Esquenta para as comemorações do junho LGBTQIAPN+, Museu Transgênero de História e Arte lança curta documental sobre trajetória de transmasculinos nas vivências drag king, queer, queen e ecodrag. Produção destaca a cena Ballroom e artistas negros como Akin Zahin, Brisas Project, Emy Roots, Lili Bertas e Zaíra de Las Palozas.
Estreia em maio o documentário PARA APAGAR O FOGO, projeto de Ian Habib, diretor do Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA), que traz destaque para a trajetória e as performances Drag de artistas transmasculinos, homens trans e não-binários do Brasil. “O filme celebra a comunidade LGBTQIAPN+ como um todo, usando imagens rituais de fogo, dança voguing e vivências cuir para apresentar modos de construção de memórias através da Arte Drag”, explica Habib.
Viabilizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, através do edital BH nas Telas 2023, o filme apresenta uma crítica às violências cotidianas que atravessam o dia a dia de artistas transmasculinos e à desvalorização histórica perpetuada tanto na cena cultural do passado quanto da atualidade.
No vídeo, são explorados rituais de montação e criação das personagens que dão vida a shows de drag kings, queers e queens, monstros, burlescos e demais performatividades sertanejas, bruxas, terroristas e ecodrags, em interlocução com teatro, contação de histórias, circo, performance, números de humor, djing, rap, dança voguing e música acústica e eletrônica.
ESTÉTICA
O projeto é uma investigação espacial, visual, musical e plástica. Ainda de acordo com Habib, o vídeo é experimental e comunitário, ou seja, feito de forma colaborativa, e possibilita o protagonismo de uma diversidade de existências transmasculinas para inspirar reflexão, além de convidar à realização de mais eventos desta natureza pela comunidade LGBTQIAPN+.
O foco estético do projeto se dá no work-in-progress, contra a lógica do “produto audiovisual”, experimentando o inacabado, o ruído, a estranheza sonora e a repetição, como as gravações caseiras feitas em shows punk e vídeos amadores das décadas de 1980 e 1990. Para reproduzir essa ambientação, as captações foram feitas no Teatro 171, espaço cultural alternativo e independente de Belo Horizonte, criado e gerenciado por pessoas LGBTQIAPN+.
O interesse dos artistas, então, é democratizar, por meio da festa performativa e do audiovisual documental, os modos de produção da linguagem Drag, em conjunto com dança e música, mostrando mais o processo de montagem das personagens, incluindo figurino, maquiagem e cenário, do que o produto final. O próprio processo de montagem faz parte da performance Drag captada pelo curta.
TRANSMASCULINIDADES NEGRAS EM CENA
O vídeo, com duração de pouco mais de 20 minutos, apresenta sete artistas reunidos pela primeira vez, considerando as variadas identidades de gênero, raça, classe, diversidades corporais e linguagens artísticas, de forma a estabelecer questionamentos em relação às normas cisheterossexistas e racistas vigentes em nossa sociedade.
Destaque para os transmasculinos negros e afroindígenas Akin Zahin, Brisas Project, Emy Roots, Lili Bertas e Zaíra de Las Palozas, de diferentes origens e linguagens artísticas, naturais e/ou residentes da capital mineira e cujas trajetórias múltiplas se complementam e enriquecem ainda mais a narrativa. São artistas da música e da performance, que movimentam a cena artística mineira emplacando lançamentos nacionais.
Brisas Ribas é um artista transmasculino não-binário e dragqueer natural de Altamira, no Pará. Talentoso e multifacetado, desde 2016 dá vida a Brisas Project, plataforma de experiências musicais, visuais e performáticas em que o artista explora a criatividade de forma independente. Cantor, compositor, violonista, guitarrista e performer, Brisas utiliza a música e o transformismo para questionar estigmas de gênero e navegar por temas como amor, ancestralidade e subjetividades negras e trans. Sua performance dragqueer adiciona uma camada de fantasia e impacto visual à sua arte. Em março, lançou o EP PERDOA, mini álbum com quatro faixas autorais que traz reflexões íntimas sobre culpa e (auto) perdão.
Akin Zahin é cantor, ator e modelo de Belo Horizonte. Jovem de raízes indígenas e negras da favela do Marimbondo, Zahin desponta como uma das grandes promessas do R&B nacional. Eleito o homem trans mais bonito do país pelo concurso Mister Trans Brasil em 2024, o artista acaba de lançar dois singles, Nova Era e Olhando pra Mim, mesclas de R&B e Dril. Filho da The Loyal Kiki House of Cabal, o multiartista também fomenta a cultura Ballroom, sendo referência de autoestima, lifestyle e empoderamento para outros homens trans e transmasculinos. Para o segundo semestre de 2025, prepara novos lançamentos, incluindo um feat com o rapper Emy Roots.
Conterrâneo de Zahin, o jovem Emy Roots lançou em 2024 seu primeiro álbum, Gênero, com 11 músicas autorais e tendo como primeiro single a música Não-Binári & Exibido, um rap que trata das vivências de um jovem não-binário, preto e favelado na capital de seu estado. O clipe que ilustra a faixa é uma produção independente estrelada por uma juventude trans que festeja em um cenário que poderia ser de qualquer periferia do país.
Artista negro e tensionador de gênero que agita a cena festiva de Belo Horizonte, Eli Nunes dá vida a Lili Bertas e conduz vivências de Arte Drag em busca de figuras Drag Cuir. Pesquisador da arte transdisciplinar em ambientes festivos como Cabaré, Carnaval e a Ballroom, Eli trabalha desde 2008 nas artes, mesclando diferentes linguagens como teatro, artes visuais e poesia. Formado em Dança pela UFMG, é diretor dos espetáculos ƎX-magination e AB!smo, da Breve Cia. de Teatro. No audiovisual, destaca sua atuação no longa Parque de Diversões, de Ricardo Alves Júnior, e no curta Kings, de Juliana Pamplona. Atualmente, integra os coletivos Moustache Queens, a House of Juicy Couture e o elenco da Plataforma Divinas.
Zaíra de Las Palozas é jornalista, produtor cultural e multiartista. Cineasta, DJ, compositor e fotógrafo, em PARA APAGAR O FOGO o músico oferece sua seleção que traz um panorama da música independente e fora do eixo, costurada aos hits atemporais que destravam memórias. Sempre privilegiando o som das periferias, negritudes, juventudes, das LGBT+, de originários e demais musicalidades revolucionárias, debochadas e dissidentes ao redor do globo.
Filme: PARA APAGAR O FOGO
Com Akin Zahin, Brisas Project, Emy Roots, Lili Bertas, Lilith the Quing, Statement Father Dante Barracuda e Zaíra de Las Palozas
Sinopse: trajetória e as performances Drag de artistas homens trans, transmasculinos e não-binários do Brasil, enquanto a memória de toda a comunidade é celebrada através de um ritual simbolizado por imagens de fogo, protagonizado por dança voguing, música e vivências queen, king, queer e eco.
Realização: Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA)
Onde assistir: mutha.com.br/para-apagar-o-fogo
Duração: 21:18
Ano: 2025
Gênero: documentário
Adicionar Comentários