Ação reafirma o protagonismo feminino no samba de raiz da capital mineira e promete esquentar a tarde de sábado, deste inverno rigoroso
O próximo sábado, 19 de julho, promete ser inesquecível na capital mineira. O Coletivo Docilaré chega para agitar o bairro Concórdia, num show que reunirá música de alta energia e atmosfera festiva no Quintal do Treze, localizado na Rua Jataí, 1.309, das 15h às 19h30, A plateia será contemplada com a voz potente das componentes do grupo, Dóris, Cida Reis, Vivi Amaral e Raquel Seneias. Com batidas marcadas pelo pandeiro, tamborim, cuíca, ganzá, violão e cavaquinho, será um momento forte e contagiante, onde o público poderá interagir dançando e participando.
Os ingressos podem ser adquiridos através da página do Sympla pelo link: https://www.sympla.com.br/evento/docilarE-no-quintal-do-treze/3033919 e custa R$15,00.
Durante o show, as artistas convidam Ronaldo Coisa Nossa, que é o homenageado do dia, para cantar com elas. Ele apresentará cinco músicas autorais, que são caracterizadas não só pelo humor, mas também por canções com forte olhar político, que retrata a dura realidade do pobre e dos negros, em uma sociedade ainda discriminatória, além de outras em que ele descreve as pequenas coisas de seu dia a dia, extraindo poesia daquilo que a maioria das pessoas, com olhares endurecidos pelas mazelas da vida, não consegue mais enxergar.
De acordo com a cantora Dóris, sambista e compositora que é conhecida também pelo projeto Cantando e Contando a História do Samba, todos os detalhes da apresentação têm muito significado, passando pela escolha do homenageado e das músicas. “Escolhemos Ronaldo Coisa Nossa para ser homenageado por que ele compôs sambas por mais de 40 anos utilizando antigos papéis de pão, folhas de caderno e de embrulho e todo tipo de papel que tivesse em mãos, ou seja, não perdia nenhuma chance de registrar o seu olhar”, exemplifica.
Cida Reis, cantora, intérprete e sambista há 30 anos, complementa explicando que o local escolhido para a apresentação também possui um significado muito forte. “Um espaço de confraternização, além de ser um local de junção da fé, com a festa, com a alegria e diversão, onde se comemora a união e celebra a vida. E também um, Ponto de Cultura, reconhecido por agentes culturais como Patrimônio Imaterial de BH – Guarda Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário e Terreiro de Umbanda São Sebastião, no Bairro Concórdia, Regional Nordeste, da capital mineira”, explica.
O evento também propõe uma viagem aos primórdios do surgimento do samba no Brasil, quando suas rodas aconteciam nos terreiros de candomblé das “tias Ciatas” existentes na região portuária do Rio de Janeiro, conhecida como Pequena África. Um lugar onde baianas/os nagô e mineiras/os jeje criaram juntos as primeiras células harmônicas que dariam origem ao mais brasileiro dos ritmos.
Historicamente, as mulheres negras sempre estiveram à frente no comando das rodas de samba e eram as principais propagadoras e incentivadoras dessa grande ação cultural. Nas rodas de partido alto determinavam quais letras e músicas teriam sucesso na avenida e vida longa no cancioneiro popular. As mulheres eram também as responsáveis pela alimentação de todos com seus deliciosos quitutes e saborosos pratos.
No entanto, no início da construção deste ritmo musical elas não podiam integrar como sambistas as alas de compositores nas Escolas de Samba. “Se nos primórdios as casas de samba instaladas nas periferias atraiam, na sua maioria, negros e negras, a partir do final do século XX e primeira dezena do século XXI, viu crescer a presença do samba nas regiões centrais e redutos da classe média, ao mesmo tempo em que se diversificou as tonalidades cromáticas nos tons de pele – no palco e na plateia – e novos sujeitos se somaram a esta modalidade musical” completa Cida Reis.
Porém, a cantora Dóris complementa que algo permaneceu inalterado que era a pouca presença de mulheres negras no comando destas rodas. E esta ausência, fruto do racismo institucional e do machismo cultural, precisava ter fim. “O principal impacto positivo deste projeto é fortalecer e legitimar a ocupação das mulheres em todos os espaços, além de potencializar, fortalecer e valorizar o comando feminino de negras nas rodas de samba”, destaca Dóris.
Difusão das tradições – O projeto pretende criar e sedimentar uma atividade mensal que potencialize a difusão das tradições entre gerações. “Queremos principalmente, garantir a permanência de um conjunto de expressões simbólicas que fazem parte da identidade cultural da capital mineira, que é a junção da fé, com a festa, com a alegria, a diversão, a comemoração, a união, celebrando a vida”, explica a cantora Vivi Amaral.
Este projeto foi aprovado pela Lei Municipal de Incentivo a Cultura/2024, modalidade Fundo. A renda da bilheteria será integralmente utilizada para cobrir as despesas do Ponto de Cultura.
