Espetáculo ƎX -Imagination – 4 a 19/10

Peça vencedora, em 2023, do prêmio Lêda Maria Martins, volta ao cartaz em cinco cidades da RMBH

Volta aos palcos o espetáculo ƎX -Imagination, com dramaturgia da poeta Nívea Sabino e interpretação de Michelle Sá, a peça será montada, depois de passar pelo Festival de Arte Negra – FAN (2023), Festival Internacional de Teatro – FIT  (2024) e Festival de Teatro na Amazonas (2024), em cinco palcos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), como Ribeirão das Neves, dia 4/10, às 19h; Vespasiano, dia 5/10, às 18h; Contagem, 17/10, às 19h; Betim, 18/10, 19h; e Nova Lima, 19/10, às 18h.  Vencedor da edição 2023 do prêmio Lêda Maria Martins na categoria de Performance do Tempo Espiralar, o espetáculo remete à filosofia do afrofuturismo, levando para o público o espelhando com a realidade de cada um desses locais. “Essa circulação específica na região metropolitana tem uma importância muito grande, principalmente para equipe que participou das primeiras etapas de criação do ƎX-imagination. Alguns de nós são oriundas dessas cidades e isso coloca essa gente, da periferia, no palco”, explica a atriz. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados na hora da apresentação. A classificação é livre.

ƎX-MAGINATION conta a história de ƎX, uma alienígena que após perder a memória inicia uma jornada de autodescoberta na Terra, passando por terreiros, quintais e quilombos. Os temas abordados são o afeto, respeito e luta contra o racismo. “O espetáculo também condiz com a vontade de aproximar, de socializar as pessoas, que é essa coisa da intimidade”, atesta Michelle. Na época de sua estreia, há três anos, a peça foi montada em terreiros e quintais da capital mineira, também foi apresentada no Teatro Espanca. “Eu acho que o ƎX-Imagination quando estreia em quintais, em terreiros, por exemplo, a primeira apresentação foi no quintal da casa da família do Sérgio Pererê, tudo muito próximo. E para além de ser um território, que guarda muita memória, muita história nas cidades,” observa a atriz.

Levar o espetáculo para a RMBH é importante para a produção de ƎX-Imagination. Michelle Sá, a atriz da peça, é de Betim, Nivea Sabino, dramaturga, é de Nova Lima, e Luana Costa, a gestora do projeto, de Vespasiano. “Passei boa parte da minha vida em Betim, depois vim pra Belo Horizonte. Fazer esse espetáculo lá é muito lindo para mim, é um retorno, é um sankofa”, diz Michelle. Para além da questão pessoal, que é cara para os integrantes do projeto, é primordial levar uma peça tão relevante e com discussões tão necessárias para a periferia. “A região metropolitana é uma periferia, né?  ƎX-Imagination é uma obra que a gente sabe o quanto é potente e precisa continuar a circulação. Precisamos pensar em permanência porque para uma peça de teatro é importante alcançar outros lugares, ainda mais num país que ainda não consome essa arte de forma acessível”, observa a atriz. O objetivo agora é expandir para além capital. “Vamos manter o espetáculo vivo e desejamos conectar com os espaços, com os lugares, com as cidades. E principalmente numa perspectiva negra de cada município contemplado nessa circulação”, diz.  

De acordo com Michelle Sá, a motivação da peça, que foi elaborada ainda no período da pandemia, é a conexão com a memória. ƎX-Imagination apresenta um exercício de sankofa, que é o conceito que vem da África Ocidental, que representa a construção do futuro observando o passado. “A peça é essa reconexão com a memória. Mas é importante lembrar que ela está aqui, que a gente está interligado em vários tempos e que a gente é fruto de muitas coisas que vieram antes. É aí que ƎX-Imagination, essa história, que diz que é uma ficção, fala sobre a nossa realidade. Muito ancorada nos pensamentos afro-brasileiros e africanos como, por exemplo, fala desse olhar para trás para gente poder seguir para poder existir”, afirma.

