Ação faz parte do Projeto “DOCILARÉ no Quintal do Treze – Roda de Samba, de volta ao começo” que tem entre outros objetivos divulgar a história e os trabalhos dos compositores de samba autoral em Belo Horizonte; potencializar, fortalecer e valorizar o comando feminino de negras nas rodas de samba
O Coletivo Docilaré formado pelas cantoras Dóris, Cida Reis, Vivi Amaral e Raquel Seneias, realiza apresentação musical onde haverá um encontro entre o Samba Canção, o Samba de Roda, o Partido Alto, o Samba Reggae e o Pagode. O repertório será composto por músicas de seus trabalhos autorais, além de sambas importantes do cancioneiro brasileiro. Durante o show, as cantoras homenageiam Dona Ana Elisa, renomada sambista e compositora, figura central da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte. Seu álbum, “Diploma da Vida”, marca um importante passo na sua carreira, contudo, ela possui mais de 700 composições registradas, tendo passado mais de 50 anos envolvida com essa expressão cultural brasileira.
A apresentação será realizada no sábado, dia 28 de junho, de 15h às 19h30, no Quintal do Treze, que está localizado na Rua Jataí, 1.309, bairro Concórdia. Os ingressos podem ser adquiridos através da página do Sympla pelo link: https://www.sympla.com.br/preview/24d62cee721fbefca6ebb7f297a45867 e custam R$ 15,00
O evento também propõe uma viagem aos primórdios do surgimento do samba no Brasil, quando suas rodas aconteciam nos terreiros de candomblé das “tias Ciatas” existentes na região portuária do Rio de Janeiro, conhecida como Pequena África. Um lugar onde baianas/os nagô e mineiras/os jeje criaram juntos as primeiras células harmônicas que dariam origem ao mais brasileiro dos ritmos.
De acordo com Cida Reis, cantora, intérprete e sambista há 30 anos, o Quintal do Treze, local onde acontecerá o projeto, foi escolhido por ser uma referência para os moradores do Bairro Concórdia, além de artistas da cidade, bem como de outros estados do Brasil, se consolidou como local tradicional onde se realizam manifestações da cultura negra na Capital, por garantir a permanência de um conjunto de expressões simbólicas que fazem parte da identidade cultural da Capital. Lugar de junção da fé, com a festa, com a alegria e diversão, onde se comemora a união e celebra a vida. E também um espaço cultural tradicional, Ponto de Cultura, reconhecido como Patrimônio Imaterial de BH – Guarda Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário e Terreiro de Umbanda São Sebastião, no Bairro Concórdia, Regional Nordeste, da capital mineira.
“Vamos fortalecer o Terreiro do Treze de Maio como Ponto de Cultura, espaço de práticas culturais que fortalecem a identidade negra da região Nordeste em particular e toda a cidade de Belo Horizonte no plano geral. Além de difundir e valorizar um local de expressão tradicional e popular da cultura negra na/da Cidade”, afirma Cida Reis
Ausência de mulheres – Historicamente as mulheres negras sempre estiveram à frente no comando das rodas de samba. Elas eram as principais propagadoras e incentivadoras das rodas, responsáveis pela alimentação de todos com seus deliciosos quitutes e saborosos pratos. Nas rodas de partido alto determinavam quais letras e músicas teriam sucesso na avenida e vida longa no cancioneiro popular.
No entanto, no início da construção deste ritmo musical elas não podiam integrar como sambistas as alas de compositores nas Escolas de Samba. “Se nos primórdios as casas de samba instaladas nas periferias atraiam, na sua maioria, negros e negras, a partir do final do século XX e primeira dezena do século XXI, viu crescer a presença do samba nas regiões centrais e redutos da classe média, ao mesmo tempo em que se diversificou as tonalidades cromáticas nos tons de pele – no palco e na plateia – e novos sujeitos se somaram a esta modalidade musical” completa Cida Reis.
Porém, a cantora Dóris complementa que algo permaneceu inalterado que era a pouca presença de mulheres negras no comando destas rodas. E esta ausência, fruto do racismo institucional e do machismo cultural, precisava ter fim. “O principal impacto positivo deste projeto é fortalecer e legitimar a ocupação das mulheres em todos os espaços, além de potencializar, fortalecer e valorizar o comando feminino de negras nas rodas de samba”, destaca Dóris.
Difusão das tradições – O projeto pretende criar e sedimentar uma atividade mensal que potencialize a difusão das tradições entre gerações. “Queremos principalmente, garantir a permanência de um conjunto de expressões simbólicas que fazem parte da identidade cultural da capital mineira, que é a junção da fé, com a festa, com a alegria, a diversão, a comemoração, a união, celebrando a vida”, explica a cantora Vivi Amaral.
