Iniciativa da APPA em parceria com a Copasa chega à reta final com pinturas na capital mineira; etapa em Belo Horizonte acontece após entrega das obras em Pompéu, última cidade do interior mineiro a receber a segunda edição do projeto
Chegando à reta final de sua segunda edição, o projeto Arte nas Águas de Minas prepara o início das pinturas em Belo Horizonte, última cidade a receber a iniciativa nesta nova circulação. Na capital mineira, os murais começaram a ser criados nessa terça-feira, dia 2/12, no reservatório da Copasa no bairro Jardim Montanhês, na Região da Pampulha. Como de praxe, a produção dos trabalhos poderá ser acompanhada em tempo real pela população, durante os dez dias de criação. A expectativa é que os trabalhos sejam entregues no dia 12/12.
Sob a curadoria de Juliana Flores, foram selecionados por meio de convocatória pública os artistas locais Ed-Mun e Kakaw. Com reconhecimento internacional, Ed-Mun tem uma trajetória marcada pela pintura em larga escala, a partir de uma técnica de graffiti que reproduz imagens abstratas e grafismos variados com altíssimo realismo em 3D. Ele é autor do imenso mural inspirado pela arte indígena marajoara, em uma empena de 246,2 m², no centro de Belo Horizonte. Já Kawany Tamoyos, a Kakaw, é uma artista multidisciplinar de origem indígena que trabalha com murais, performances e instalações, do graffiti à ilustração, explorando narrativas entre a ancestralidade e a vida urbana.
“Ed-Mun foi selecionado não só por ter um trabalho incrível e de grande nível técnico, mas por poder representar o tema das águas com a cara da caligrafia e do graffiti 3D, estética que ainda não tinha sido contemplada pelo projeto. Já Kakaw é um dos maiores nomes femininos do graffiti em Minas e, ao mesmo tempo, jovem e com um futuro promissor. Kakaw trabalha muito com o feminino e apresenta no seu trabalho uma conexão interessante entre a ancestralidade indígena e sua vivência no graffiti”, afirma Juliana Flores. “A água, se fosse pessoa, certamente seria uma mulher. Creio que com, a seleção desses dois grandes artistas, conseguimos representar bem a potência da cena de BH e, ao mesmo tempo, criar um diálogo interessante com o tema do projeto”, completa.
Outro diálogo importante que a etapa de BH traz é entre os artistas selecionados e a artista convidada pela curadoria. Quem finaliza o projeto é também uma artista mulher e representante dos povos originários brasileiros: Yacuna Tuxá, é com a artista. Natural da cidade pernambucana de Florestas, artista visual e ativista brasileira originária do Povo Tuxá de Rodelas, no sertão baiano, Yacuna Tuxá tem uma prática artística é multidisciplinar e abrange ilustração, pintura, muralismo, escrita, escultura e outras experimentações.
Sua expressão artística é marcada por trabalhos que capturam a resistência e a organização política das mulheres indígenas na luta por direitos, em defesa da vida e das florestas. As interseções entre raça, gênero e sexualidade são temáticas recorrentes em suas obras. “Faz muito sentido para a curadoria encerrar este projeto com um grande nome da arte urbana brasileira que também é uma grande artista indígena, conectando assim seus saberes ancestrais e suas técnicas com estes dois grandes nomes selecionados pela convocatória local”, finaliza Juliana Flores.
Pompéu
Em Pompéu, na região Centro-Oeste, os artistas locais Alan Martins (SNUP) e Sara Silva (Sativa), além do convidado Bonikta (PA), transformaram a cidade do Centro-Oeste mineiro com imensos murais dedicados a reflexões sobre preservação da água e sustentabilidade. As obras foram entregues no dia 14/11, em cerimônia realizada na cidade.
Os artistas transitam por diferentes caminhos da arte urbana mineira. Alan Martins (SNUP), designer gráfico e muralista, é conhecido por mesclar o gesto rápido do spray com a textura do pincel, além de transitar por estilos variados de grafismos, criando composições de forte dinamismo visual. “Peixe dentro d’água”, de SNUP, junta tradição ribeirinha e paisagem urbana: a obra estabelece uma ponte entre os peixes e a comunidade local, representada pela Igreja Matriz e outros símbolos da cidade.
