Mulheres em Círculo apresenta mapa de iniciativas locais 30/08

Em 2019, a segunda fase do projeto indica que mulheres estão se unindo para buscar novas formas de se organizar e chega para somar forças a estes coletivos

Um portal que reúne e dá visibilidade para iniciativas criadas por mulheres de Belo Horizonte e região metropolitana. Este é o Mulheres em Círculo, projeto idealizado por três artistas visuais: Lina Mintz, Catarina Maruaia e Renata Delgado, o Coletivo Naiá. Além de mapear os trabalhos e criar uma rede em torno deles, o grupo desenvolve material criativo com fotos e textos para apresentar cada um. Em 2019, 25 coletivos se somam aos 30 mapeados anteriormente e, no dia 30 de agosto, a nova fase será lançada no site www.mulheresemcirculo.com. O trabalho também estará acessível a pessoas com deficiência visual: a equipe de pesquisadores do SVOA criou audiodescrição de todo o conteúdo textual e visual da página.

Todo o projeto nasce a partir de encontros. Este ano foram mais de 200 propostas inscritas e analisadas pelo coletivo. Depois de selecionar, as integrantes do Naiá marcam uma tarde de conversas e trocas com cada grupo para conhecer melhor e então produzir fotos e textos. Em alguns casos, foram realizados ensaios fotográficos, em outros a cobertura de eventos. Em todos eles, o  registro foge do institucional e se aproxima do poético. “Além de promover uma reflexão social sobre os contextos nos quais essas mulheres estão inseridas, queremos incrementar a divulgação desses trabalhos. Elas poderão utilizar as fotos criadas para potencializar as próprias ações”, comenta Lina Mintz.

A diversidade dos projetos mapeados chama a atenção. Eles permeiam áreas distintas como arte, cultura, comunicação, social, militância, educação e empreendedorismo. No mapa, você encontra palhaças, artistas visuais, cineastas, cantoras, musicistas, rappers, ativistas, escritoras, artesãs, performers, grafiteiras, quilombolas, mulheres encarceradas, mães de crianças com deficiências, jovens que jogam RPG, entre muitas outras.

Tecendo redes

“Nós buscamos projetos de diferentes regiões da cidade, linguagens e temáticas. A ideia é que estes grupos troquem entre si, façam parcerias. A gente tem relatos de pessoas que conheceram outras por meio do Mulheres em Círculo e começaram a fazer trabalhos conjuntos”, conta Lina. Fomentar a atuação em rede é um dos grandes objetivos do projeto que, aos poucos, está se tornando um espaço de consulta: as pessoas já entram em contato para perguntar sobre outras iniciativas de mulheres. 

A palhaça e produtora Dagmar Bedê, integrante do Cabaré Divinas Tetas, é um exemplo. Ela estava em busca de parceiras para dar vida ao Divinas Bordas, projeto de fomento à arte da palhaçaria. “Foi por meio do mapeamento que conheci o Reunião de Mulheres, grupo do Morro do Papagaio que realiza reuniões voltadas para o acolhimento e incentivo ao exercício da cidadania. Também conhecemos o Cio da Terra, coletivo de migrantes, e o Teatro Entre Elas, grupo também do Papagaio. Junto a essas pessoas, vamos realizar oficinas e espetáculos circenses”, explica Dagmar.

União é força

Apesar de reunir projetos com propostas tão diferentes, criados por mulheres com vivências completamentes distintas, o Naiá percebeu que algumas questões são comuns a todas. Uma é que estas mulheres estão inventando novas maneiras de se organizar para realizar os trabalhos, para ir atrás dos sonhos. Juntas, elas apostam em criar redes de apoio, coletivos e deixam o modelo competitivo, de mercado, de lado.

A outra é um resgate da autoestima proporcionado pelas trocas.“Teve uma fala que se repetiu em todos os encontros: ‘eu estou fazendo a mesma coisa que eu sempre fiz, mas até então, nos grupos mistos, eu sentia constrangimento, eu me sentia inferior ou incapaz’. Num grupo apenas de mulheres, acontece alguma coisa que faz elas potencializarem quem elas são, que dá mais força pras ideias, pras propostas. A coisa é meio mágica, dá pra ver nos olhos delas que é diferente. E foi impressionante: a gente ia mudando de grupo, de região da cidade, de proposta, de linguagem e o relato era muito parecido”, relata Lina. 

