a formação oferece subsídios sensíveis e conceituais para que os educadores se apropriem das heranças culturais silenciadas e repensem suas práticas pedagógicas a partir de uma perspectiva antirracista, afetiva e situada.
Memorial Vale Itinerante
Enquanto o edifício-sede do Memorial Vale passa por um processo de renovação e revitalização, o Museu continua com sua programação através do projeto Memorial Vale Itinerante. “Estamos levando a essência do Memorial para outros espaços, garantindo que o público continue a ter acesso às atividades culturais gratuitas e relevantes, enquanto são realizadas as intervenções de requalificação, como a criação de novas estruturas de acessibilidade e áreas para atender a multipúblicos, com o objetivo de valorizar ainda mais o prédio que abrigou a antiga Secretaria de Estado da Fazenda. Com o Memorial Escola, estamos cumprindo nosso papel de difundir conhecimento e promover experiências transformadoras”, afirma Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.
Memorial Minas Gerais Vale
Um dos espaços culturais que integram o Instituto Cultural Vale, o Memorial Vale faz parte do complexo cultural Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. De 2010, ano de sua inauguração, até julho de 2025, o espaço recebeu mais de 1,5 milhão de pessoas. São mais de 3 mil eventos realizados, 108 exposições, quase 9 mil escolas e grupos atendidos e cerca de 240 mil pessoas recebidas em visitas mediadas.
Atualmente, o edifício-sede que abriga o espaço passa por obras de renovação para adotar uma nova estratégia de ocupação museográfica e infraestrutural. Criada a muitas mãos, a nova expografia permanente tem a curadoria de Isa Ferraz e Marcelo Macca e fará uma mistura inédita de obras de arte, objetos históricos e peças audiovisuais criadas especialmente para o Museu, propondo um diálogo entre o ontem, o hoje e o amanhã no qual o visitante é o protagonista.
Memorial Escola
Quando: de agosto a dezembro de 2025
Próximas ações:
Escola Municipal Luigi Toniolo: 15 a 19/09 e 27/09
Escola Municipal Anne Frank: 22 a 26/09
Escola Municipal Jardim Leblon: 29/09 a 02/10 e 04/10
Atividades: oficinas educativas, formação de professores, apresentações culturais, vivências com artistas brincantes e intervenções visuais.
Gratuito e voltado à comunidade escolar das instituições participantes.
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