Já Sara Silva (Sativa), por sua vez, se dedica ao grafite há quase 10 anos e consolida uma identidade marcada pela linguagem das ruas, abarcada por referências urbanas e reflexões afetivas. Na obra “Águas que me atravessam”, a artista transforma o reservatório da Copasa em um “monumento sensível”, invocando a energia feminina e o fluxo vital que move territórios e comunidades.
Completando o trio, Caio Aguiar (Bonikta), natural de Ourém, no Pará, assina sua produção artística sob o nome “Bonikta”, referência às máscaras boniktas, desenvolvidas e nomeadas por ele, e que representam um vasto universo do imaginário da cultura e do folclore amazonense. A obra de Bonikta se manifesta em diversas linguagens, como ilustração, grafite, pintura, fotografia, vídeo, animação, tatuagem e confecção de máscaras. Seus trabalhos foram expostos na Bienal do Mercosul, na Bienal do Amazonas e na São Paulo Fashion Week (SPFW).
Em “Banho de Rio”, o artista mergulha em ancestralidade, espiritualidade e força feminina. A pintura evoca o banho nas águas vivas de um rio — um rito simbólico de purificação, cura e celebração da comunidade.
Arte nas Águas de Minas
A 2ª edição do Arte nas Águas de Minas é uma realização do Ministério da Cultura e da APPA – Cultura & Patrimônio, com patrocínio da Copasa. O projeto é viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. Realização: Ministério da Cultura, Governo Federal – do lado do povo brasileiro.
Estão contempladas as cidades de Alfenas, Brasília de Minas, Teófilo Otoni, Frutal e Pompéu. Em novembro, após as entregas dos murais em Pompéu, o projeto desembarca em Belo Horizonte para sua etapa final. No total, esta edição reúne 18 artistas, sendo seis nacionais, escolhidos pela curadoria de Juliana Flores, e 12 artistas locais, selecionados por edital público aberto nas cidades participantes.
Para a coordenadora de projetos da APPA – Cultura & Patrimônio e da 2ª edição do Arte nas Águas de Minas, Luciana Veloso, as entregas de obras artísticas pelo interior de Minas Gerais materializam o principal objetivo do projeto: modificar a rotina dos moradores do interior, levando reflexões sobre sustentabilidade e pertencimento por meio da arte.
“O Arte nas Águas é sobre transformar o que parecia invisível em algo que salta aos olhos. Trazer beleza, reflexão e, principalmente, pertencimento aos cidadãos. A arte urbana tem essa força bonita a mais porque ela fica no caminho das pessoas. E transforma o dia a dia de todos. Por que o que antes parecia comum, agora promove beleza, reflexão e críticas. E esse é o poder da arte”, avalia Luciana.
Toda essa pluralidade de expressões democratiza o acesso à arte e cria pontes para engajar as comunidades em torno de um tema urgente: a preservação da água, como reforça Cleyson Jacomini, Diretor de Clientes, Comunicação e Sustentabilidade da Copasa. “A arte tem o poder de comunicar de forma universal. Ao apoiar suas diversas linguagens, amplificamos a mensagem de que a água é um bem coletivo, mas finito. Esses murais são mais do que intervenções estéticas; são ferramentas de educação ambiental que reforçam nosso vínculo com as comunidades. A nossa atuação vem no sentido de aliar impacto visual e conteúdo transformador, tornando os reservatórios espaços vivos de diálogo sobre a sustentabilidade”, conclui.
Appa – Cultura & Patrimônio
A APPA – Cultura & Patrimônio é uma associação cultural, sediada em Belo Horizonte, sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo a promoção de iniciativas artísticas, culturais e patrimoniais que favoreçam o desenvolvimento socioeconômico.
Em mais de 30 anos de atuação, a APPA desenvolveu, gerenciou e executou com sucesso mais de 240 projetos aprovados em diferentes mecanismos de financiamento cultural — incluindo leis de incentivo, fundos culturais, convênios, termos de parceria e contratos de gestão. A instituição é referência na criação e execução de políticas culturais que fortalecem o diálogo entre arte, sociedade e sustentabilidade.




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