Outra abordagem presente no espetáculo é a discussão da interseccionalidade. A realidade da mulher negra em todas as suas nuances e afetos é mostrada em ƎX-Imagination. “Falamos sobre a existência de mulheres negras, sapatonas, lésbicas e de promover de alguma maneira esse debate dentro desses territórios que são íntimos. Falamos de peito aberto sobre assuntos que na nossa sociedade colonizada são ainda tabus, falamos sobre afeto de mulheres negras sem ser esse lugar tradicional”, ressalta Michelle Sá.

Sobre a filosofia do afrofuturismo, Michelle afirma que é o reconhecimento dos talentos pretos. “As artes afrofuturistas são encantadores.  Eu falo aqui das histórias que estão no imaginário, quando você escuta um som nosso, faz com que a gente expanda a mente e olhe para além. Isso acontece quando escutamos Naná Vasconcelos, Jorge Benjor, referências da música, que nos conecta com a força da negritude que está no lugar da beleza, do intelecto, da espiritualidade e do encantamento. Então, o afrofuturismo permite isso, que a gente possa imaginar mundos possíveis, para além daquelas que foram impostas pelos processos coloniais”, explica Michelle Sá. A atriz reconhece o momento é da expressão decolonial nas artes. “A importância dessa filosofia sendo mobilizada dentro de uma obra teatral está nisso, estamos vivendo o momento de novas imagens para além daquelas que nos foram unicamente expostas, pelo menos pra da minha geração”, diz.

O grande objetivo de ƎX-Imagination é trazer questionamentos e promover conexões.  Michelle deseja que “as pessoas saiam da peça se perguntando sobre a sua história, sobre a história das pessoas, sobre a memória da cidade onde elas vivem. Que elas saiam conectadas a ideia da possibilidade de construir sobre os territórios, sobre a história, sobre a história negra, sobre a ancestralidade”, conclui.

Conversa de terreiro

Além de levar para o público um espetáculo teatral, a produção de ƎX-Imagination tem como objetivo ouvir a plateia, saber o que acharam do espetáculo e abrir um diálogo sobre os temas abordados. “A oralidade é muito importante. Os saberes pretos e indígenas chegaram até nós por meio da palavra. A oralidade é uma das fontes criativas e de conhecimento para esse espetáculo e projeto, por isso realizamos essas conversas pós espetáculo que chamamos de ‘Conversa de terreiro'”, explica Michelle Sá. Dessa forma, ao fim de cada sessão é realizado um bate-papo entre o público, atriz e um convidado especial, mediado pela dramaturga Nívea Sabino. Confira a lista de convidados:

Casa Semifusa:

– Maria Clara Ribeiro Soares é historiadora pela PUC-Minas e pós-graduada em Gestão Cultural de Base Comunitária pela FLACSO Argentina. Atua, desde 2012, como Produtora Cultural no Instituto Cultural Semifusa como Diretora de Projetos e Eventos.

– Rodolfo Ataíde é artista formado em gestão e Marketing, pós-graduado em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional e pós-graduando em Políticas Culturais de Base Comunitária. É membro fundador do Instituto Cultural Semifusa e foi Secretário de Cultura de Ribeirão das Neves. Também trabalha com gestão e produção cultural há 20 anos, com experiência no desenvolvimento de projetos comunitários em regiões periféricas.

Grupo Trama:

– Carlos Henrique é ator, diretor de teatro e produtor cultural com mais de 30 anos de atuação artística e um histórico consolidado à frente do Grupo Trama de Teatro, sendo um de seus fundadores. Além de ator e diretor, atualmente exerce a função de coordenador artístico do Grupo Trama com sede em Contagem.

Cine-Teatro Cansanção:

– Lucas Fabrício é ator, professor e diretor de teatro e cinema. Doutorando do programa de pós-graduação em Artes da UFMG, com pesquisa nas áreas de Criação Teatral e Vadiagem, e idealizador da Cansanção – Plataforma de Criação Artística. Atuou como professor em instituições de Ensino Técnico, como no Teatro Universitário T.U. – UFMG (2023/2025), CEFART – Palácio das Artes (2021/2022) e CICALT – Valores de Minas (2018/2021).

