Programação reúne 19 longas-metragens que, passeando do terror ao drama ao longo de mais de quatro décadas, reafirmam o sucesso tanto dos livros escritos pelo autor quanto das adaptações para o cinema feitas por grandes cineastas
“Carrie, a Estranha” (1976), “O Iluminado” (1980), “Christine, o Carro Assassino” (1983), “Louca Obsessão” (1990) e “It – A Coisa” (2017) são todos filmes de sucesso baseados na obra do escritor estadunidense Stephen King. Mas, para além das tramas de horror, essas histórias trazem fortes abordagens de dilemas humanos. Pensando nisso, o Cine Humberto Mauro exibe, entre os dias 27 de julho e 13 de agosto, a mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama”, com 19 filmes feitos por grandes cineastas ao longo de quatro décadas, tendo como base contos, novelas e romances do autor. Além das adaptações cinematográficas que ajudaram a consolidá-lo como o “Mestre do Terror”, a programação traz ainda longas-metragens fora do gênero, mas que lidam com os horrores internos de personagens facilmente identificáveis: “Conta Comigo” (1986) e “Um Sonho de Liberdade” (1994) são exemplos representativos. A mostra tem entrada gratuita, e a retirada de até 1 par de ingressos por CPF pode ser feita exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir de 1 hora de cada sessão.
A curadoria propõe, assim como a obra do autor, uma travessia guiada por temas atemporais como o medo, a infância, a morte e a redenção. Da ameaça primal em “Cujo” (1983) à sensibilidade inesperada em “Doutor Sono” (2019), da violência corporal em “O Nevoeiro” (2007) à dor emocional em “Cemitério Maldito” (1989), a obra de Stephen King é um longo corredor onde portas se abrem para lugares sombrios e, por vezes, para recantos estranhamente esperançosos. A programação reúne filmes que, embora nascidos de um mesmo manancial literário, percorrem caminhos cinematográficos muito distintos sob direção de nomes incontornáveis da sétima arte, como Brian De Palma, Stanley Kubrick e John Carpenter, além de pioneiras como Mary Lambert – uma das poucas mulheres a dirigir filmes de horror na década de 1980 – e cineastas contemporâneos em ascensão, caso de Mike Flanagan. Além das exibições, haverá sessões comentadas, nos dias 1º/8 (“It – A Coisa”, com Yasmine Evaristo) e 5/8 (“Conta Comigo”, com Antônio Pedro de Souza). Já no dia 2/8, o projeto “Cinema e Piano” traz uma ação especial: uma roda de conversa com performance ao vivo de trilhas sonoras de filmes inspirados nas obras de Stephen King.
A mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama” é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm a Cemig como mantenedora, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale e Grupo FrediZak, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. A ação é viabilizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Vale-Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução.
Imagens quebradas, mas sempre familiares – Em “Carrie, a Estranha”, primeiro livro publicado por Stephen King, o autor se vale do enredo sobrenatural para tematizar o bullying na adolescência e os impactos irreversíveis que essa prática pode gerar em toda uma comunidade. No filme homônimo, Brian De Palma mantém as discussões e as amplifica através de uma direção estilizada e de cores fortes, montagem ritmada e trilha sonora grandiosa. Já em “O Iluminado”, clássico do horror, Stanley Kubrick constrói uma atmosfera sufocante a partir da trama de uma família presa em um hotel abandonado durante uma rigorosa temporada de inverno. O próprio Stephen King criticou a adaptação, mas o filme se tornou um dos mais aclamados dentre as obras baseadas em suas histórias. Em “Christine, o Carro Assassino”, por sua vez, o escritor volta a abordar os percalços da adolescência em meio à trama de um veículo com uma consciência maligna. John Carpenter, “Mestre do Terror” no cinema, torna crível a trama inusitada, em um filme no qual a trilha sonora é o destaque.