Homenageado – Ronaldo Antônio da Silva, conhecido como Ronaldo Coisa Nossa, passou sua infância e parte da adolescência no bairro da Lagoinha. Desde 1963 trabalhava em um ferro-velho na Rua Rio Grande do Sul. Nessa época teve a influência do som de Jair Rodrigues, Simonal, Jackson do Pandeiro e outros mais, onde passou a compor sambas. Na década de 90, Ronaldo abriu um dos principais redutos do samba em BH, o Bar Del Rangos, mais conhecido como Opção. Um patrimônio do samba belo-horizontino, o Bar Opção atravessa gerações com o amor à música. Recentemente, o Bar Opção recebeu pela Prefeitura o título de “Bares com Alma”.
Nos últimos anos, Ronaldo Coisa Nossa vem contribuindo no cenário musical mineiro, cedendo algumas de suas mais de 300 composições para músicos mineiros. Em 2007, decidiu colocar algumas de suas composições em dois CDs: Sob o signo do samba e Gotas, cada um deles com 12 composições, fazendo uma homenagem ao povo negro, à Velha Guarda e a todos amantes da MPB e que amam o Brasil. Os CDs foram gravados no subsolo do bar, onde Ronaldo construiu um estúdio, batizado de Kilombo Coisa Nossa. O álbum foi gravado pelo grupo Essência e convidados. Participou como membro na fundação de algumas escolas de samba como Bem-Te-Vi, Acadêmico das Alterosas e Unidos Guaranis, e hoje é integrante da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte e Mestre da Cultura do Samba.
Quem Somos – O Coletivo Docilaré formado pelas cantoras: Elzelina Dóris, Cida Reis, Vivi Amaral e Raquel Seneias, teve início na virada Cultural de Belo Horizonte, no ano de 2022. Quatro mulheres sambistas que construíram suas carreiras driblando o preconceito social e o machismo no samba, utilizando diferentes estratégias para conquistar, mesmo que de forma independente, a realização do sonho de se tornarem cantoras. Quatro artistas que se unem para juntas comandar rodas de samba.
Dóris – mineira, nasceu em Belo Horizonte, e é uma das mais notáveis e raríssimas cantoras mineiras que não perde o prazer de interpretar e cantar com emoção momentos importantes da história do samba. A marca da tradição é a força de Dóris quando percorre com suavidade o itinerário musical do autêntico ritmo brasileiro. No palco, a originalidade criativa que Dóris imprime nas canções cresce em intensidade e mostra o seu prazer em cantar. Mesmo quando o samba denuncia injustiças, exalta a resistência e reafirma nossa memória e identidade, ao contrário de tirar o brilho, aumenta a carga emotiva das músicas e com a sua contagiante alegria, valoriza a sonoridade rítmica e a poética do samba, e com empolgação nos convida a cantar e a dançar juntos. Lançou seu primeiro CD Dóris Canta Samba, em 2007, e em 2022 lançou seu mais novo trabalho EP “Vivências”. Em 2023 lançou o single “Samba das Pretas”. Composição de Dóris, Tom Corrêa e Veras. Em 2024 lançou o single “Declaração ao Samba” dos compositores. Gugu de Souza e Fred Veloso. As gravações estão disponíveis nos canais de streaming musical (spotify, Deezer, youtube music etc),
Cida Reis – belo-horizontina, cantora e intérprete sambista há 30 anos. Produziu e lançou de forma independente o EP “Cida Reis”, em 2017, disponível no spotify, deezer, youtube music etc. Acompanha ativamente a movimentação musical negra em BH, onde já participou de vários projetos musicais, com destaque para: Festival Arte Negra/2003; Espetáculo “Ayabas” no “Trilha da Cultura”, 2004/05; Projeto Música Independente, 2008; Projeto “Kora Brasil”, com músico Senegalês Zal Idrissa Sissoko, 2011 e o Festival Música de Bhar, em 2018, ocasião em que ganhou o Prêmio de Melhor Intérprete.
Vivi Amaral – Natural de Contagem, é cantora e intérprete desde os 13 anos de idade. Foi uma das criadoras do Projeto Samba Origem, que nasce inspirada nos duetos vocais comuns nas décadas de 20 a 40, onde o foco centrava nas harmonizações vocais. A frente deste projeto que durou seis anos, dividiu palco com importantes nomes da cena musical mineira e atuou como backing vocal nos CDs de vários artistas do samba em BH, tais como: Elzelina Dóris, Ana Proença, Sérgio Pererê, Adriana Araújo, Fernando Bento e Mara do Pandeiro.
Raquel Seneias – pioneira do Samba da Feirinha – roda realizada aos sábados à margem da Avenida Silva Lobo, faz parte de uma família tradicional do Samba, é irmã de Seu Domingos do Cavaco e referência do samba no Morro das Pedras, na região Oeste de Belo Horizonte. Desde os 8 anos Raquel gosta de cantar, mas não imaginava ser capaz de se apresentar ao público. Chegou a recusar convite para morar no Rio de Janeiro, onde teria a oportunidade de cantar com Jovelina Pérola Negra, “mas recusou por insegurança, por medo de não dar certo”. Mas hoje a história é diferente! A cantora não desiste de seu sonho e segue firme se apresentando nas rodas de samba de Belo Horizonte.
Apresentação Musical do Coletivo Docilaré
Data: Sábado, dia 19 de julho de 2025
Horário: 15h às 19h30
Endereço: no Quintal do Treze – Rua Jataí, 1.309, bairro Concórdia
Valor: R$15,00
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