2º Fliparacatu recebeu 25 mil pessoas em diálogos sobre o “Amor, Literatura e Diversidade”

Entre 28 de agosto e 1º de setembro, passaram pelo festival 78 escritores locais, nacionais e internacionais 

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu  – Fliparacatu –  recebeu 25 mil pessoas entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro no Gira Fliparacatu, um circuito cultural, criado pela organização, no Centro Histórico da cidade, com programação específica em múltiplos espaços. O festival é idealizado por Afonso Borges, que divide a curadoria com Sérgio Abranches, Tom Farias e Leo Cunha. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, da Academia Paracatuense de Letras e da Fundação Casa de Cultura.

Na cidade que possui 18 quilombos e uma grande população  negra, a ancestralidade foi abordada tanto nas conversas entre 78 autores como também guiou os curadores na escolha das atividades artísticas destinadas ao público, que prestigiou a  segunda edição do festival realizada na cidade. “O Fliparacatu conseguiu, através da literatura, criar pontes com a ancestralidade, representada pelos movimentos afro-brasileiros ali existentes, como os quilombos, congado, artesanato e culinária”, avaliou o presidente e curador do festival, Afonso Borges. 

Com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”, o Fliparacatu reuniu 71 autores, entre  locais, nacionais e internacionais. “O Fliparacatu é a celebração de respeito e dignidade do autor brasileiro, todos em consonância com o legado de Conceição Evaristo e Ailton Krenak (Homenageado desta edição). E tudo graças à Lei Rouanet,  do Ministério da Cultura, num patrocínio da Kinross”, avalia Borges.

O livro, a literatura e a leitura formaram o coração do Fliparacatu. Foram lançados 51 livros e 20 mil colocados à venda, sendo 4 mil títulos,  na livraria do festival. Para a realização do evento foram criados empregos diretos e indiretos para 300 pessoas.

O poeta Lucas Guimaraens também homenageado nesta edição, foi laureado, na mesa de abertura do  festival, com a leitura de diversos poemas pela atriz Júlia Lemmertz.

A mesa de encerramento foi uma conversa entre Ailton Krenak, homenageado nesta edição do festival, e os curadores do Fliparacatu, Tom Farias e Sérgio Abranches. O jornalista Jamil Chade leu uma carta escrita para Krenak antes de a conversa ter início, emocionando o filósofo imortal e a plateia, que lotava o Auditório Afonso Arinos.  “Ao te homenagear, nós todos aqui não apenas nos curvamos diante do homem Ailton Krenak. Mas nos unimos à tua luta por um mundo mais justo e saudável”, escreveu Jamil. E completou: “reflorestamos nossas consciências com tua noção de “corpo território” e as “cosmologias que totalizam uma visão sistêmica de vida com seres humanos e não humanos.”

Ao final de sua fala, Ailton recebeu mais uma homenagem, a declamação de um cordel contando a trajetória de vida do escritor, feita pelo cordelista Jonas Samaúma, curador da exposição “Vidas em Cordel”, do Museu da Pessoa, em cartaz em Paracatu até o dia 13 de outubro, na Casa Paracatu.  

O legado dos 18 quilombos à história de Paracatu foi apresentado na mesa “A Paracatu da outra margem da Praia do Macaco”, com as pesquisadoras Leonor Soares Costa e Lara Luísa e o compositor, seresteiro e integrante da Academia Mineira do Noroeste de Minas, Silvano Alves de Avelar,  todos os três quilombolas. Momento de muita emoção foi quando Conceição Evaristo, que estava na plateia, foi chamada ao palco depois da leitura da poesia “Vozes Mulheres”, do livro “Poemas de recordação e outros movimentos”, da escritora mineira. Nos meados do século XVIII, nasceu o Arraial de São Luiz e Sant’Anna das Minas de Paracatu, impulsionado pela extração do ouro retirado dos depósitos aluviais locais. Parte significativa da população de Paracatu é formada por pessoas negras, que construíram a história do município. 

O festival se constitui como espaço de construção de um pensamento sobre o Brasil contemporâneo ao reunir nomes como os imortais pela Academia Mineira de Letras, Conceição Evaristo, e pela Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, e escritores como Itamar Vieira Júnior, Zeca Camargos, Eliana Alves Cruz, Jeferson Tenório, Ruth Manus, Bianca Santana, Livia Santana Vaz e muitos outros. A ministra e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia Antunes Rocha, prestigiou o festival em uma conversa por vídeochamada com Sérgio Abranches.