Este projeto foi aprovado pela Lei Municipal de Incentivo a Cultura/2024, modalidade Fundo. A renda da bilheteria será integralmente utilizada para cobrir as despesas do Espaço cultural.
Além deste show, o projeto prevê uma temporada de cinco outras apresentações, no formato de rodas de samba, que serão realizadas uma vez por mês, nas tardes de sábado, em homenagem a São Benedito e São Sebastião – patronos das manifestações culturais realizadas na casa, “Cada roda homenageia uma artista para ampliar a fruição e divulgação de composições clássicas do samba, incluindo os sambas de autoria dos compositores mineiros”, salienta Raquel Seneias, cantora que também integra o Coletivo.
Quem somos – O Coletivo Docilaré formado pelas cantoras: Elzelina Dóris, Cida Reis, Vivi Amaral e Raquel Seneias, teve início na virada Cultural de Belo Horizonte, no ano de 2022. Quatro mulheres sambistas que construíram suas carreiras driblando o preconceito social e o machismo no samba, utilizando diferentes estratégias para conquistar, mesmo que de forma independente, a realização do sonho de se tornarem cantoras. Quatro artistas que se unem para juntas comandar rodas de samba.
Dóris, mineira, nasceu em Belo Horizonte, e é uma das mais notáveis e raríssimas cantoras mineiras que não perde o prazer de interpretar e cantar com emoção momentos importantes da história do samba. A marca da tradição é a força de Dóris quando percorre com suavidade o itinerário musical do autêntico ritmo brasileiro. No palco, a originalidade criativa que Dóris imprime nas canções cresce em intensidade e mostra o seu prazer em cantar. Mesmo quando o samba denuncia injustiças, exalta a resistência e reafirma nossa memória e identidade, ao contrário de tirar o brilho, aumenta a carga emotiva das músicas e com a sua contagiante alegria, valoriza a sonoridade rítmica e a poética do samba, e com empolgação nos convida a cantar e a dançar juntos. Lançou seu primeiro CD Dóris Canta Samba, em 2007, e em 2022 lançou seu mais novo trabalho EP “Vivências” – ambos disponíveis nos canais de streaming musical (spotify, Deezer, youtube music etc),
Cida Reis, belo-horizontina, cantora e intérprete sambista há 30 anos. Produziu e lançou de forma independente o EP “Cida Reis”, em 2017, disponível no spotify, deezer, youtube music etc. Acompanha ativamente a movimentação musical negra em BH, onde já participou de vários projetos musicais, com destaque para: Festival Arte Negra/2003; Espetáculo “Ayabas” no “Trilha da Cultura”, 2004/05; Projeto Música Independente, 2008; Projeto “Kora Brasil”, com músico Senegalês Zal Idrissa Sissoko, 2011 e o Festival Música de Bhar, em 2018, ocasião em que ganhou o Prêmio de Melhor Intérprete.
Vivi Amaral, natural de Contagem, é cantora e intérprete desde os 13 anos de idade. Foi uma das criadoras do Projeto Samba Origem, que nasce inspirada nos duetos vocais comuns nas décadas de 20 a 40, onde o foco centrava nas harmonizações vocais. A frente deste projeto que durou seis anos, dividiu palco com importantes nomes da cena musical mineira e atuou como backing vocal nos CDs de vários artistas do samba em BH, tais como: Elzelina Dóris, Ana Proença, Sérgio Pererê, Adriana Araújo, Fernando Bento e Mara do Pandeiro.
Raquel Seneias, pioneira do Samba da Feirinha – roda realizada aos sábados à margem da Avenida Silva Lobo, faz parte de uma família tradicional do Samba, é irmã de Seu Domingos do Cavaco e referência do samba no Morro das Pedras, na região Oeste de Belo Horizonte. Desde os 8 anos Raquel gosta de cantar, mas não imaginava ser capaz de se apresentar ao público. Chegou a recusar convite para morar no Rio de Janeiro, onde teria a oportunidade de cantar com Jovelina Pérola Negra, “mas recusou por insegurança, por medo de não dar certo”. Mas hoje a história é diferente! A cantora não desiste de seu sonho e segue firme se apresentando nas rodas de samba de Belo Horizonte.
Apresentação musical do Coletivo Docilaré
Data: Sábado, dia 28 de junho de 2025
Horário: 15h às 19h30
Endereço: no Quintal do Treze – Rua Jataí, 1.309, bairro ConcórdiaValor: R$15,00
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