Quinta da Vó Laíde:

– Vó Laíde é mulher negra natural de Virgem da Lapa-MG e veio para Belo Horizonte com cinco filhos, em uma boleia de caminhão, fugindo da fome que assolava o norte de Minas na década de 1950. Sua vida foi moldada pela defesa do direito à alimentação adequada, que a levou a tornar-se cozinheira de forno e fogão. Chefiou cozinhas em organizações sem fins lucrativos de acolhimento a pessoas com deficiências múltiplas e atuou ainda na rede pública estadual de ensino em Belo Horizonte.

– Luana Silva Costa é ativista com trajetória nas lutas das juventudes, mulheres, negritude, educação e comunicação popular. Atualmente é analista de programas sociais no Sesc Palladium, articuladora de rede e mobilização social do Movimento Nossa BH e produginga no projeto ƎX-magination. É mestranda em Educação e Docência (FaE-UFMG), especialista em Direitos Humanos e Cidadania (IDH-MG), Ensino de Artes e Tecnologias Contemporâneas (EBA-UFMG) e bacharel em Comunicação Social (UNI-BH).

FICHA TÉCNICA

Coordenação do projeto, co-criação dramatúrgica e atuaginga: Michelle Sá
Dramaturginga: Nívea Sabino
Co-direção e co-criação dramatúrgica (1ª fase): Graziele Sena
Direção cênica, preparador corporal e maquiagem: Eli Nunes
Preparadora corporal: Scheylla Bacelar
Trilha Sonora: Arruda Hi – Tech: Manu Ranilla
Figurino (1ª fase): Juliana Floriano
Figurino (2ª fase): Anderson Ferreira
Cenário: Juliana Floriano, Nilson Alves e Veec Santos
Objeto cênico (Coração): Felipe Arthur Martins
Criação de luz e operação de luz: Régelles Queiroz
Colaboração cênico-textual e técnicaginga de som e assistência de montagem: Júlia Deodora
Gestão de projeto e produginga: Luana Costa
Produginga executiva: Liliane Souza
Arte gráfica: Renata Delgado
Programa virtual: Aristeo Serra Negra
Mídias sociais: Ed Marte
Assessoria de imprensa: Camila de Ávila
Intérprete de libras: Uai Libras
Fotografia: Mayara Laila
Filmagem: Pâmela Bernardo
Serviço de catering: Gabiroba Cozinha Mineira y Valdilene dos Santos
Parcerias: Casa Semifusa, Terreiro da Vó Laíde, Casa Josephina Bento, Cine-Teatro Cansanção e Grupo Trama.
Gingas participantes da pesquisa oralitura: Júlia Deodora, Benilda Brito, Eliza Carla, Flávia Tambor, Jamine Miranda, Jozeli Souza, Kelma Zenaide, Larissa Amorim, Marilda Cordeiro y Renata Paz

ƎX -Imagination

Data: 4/10, sábado
Horário: 19h
Local: Casa Semi Fusa (Rua Cataguases, 73. Sevilha B. Ribeirão da Neves)

Data: 5/10, domingo
Horário: 18h
Local: Quintal da Vó Laide (Rua Lima, 188. Sueli. Vespasiano)

Data: 17/10, sexta-feira
Horário: 19h
Local: Grupo Trama (Rua Avenida Carmelita Drummond Diniz, 527. Parque Maracanã. Contagem)

Data: 18/10, sábado
Horário: 19h
Local: Casa Josephina Bento (Rua Avenida Padre Osório Braga, 18. Centro. Betim)

Data: 19/10, domingo
Horário: 18h
Local: Cine-Teatro Cansanção (Rua Padre Américo Coelho, 185. Retiro. Nova Lima)

Ingressos: gratuitos com retirada na hora da apresentação
Classificação: livre