Ananda Cia. de Dança Contemporânea estreia “Bambo” – 12/08

Montagem aborda com poética sobre gênero e identidade. Apresentação acontece no dia 12 de agosto, no Parque Municipal e circula por outras quatro regionais de BH

A Ananda Cia. de Dança Contemporânea estreia o espetáculo “Bambo”. Com direção de Anamaria Fernandes e Heleno Carneiro, a montagem aborda a questão de gênero de maneira sutil, lúdica e poética. De forma fluída, o espetáculo traz a construção de identidades em constante movimento. A apresentação será ao ar livre no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em frente ao Teatro Francisco Nunes, no Centro, dentro da programação do Terça da Dança, com entrada gratuita, no dia 12 de agosto, terça-feira, às 19h. Em seguida, o projeto segue para outras quatro regionais de Belo Horizonte: Venda Nova (14/8), Barreiro (16/8), Leste (16/8) e Pampulha (17/8). Antes da estreia, no dia 5 de agosto, às 20h, acontece uma roda de conversa online com acesso gratuito pelo YouTube da Cia Ananda, sobre processo de criação e orientações artísticas do espetáculo.

“Bambo” é uma criação em dança destinada a todos os públicos. No centro da obra estão os dançarinos Luana Magalhães e Samuel Carvalho, e o músico Karim Angelo. Junto a eles, uma estrutura cênica que se transforma e que se configura como peça central da composição. A estrutura traz a ideia de impermanência, da fragilidade imposta pelo desequilíbrio e propõe jogos de instabilidade, de alternância de lugares e de construções identitárias que trazem consigo a possibilidade de mover o que havia sido estabelecido.

Com ela, Samuel e a Luana se arriscam, se transformam, brincam, e se descobrem aos poucos nessa brincadeira. Nesse jogo, aparecem outras possibilidades de ser, uma luta sutil e contínua para manter o equilíbrio e poder brincar de ser quem querem ser. De acordo com a diretora Anamaria Fernandes, a proposta da montagem foi idealizada a partir do jogo, da brincadeira e da instabilidade, onde cada gesto é uma tentativa de sustentação, cada movimento uma pergunta sobre o que é possível ser. “Bambo fala sobre essa liberdade que é, na verdade, atravessada por múltiplas camadas de contenção. Vivemos numa sociedade que exige pactos e que impõe normas. Essa tensão entre o desejo individual e as normas coletivas cria um campo de negociação constante e nele, a liberdade se torna um território vigiado, delimitado por fronteiras invisíveis. Essa liberdade é bamba, tensa, frágil e muitas vezes clandestina. Dar voz a ela é reconhecer que, mesmo em meio às pressões sociais, ainda temos a capacidade de traçar nossa rota, de redefinir o que é possível. E o acolhimento de nossas escolhas pessoais é um ato profundamente político. É o que queremos dizer com esse espetáculo, que será apresentado em locais de convivência democrática, onde pessoas de diferentes idades, origens, classes sociais, gêneros e trajetórias de vida se encontram, mesmo que por breves momentos. Espaços onde uma multiplicidade de vozes podem coabitar”, conta a diretora.

Heleno Carneiro, explica que esse jogo de estrutura é também o que faz a conexão entre eles. “Por trazer em si a precariedade de um equilíbrio instável e o risco imposto pela própria gravidade, a estrutura sustenta a real possibilidade da queda, assim como na vida de cada pessoa. A criação fala do acolhimento dessas escolhas, da importância desta liberdade, da relevância do suporte mútuo e respeito coletivo na construção identitária embasada no desejo profundo do ser”, analisa o diretor.

A estrutura cênica é inspirada na peça “See-Saw” de Simone Forti (artista, dançarina, coreógrafa e escritora pós-moderna americana), que faz parte de uma série de trabalhos, estreados no início da década de 1960. Os projetos foram concebidos a partir da aproximação entre a dança e a escultura, em colaboração com o escultor minimalista norte-americano Robert Morris. A peça foi reconstituída por Forti, em 2009. Nela, observa-se um jogo, uma brincadeira de infância: a gangorra. Sempre apresentada em galerias de arte, a peça teve várias interpretações, guardando seu aspecto experimental, mesclando improvisação e composição.

Porque “Bambo”?

