O projeto transformou fachadas, fortaleceu vínculos comunitários com obras e intervenções artísticas entre julho e setembro
O MAMU (Morro Arte Mural) instalou um macro mural, com assinatura do artista plástico Jorge dos Anjos, no Aglomerado da Serra, a maior favela de Minas Gerais, situada na regional Centro-Sul de Belo Horizonte, fato que já é marcado como um grande feito para o território. Mas o legado que o Mamu deixa vai ainda muito além. Junto com a força estética, ficam as redes de contato fortalecidas, maior conexão entre artistas, moradores e instituições locais, além das oportunidades geradas por oficinas, trocas de saberes e vivências coletivas. O projeto transforma os espaços urbanos e também as relações sociais, deixando marcas duradouras de pertencimento, memória e valorização cultural.
As obras começaram oficialmente no dia 14 de julho, com a instalação dos primeiros andaimes para que as casas fossem rebocadas, já a pintura, iniciada em 18 de agosto, terminou no dia 12 de setembro. A escolha da Serra não foi aleatória, e sim estratégica, simbólica e conectada com a cidade. O Aglomerado da Serra é um dos territórios mais vivos, com potência cultural em constante ebulição, importante polo econômico e grande referência de produção artística periférica.
Para executar o trabalho aproximadamente 100 profissionais trabalharam diretamente, incluindo os pintores que fizeram o curso especializado da Norma Regulamentadora 35 (trabalho em altura) gratuitamente e agora estão qualificados para realizar o trabalho em altura, aumentando a sua empregabilidade e valorização no mercado.
Houve ainda grande participação ativa da comunidade nas atividades que foram desenvolvidas. Mais de 30 pessoas participaram da caminhada ecológica com o Kilombo Manzo; crianças da Escola Municipal Professor Edson Pisani e fotógrafos de Belo Horizonte fizeram os caminhos de uma visita guiada pelo macromural; 15 crianças participaram da oficina de pintura na rua da Água com a Raquel Bolinho; outras 30 crianças, outros alunos da Escola Municipal Professor Edson Pisani participaram do mutirão do lixo colaborando no plantio e entrega de mudas de ervas para a comunidade. Houve ainda a participação de 15 adultos no mutirão do lixo. A festa de encerramento foi um momento ímpar e contou com a participação de aproximadamente duas mil pessoas, levando em conta que o início da festa atraiu famílias inteiras com crianças, idosos e adultos, e à medida que a noite caia, os mais jovens chegavam.
Impactos econômicos
“Um dos pilares centrais do MAMU é a valorização da comunidade local. A participação local é amplamente reforçada durante toda execução”, conta Juliana Flores, diretora artística e curadora do projeto. O MAMU priorizou contratações e fornecedores do território, mais de 50% dos envolvidos eram moradores do Aglomerado da Serra. Para fomentar o desenvolvimento social e econômico do território, todos os materiais usados no reboco e pintura das casas foram comprados em comércios da própria região.
Diariamente eram entregues lanches e marmitas para alimentar os profissionais que trabalhavam no local, além disso, a equipe realizou a locação de uma casa para ser o QG do projeto. Houve ainda investimentos no local com a distribuição de camisas para a equipe, papelaria e entre outras coisas.
Além da pintura do macro mural, que utilizou 45 latas de tinta de 18 litros, ou seja, 810 litros de tintas de cores diversas, foram desenvolvidas atividades culturais com a população do território, entre intervenções, shows, oficinas e capacitações, oficina na rua da Água; intervenção artística no Canão, caminhada ecológica em parceria com Kilombo Manzo, sessão cinema, apresentação teatral com o Coletivo Andu, mutirão do lixo com coleta e revitalização espaço bota fora, nove shows e apresentações artísticas na Festa de Encerramento, e uma ação de troca de lâmpadas da Cemig, patrocinadora do MAMU desde a primeira edição em 2018.
Wallison Culu, morador nascido e criado no Aglomerado da Serra, foi um dos articuladores do projeto e pontua que a arte beneficia a comunidade, fortalece a identidade local e histórica do território. “O MAMU contribuiu para o pertencimento territorial, fomentando a criatividade, promovendo a inclusão social e a aceitação das diferenças. Funcionou como ferramenta de conscientização e diálogo social para abordar questões como arte, cultura, lazer, comunicação, fazer com que seja possível ouvir e sermos ouvidos, trazendo voz para quem precisa ter voz, além de inspirar também para mudanças positivas e esperança”, relata.
Além do Governo do Estado, Cemig, MAMU contou ainda com parcerias e apoios de instituições, empresas, coletivos, entre eles Associação de Moradores da Vila Santana do Cafezal, Lá da Favelinha, Kilombo Manzo, e a Escola Municipal Professor Edson Pisani.
Conheça o MAMU – O MAMU tem como objetivo fomentar a arte em regiões com potencial artístico, além de envolver a comunidade local na criação e execução do projeto. A equipe do MAMU conta com a participação de artistas locais e moradores, que são treinados em oficinas de formação artística. O MAMU não apenas embeleza as favelas, como também promove o senso de pertencimento e coletividade entre os moradores, transformando a arte em um elemento de transformação social.
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