O Fliparacatu também estabelece uma ponte com a literatura mundial contemporânea ao convidar autores como Teresa Cárdenas (Cuba); Igiaba Scego (Itália); Roberto Parmeggiani (Itália) e Emanuelle Arioli (França). 

Palavra também é brinquedo 

A programação voltada ao público infantojuvenil foi o ponto alto do festival, que contou com a presença de cerca de 3 mil alunos e alunas das escolas públicas e privadas de Paracatu.

Sob a curadoria de Leo Cunha, recebeu autores como Tino Freitas, Estêvão Ribeiro, Alessandra Roscoe e Marco Haurélio. Esta edição contou com o lançamento do primeiro livro de Itamar Vieira Junior voltado para as infâncias, “Chupim”.

As sessões dos autores com a criançada, sob o nome de “Palavra também é brinquedo”, foram momentos de muita ludicidade e alegria. Outro momento de destaque foi a apresentação de cordéis à garotada capitaneada pelo cordelista Marco Haurélio.

“Acreditamos que o espaço infantil é o local de alimentar a ideia das crianças de, quem sabe, além de leitores podem ser alguém que vai desenhar ou escrever a própria história”, destacou Tino Freitas.

Encontro entre autores e com o público 

O formato do Fliparacatu permite o encontro entre autores com diferentes escritas e origens geográficas, sociais e culturais; e o encontro desses autores com o público.

As mesas, compostas por três autores, não seguem um tema previamente estabelecido. As conversas, que giram em torno do tema do festival –  nesta edição ” Amor, Literatura e Diversidade” – trazem reflexões sensíveis e análises sobre o Brasil. 

A composição das mesas leva em conta a diversidade de gênero, racial, origem geográfica. O amor, nas mais diferentes formas, foi tema da conversa entre Paulo Lins, autor do premiado “Cidade de Deus”, e da promotora Lívia Sant’Anna Vaz, autora de “A Justiça é uma Mulher Negra”. Também foi abordado o amor na perspectiva das culturas indígenas pelas autoras Geni Nunez e Trudruá Dorrico – duas proeminentes autoras indígenas.

Memória, como lidar com fissuras sociais resultantes da escravidão e da ditadura militar; o fazer literário; o papel da língua portuguesa; direitos de povos independentes e quilombolas e inclusão de pessoas com deficiência foram alguns dos assuntos abordados, nos cinco dias de evento.

Jovens leitores e escritores

O Prêmio de Redação e Desenho do Fliparacatu condecorou 21 alunos de 4 a 18 anos de escolas públicas e privadas de Paracatu em seis categorias – três para desenho e três para redação. Foram premiados o primeiro, segundo e terceiro lugares de todas as categorias  com prêmios em dinheiro, nos valores respectivos de R$ 300, R$ 500 e R$ 1 mil. Nesta edição, foi criada uma categoria voltada a crianças e adolescentes PCDs.

Os alunos criaram as redações e desenhos depois de visitarem a exposição “Muros Invisíveis: professores negros”, que homenageia 21 professores negros da rede pública da cidade. “Na educação, o Fliparacatu colocou milhares de estudantes escrevendo redações sobre as professoras e professores negros de Paracatu”, destacou Afonso Borges.

A exposição é uma realização do Ministério Público, por meio da 3ª Promotoria de Justiça de Paracatu, a Plataforma Semente, Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente – Caoma – e a Associação Cultural Sempre um Papo, em parceria com a Prefeitura de Paracatu.  

Homenagem

O cônsul da França em Minas Gerais, Vincent Nedelec, concedeu à Conceição Evaristo o título Cavaleiro das Artes e Letras, uma condecoração cultural francesa que reconhece a contribuição de uma pessoa para as artes e as letras, ou a sua criação artística ou literária.

Transmissão 

Todas as mesas e atividades do Fliparacatu foram transmitidas nos canais do festival. A equipe de comunicação contou com 21 profissionais de audiovisual, Web, imprensa e fotografia. Todas as mesas podem ser assistidas no canal do Fliparacatu no YouTube (https://bit.ly/4gbV46o) .