Do riso ao soro – da multi artista Tereza Gontijo

DO RISO AO SORO

Atriz conta em livro vivências como palhaça em hospitais

Mineira radicada em São Paulo tem experiência de 16 anos levando alegria a crianças e adultos internados em instituições públicas de saúde

Em uma conversa íntima e acolhedora, com o livro Do riso ao soro – Reflexões de uma palhaça no hospital e a incrível jornada dos afetos, a multi artista Tereza Gontijo convida o leitor a partilhar sua experiência como palhaça profissional atuando em hospitais de grandes cidades brasileiras, através da associação Doutores da Alegria.

Há 16 anos, Tereza dá vida a Guadalupe, e com a palhaça vivencia histórias de luta em alas pediátricas e adultas de instituições públicas de saúde em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.

Mineira de BH radicada em São Paulo, Tereza constrói na obra uma narrativa afetuosa e introspectiva que conecta episódios pessoais e o que lhe é apresentado nos hospitais, um trabalho que, segundo a autora, transforma sua percepção de humanidade. A jornada é de levar alegria para pacientes, famílias, enfermeiros, médicos e funcionários.

“O livro é um mergulho investigativo. Examino como o encontro do humor com a dor, o desconforto e a morte, possibilitou o desvelamento da profundeza humana, suas fragilidades, potências e mistérios”, diz. Tudo o que guia sua carreira e revela sua grande paixão: as pessoas, suas histórias de vida e a possibilidade do encontro.

A narrativa não apenas explora a transformação pessoal da autora, como instiga o leitor a refletir sobre a autenticidade e os afetos em sua própria vida. Oferece a oportunidade de apreciar a beleza das experiências humanas e pensar sobre as conexões que tornam a existência mais significativa.

“Me dediquei durante sete meses a traduzir a experiência atuando como palhaça profissional em alas pediátricas e adultas de hospitais. É uma conversa longa, afetiva, sobre minha trajetória artística dentro da Doutores da Alegria. Mas não é necessário que você se interesse pela palhaçaria ou pelas artes cênicas, em geral. Minha conversa é sobre como essa experiência foi me transformando como ser humano, uma vez que passei a encontrar, rotineiramente, as situações limítrofes que acompanham uma internação”, relata.

Humor e arte para falar sobre dor, desconforto, frustração, tédio, doença, tratamento, cura, alta e morte. Algo que, para Tereza, a colocou em contato direto com o que havia de humano nos pacientes e famílias que atendeu e, mais ainda, com a humanidade latente em si mesma. Ela conta que, quando escolheu a carreira profissional como artista, jamais imaginou descascar as camadas da natureza humana, em suas palavras.

“Ao contrário do prestígio midiático que, porventura, projetei, ganhei profundos encontros com nossas fragilidades, vulnerabilidades, potências e magias, que revelaram minha maior paixão: as pessoas e suas histórias de vida, pelas quais sigo me apaixonando dia após dia quando visto minha máscara de palhaça e me coloco disponível ao encontro.”

Assim, o chamado é para que o leitor se deixe afetar por tal experiência e possa iniciar essa jornada em sua própria vida, família e trabalho: a incrível jornada dos afetos. “Por vezes, a vida cotidiana se torna uma experiência pasteurizada e automática. No entanto, quando ela acaba repentinamente, ou eventos trágicos nos assaltam sem aviso, o despertar acontece. É quando nos confrontamos com tudo aquilo que realmente tem valor: o amor, a comunhão, a resiliência, a alegria, a gratidão.”

O livro no mundo

Tereza fala sobre o potencial do livro para conversar com as pessoas sobre temas que vão além daqueles que estão ali. Agora, após vivenciar o processo de escrita, estruturou um trabalho de mentoria em que se reúne com um grupo de mulheres para orientar sobre o ato de escrever. Para ela, um projeto especial e diferente.

“A abordagem de escrita feminina é diferente de uma abordagem masculina. As mulheres são afetadas por aspectos específicos da sociedade. A escrita feminina passa por certos desbloqueios e lugares que são únicos e muito transformadores. É também sobre o próprio fazer artístico da mulher, da mulher palhaça. E eu quero muito conversar com as mulheres sobre isso”, diz.

Para a autora, o livro pode abrir conversa para médicos e estudantes de medicina, por exemplo, sobre formas de conexão com os pacientes mais humanas, mais afetuosas. “O livro tem contribuições nesse sentido. Fala de trocas humanas, profundidades humanas, e eu tenho muita vontade de trocar”, conta Tereza, que tem recebido retornos positivos dos leitores. “As pessoas se sentem acolhidas, curiosas e envolvidas pela escrita”, declara.

A artista reforça que não é uma obra que se resume ao fazer de uma palhaça no hospital – abrange aspectos do universo feminino, de mulheres, de mães, fala sobre a maternidade, conexões humanas, assuntos que podem ser levados para várias áreas da vida, e a intenção é justamente traçar essas pontes com as pessoas.

“O palhaço, na forma como eu trabalho, é uma via direta de acesso ao afeto. Se trata de se deixar afetar e se deixar transformar por essa humanidade que ele toca. E isso vai além dos palhaços em si. Vai para todos os seres humanos, que buscam essas conexões mais verdadeiras e transformadoras”, pontua.

Ranking

O livro foi lançado em 30 de agosto, na plataforma da Amazon Brasil, em versão digital. Quatro horas após o lançamento, se tornou best seller em três categorias no ranking da Amazon Brasil: História, Teoria e Crítica; Casos Verdadeiros e Peças Teatrais, ocupando o primeiro lugar de vendas entre as categorias “Mais Vendidos” e “Novidades”, em cada uma delas.

Ou seja, ocupou a dianteira de vendas em seis categorias, simultaneamente, em um dos maiores sites do mundo. Também figurou no 25⁰ lugar no top 100 dos mais vendidos de todo o site, que conta com dezenas de milhares de títulos.

Em pouco mais de 24 horas foram vendidos 476 exemplares. A obra alcançou ainda o topo do ranking de vendas de três países – Espanha, Reino Unido e Brasil – se tornando um best seller internacional. Em 15 dias, foram vendidos 601 exemplares, número que agora passa dos 612.

Pescadora de afetos

Tereza tem 38 anos, é atriz, musicista, professora e diretora teatral, além de especialista na palhaçaria, e uma artista premiada. Para ela, cada pessoa carrega um valor inestimável e uma história a ser honrada, uma expressão única.

“A beleza da diversidade é divina e partilhar humanidades há de ser das experiências mais transformadoras que temos o privilégio de vivenciar. Não à toa, além de palhaça, inventei-me profissões novas: detetive de metrô, jardineira de humanidades, pescadora de afetos.”