O projeto Mulheres em Círculo tem mesmo esse objetivo: unir forças, valorizar a organização coletiva, ser um espaço de troca. “Estes trabalhos são independentes de financiamentos, a maioria é feita somando as forças das pessoas. Essas articulações são maneiras de resistir e continuar fazendo, independente da conjuntura. Junto é mais fácil. O projeto vem desse lugar também: o que falta em um projeto é exatamente o que o outro grupo propõe, então por que não crescer esse coletivo, juntar um com o outro, criar parcerias para possibilitar ainda mais”, reflete Lina. 

Além de continuar com a pesquisa e com o mapeamento, o Naiá tem planos de tornar  o Mulheres em Círculo também um festival. A intenção é abrir uma convocatória para os grupos mapeados proporem atividades como rodas de conversas, palestras, oficinas e apresentações, ampliando as possibilidades de trocas entre os grupos.

O projeto

Mulheres em Círculo foi criado em 2013 pelo Coletivo Naiá  como uma forma de criar oportunidades para as mulheres mostrarem o que realizam. Em 2017, foi lançada a primeira convocatória, que recebeu 180 propostas. 25 foram selecionadas e publicadas, junto a cinco grupos mapeados em anos anteriores, no site www.mulheresemcirculo.com, lançado em 2018. Em 2019, a segunda etapa do mapeamento é viabilizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e patrocínio da MGS Administração e Serviços. 

O Naiá é um coletivo artístico criado em 2012 que tem como eixo central de trabalho questões de gênero e autonomia das mulheres. O grupo é formado por três artistas visuais, Lina Mintz, Catarina Maruaia e Renata Delgado, que decidiram utilizar a arte como meio de expressão e reflexão.

Conheça alguns grupos mapeados em 2019:

Tecendo Diversidades – PrEsp

Tecendo Diversidades é um projeto desenvolvido pelo PrEsp BH (Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional) junto a mulheres privadas de liberdade, que cumprem regime semiaberto no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto. O programa oferece apoio para estas pessoas e seus familiares, com o objetivo de favorecer a vida em liberdade, as condições de acesso a serviços públicos e a garantia dos direitos sociais. O projeto leva oficinas, vivências e rodas de conversa com temáticas definidas a partir das demandas observadas no grupo, proporcionando um espaço de troca de experiências e reflexão sobre gênero, raça e encarceramento. 

Cabaré das Divinas Tetas

A palhaçaria é um espaço predominantemente masculino não só em presença, mas, principalmente, no que foi estipulado como risível. Algumas integrantes do Divinas Tetas relatam que tiveram seu trabalho diminuído ou mal compreendido em suas trajetórias. Muitas por vezes questionaram a própria competência ou se sentiram deslocadas. Em 2017, após assistirem em São Paulo um cabaré de palhaças, algo despertou em Daniela Rosa e Dagmar Bedê. Mexidas com o processo que vivenciaram, elas se reuniram com outras palhaças de BH e inauguraram o Cabaré das Divinas Tetas.

Coletivo Empodere se – Mulheres Quilombolas Pinhões

O Coletivo Empodere-Se nasceu da discussão sobre ser quilombola e a necessidade do reconhecimento jurídico da comunidade de Pinhões, enquanto remanescente de quilombo. Andreia Crivaro é a fundadora e está à frente do Coletivo, que conta, hoje, com mais de 40 mulheres. Com sede no  Espaço Quilombola Teto Aberto, oferece oficinas, cursos, cultura e lazer em parceria e escuta ativa com a comunidade. Além do acesso e da melhoria da qualidade de vida do seu povo, é uma preocupação do Coletivo o empoderamento das meninas e das mulheres a partir do reconhecimento da própria história e da busca pela construção da identidade quilombola.

 Casarelas

As integrantes do coletivo de performances Casarelas criaram seu próprio espaço para exercerem, criarem e viverem arte. Juntas se alimentam de forças para se colocarem no mundo. Acreditam no coletivo como articulador de rede, uma teia de mulheres que se fortalecem. A residência artística das Casarelas fala do estado de residir: o dia a dia é a performance, o cotidiano é a matéria para criação. O alimento, o cuidar, o quintal… Isso tudo é levado para o mundo pelas performances, intervenções e ocupações, que carregam as experiências vivenciadas pelo grupo na casa amarela.