Segundo uma pesquisa realizada pela Opinion Box em 2023, e compartilhada pela reportagem de Julia Possa, na plataforma UOL, “até 65% das pessoas LGBTQIA+, têm medo de andar na rua de mãos dadas com o parceiro por causa da violência contra essa população no Brasil” (POSSA, Julia.GizModo;Uol.2023). A mesma pesquisa registrou índices altos de pessoas desta comunidade que deixam de frequentar determinados locais para evitar agressões, considerando-se as situações de violência física e também verbal que vivenciam. De acordo com os dados levantados, grande parte das pessoas entrevistadas já sofreu alguma situação de violência verbal em ambiente público e já vivenciou constrangimentos em ambientes escolares e familiares por causa da sexualidade.

O preconceito contra a população LGBTQIA+ está relacionado com uma quebra da expectativa de adequação a um modelo cis e heteronormativo, patriarcal, e que perpetua a hierarquia do masculino sobre o feminino, atitudes discriminatórias e de grande violência.

Em tempos em que a busca da igualdade têm sido uma luta constante, tratar o assunto da diversidade humana é de suma importância. Tendo em vista que o espetáculo é destinado a pessoas de todas as idades e status social, já que se dá em espaços abertos e descentralizados da cidade. Segundo os diretores, espera-se que a proposta possa trazer reflexões e reconstruções de ideologias cristalizadas.

Sobre a Ananda Cia. de Dança Contemporânea

A Ananda Cia. foi fundada em 2017 pela dançarina e coreógrafa Anamaria Fernandes, junto a um coletivo de 20 artistas. De 2017 a 2020, a companhia foi projeto de extensão da UFMG. Desde então, atua de forma independente, promovendo criações artísticas em dança contemporânea, oficinas, formações, palestras e filmes, com foco em acessibilidade, diversidade e autoralidade. A companhia se dedica à pesquisa gestual e vocal, ao encontro entre linguagens e à democratização da arte, atuando de forma contínua em comunidades com menor acesso aos direitos culturais e sociais.

Ficha Técnica

Direção: Anamaria Fernandes e Heleno Carneiro/ Assistência de direção: Duna Dias/ Dramaturgia: Anamaria Fernandes/ Artistas da Dança: Luana Magalhães e Samuel Carvalho/ Trilha Sonora: Karim Angelo/ Entrevistas e captação de áudio – crianças: Duna Dias/ Design de Produto: Francisco Moreira Caneschi/ Orientação de Design: Glaucinei Rodrigues/ Consultoria da estrutura: Lourenço Martins Marques/ Confecção de peças: BM Serralheria (Bruno e José Moreira)/ Preparação Corporal: Beatriz Nobel, Lourenço Martins Marques, Renata Fernandes e Styvens Mafi/ Produção Executiva: Samuel Carvalho/ Produção Artística: Duna Dias e Samuel Carvalho/ Assistência de Produção: Eduardo Henrique/ Figurinista: Nazca Dias/ Costureira (cena varal): Maria Geralda de Carvalho/ Maquiagem: Nazca Dias/ Design Gráfico: Tiago Macedo/ Registro fotográfico e vídeo: Gilberto Goulart/ Mídias sociais: Vitor Drumond/ Assessoria de Imprensa: Luz Comunicação – Jozane Faleiro/ Contabilidade: Marcos Queiroz/ Audiodescrição: Vias Acessíveis/ Intérprete de Libras: Luana Sales/ Descrição de Imagens: Samuel Carvalho

Serviço

Roda de conversa – “Bambo” – dia 5 de agosto, 20h, gratuito – pelo YouTube da Cia Ananda

Bambo” – Ananda Cia. de Dança Contemporânea
Estreia: 12 de agosto (terça), às 19h

Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em frente ao Teatro Francisco Nunes, dentro da programação do Terça da Dança – Avenida Afonso Pena, 1.377, Centro – BH (MG)
Acessibilidade: Libras e Audiodescrição

14 de agosto (quinta), às 10h

Centro Cultural Venda Nova – Rua José Ferreira Santos, 184, Jardim dos Comerciários, BH (MG)
Acessibilidade: Libras

16 de agosto (sábado), às 10h

Praça Cristo Rei – Avenida Afonso Vaz de Melo, s/n, Barreiro, BH (MG)
Acessibilidade: Libras

16 de agosto (sábado), às 16h
Praça Duque de Caxias – Santa Tereza, BH (MG)
Acessibilidade: Libras

17 de agosto (domingo), às 10h
Parque Lagoa do Nado – Portaria 2 – Rua Min. Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã, BH
Acessibilidade: Libras

Todos os dias de espetáculos têm entrada gratuita.