Obras como “Cujo” e “Cemitério Maldito” tensionam ainda mais elementos da vida cotidiana: o primeiro, com sua claustrofobia ensolarada, transforma um cão em máquina de destruição, e a culpa em combustível narrativo; o segundo, talvez um dos mais perturbadores do universo criado por Stephen King, confronta o tabu definitivo — a morte de uma criança — e o desejo impossível de reversão, a partir do impulso que leva os personagens a profanar a natureza em nome dos laços afetivos. Já “Louca Obsessão” intensifica o suspense ao trazer a história metalinguística de um escritor acidentado que é mantido em cárcere por sua “fã número 1”. A interpretação de Kathy Bates, que protagoniza o filme, foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz Principal, feito raro para adaptações de Stephen King no cinema.
Entrando nos anos 2000, “O Nevoeiro” reintroduz o horror explícito, sendo uma adaptação célebre por seu final chocante e pessimista, e também por, como é comum no cinema baseado em Stephen King, usar do sobrenatural e do macabro para abordar as tensões em microcosmos sociais. Já em “It – A Coisa”, o terror é evidente e ganha uma forma monstruosa, que se esconde nos subterrâneos da cidade, mas é alimentado por algo mais real: o medo que cresce com as crianças e permanece nelas, adultas, como uma sombra persistente. Em “Doutor Sono”, por sua vez, o cinema e a literatura retornam ao clássico “O Iluminado”, e as obras resultantes acabam por ser uma crônica tanto da evolução dos personagens e seus traumas permanentes quanto a proposição de um olhar cinematográfico diferente e contemporâneo ao universo de Stephen King.
Para além do cinema de gênero, as criações do autor deram origem também a adaptações como “Conta Comigo”, no qual quatro garotos partem em busca de um cadáver e acabam encontrando o fim da infância, e “Um Sonho de Liberdade” (1994), em que a prisão torna-se espaço de resistência e imaginação. Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, explica que Stephen King não escreve apenas sobre monstros literais, mas também sobre o Mal que está nas entrelinhas, rondando famílias frágeis, amigos inseparáveis e cidades apodrecidas. “Seus contos e romances são como espelhos rachados que devolvem imagens deformadas, mas sempre muito reconhecíveis. E são esses reflexos que o cinema — em seus melhores momentos — também consegue mostrar com igual ou maior intensidade. Essa mostra, portanto, é um convite para que o público observe como o cinema se contamina ao tocar a literatura de King — não apenas nos temas, mas na atmosfera, na ambiguidade moral e na sugestão de que o extraordinário está sempre à espreita no cotidiano”, afirma Vitor Miranda.
CINE HUMBERTO MAURO – Um dos mais tradicionais cinemas de Belo Horizonte, foi inaugurado em 1978. Seu nome homenageia um dos pioneiros do cinema brasileiro, o mineiro Humberto Mauro (1897-1983), grande realizador cinematográfico. Com 129 lugares, possui equipamentos de som Dolby Digital e para exibição de filmes em 3D e 4K. Nestes mais de 45 anos de existência, a Fundação Clóvis Salgado tem investido na consolidação do espaço como um local de formação de novos públicos a partir de programação diversificada, bem como através da criação de mecanismos de estímulo à produção audiovisual, com a realização do tradicional FestCurtasBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, e o Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem de Baixo Orçamento. O Cine Humberto Mauro também é um importante difusor do conhecimento ao promover cursos, seminários, debates e palestras. Sessões permanentes e comentadas também têm espaço cativo a partir das mostras História Permanente do Cinema, Cinema e Psicanálise, Curta no Almoço, entre outros. Todas as atividades do Cine Humberto Mauro são gratuitas.
Mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama”
Datas: De 27 de julho a 13 de agosto
Horários: Variáveis
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes
(Avenida Afonso Pena, 1537, Centro – Belo Horizonte)
Classificações indicativas: Variáveis
Entrada gratuita; retirada de até 1 par de ingressos por CPF, exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir de 1 hora antes de cada sessão
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