MAB alerta para agravamento da crise climática após granizo em Erechim

Fotos: Grasiele Berticelli_MAB

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manifesta preocupação com a destruição provocada pelo forte temporal de granizo que atingiu Erechim e municípios vizinhos no último domingo (23). O evento extremo, que afetou cerca de 40 mil pessoas, expôs mais uma vez a vulnerabilidade das populações diante da intensificação dos desastres climáticos no Rio Grande do Sul.

Segundo dados oficiais, milhares de casas tiveram seus telhados destruídos, 200 pessoas ficaram feridas e ao menos nove famílias seguem desabrigadas. Escolas, unidades de saúde e serviços públicos sofreram danos, e a agricultura familiar registrou perdas significativas, que incluem destruição parcial das safras de milho, trigo, hortaliças e danos estruturais em propriedades rurais.

O MAB ressalta que o episódio se soma à escalada de eventos climáticos extremos que têm marcado os últimos anos no estado, incluindo estiagens prolongadas, enchentes históricas e deslizamentos. Para o Movimento, a situação revela fragilidades das políticas públicas de prevenção, adaptação e resposta a desastres.

O Movimento informa que está mobilizado em ações de solidariedade às famílias atingidas, articulando apoio emergencial e reivindicando que os recursos públicos cheguem rapidamente às comunidades mais vulneráveis. O MAB também reforça a necessidade de medidas estruturantes permanentes, como melhoria dos sistemas de alerta, investimentos em infraestrutura resiliente e políticas baseadas em justiça social e climática.

A coordenação do MAB no Rio Grande do Sul reforça que seguirá acompanhando a situação em Erechim e na região, e destaca que a tragédia ocorre poucos dias após a realização da COP 30, evidenciando a urgência de ações concretas e efetivas para enfrentar os impactos da crise climática no cotidiano das populações.

A nota completa com a avaliação do Movimento e os dados detalhados sobre os impactos do temporal segue abaixo:

NOTA | TEMPORAL DE GRANIZO EM ERECHIM E OS IMPACTOS DA CRISE CLIMÁTICA NO RIO GRANDE DO SUL

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manifesta sua solidariedade às famílias e comunidades de Erechim atingidas pelo forte temporal de granizo ocorrido no último domingo, dia 23 de novembro. A tempestade provocou destruição em larga escala e colocou novamente em evidência a vulnerabilidade das populações frente ao agravamento da crise climática.

Segundo a Defesa Civil, 40 mil pessoas foram afetadas – somando 10 mil famílias – o que corresponde a mais de 1/3 da população do município. O número de feridos por estilhaços e quedas de telhados chegou a 200 pessoas e nove famílias seguem desabrigadas. Ao todo, 35 escolas e 12 unidades básicas de saúde sofreram danos estruturais, o que causou suspensão de aulas e interrupção temporária de serviços essenciais. Além disso, milhares de veículos foram atingidos pelo impacto das pedras de gelo.

O temporal começou por volta das 16h40 e, em apenas 20 minutos, atingiu a cidade com granizo de 05 a 10 cm de diâmetro, considerado de tamanho grande a gigante. A agricultura familiar foi duramente atingida. Laudo preliminar da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) e dados da Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto Uruguai (SUTRAF-AU) apontam perdas de 50% na safra de milho, 80 % no trigo e 60% nas hortaliças. Além de danos em estruturas como estufas, galpões e galinheiros e prejuízos em lavouras de fumo e fruticultura. Após se deslocar sobre Erechim, o temporal avançou para cidades da região, como Itatiba do Sul, Floriano Peixoto, Erval Grande e Getúlio Vargas.

A Prefeitura de Erechim decretou Situação de Emergência e iniciou a distribuição de lonas e o cadastramento das famílias. O Governo do Estado autorizou o repasse emergencial de R$ 1,5 milhão para compra de telhas destinadas às famílias mais vulneráveis, e a União articula o envio de materiais emergenciais por meio da Defesa Civil Nacional.

O que aconteceu em Erechim não é um caso isolado. Nos últimos cinco anos, o Rio Grande do Sul tem vivido uma escalada de eventos climáticos extremos que colocam em risco a vida, o território e os meios de sobrevivência das populações, especialmente das famílias trabalhadoras do campo e da cidade. Estiagens prolongadas, ondas de calor, chuvas intensas, enchentes, granizo e deslizamentos vêm se acumulando e revelam que os efeitos da crise climática já fazem parte do cotidiano do povo gaúcho.

Exemplos recentes são a estiagem de 2020 e as enchentes de 2023 e 2024. Somente em 2024, cerca de 478 municípios sofreram alagamentos, deslizamentos e colapso de estruturas. Estudos da Agência Nacional de Águas apontaram esse episódio como o maior desastre natural da história do estado. Os impactos foram agravados pelo fato de que, apenas 19% dos municípios gaúchos dispunham de condições fiscais adequadas para enfrentar emergências dessa magnitude. Além dos prejuízos materiais, as enchentes elevaram os riscos sanitários, com possibilidade de surtos de doenças, e provocaram adoecimento físico e sofrimento psíquico, conforme estudos da Fiocruz.

Diante deste cenário, o MAB avalia que a intensificação dos eventos climáticos revela a fragilidade das políticas públicas de prevenção, adaptação e resposta aos desastres. Para o Movimento, a solidariedade do povo para o povo é um princípio central. Por isso, estamos organizados para apoiar as famílias atingidas em Erechim e nas demais regiões, com mobilização de redes comunitárias, apoio emergencial e articulação política para que os recursos públicos cheguem de fato às famílias que mais precisam.

Seguiremos pressionando os governos para que medidas estruturantes sejam adotadas de forma permanente. Isso inclui políticas de reconstrução baseadas em justiça social e climática, fortalecimento dos sistemas de alerta e da Defesa Civil, investimentos em infraestrutura resiliente, apoio à agricultura familiar e garantia de direitos às comunidades atingidas.

É especialmente significativo que este desastre ocorra poucos dias após a realização da COP 30. Enquanto os debates internacionais discutem caminhos para enfrentar a crise climática, o povo brasileiro segue vivenciando de forma direta seus efeitos cotidianos. Isso demonstra que é urgente avançar em transformações reais construídas com participação popular e voltadas à defesa da vida, do território e dos direitos das comunidades.

O MAB reafirma seu compromisso de seguir organizado, mobilizado e vigilante, para que as famílias atingidas tenham seus direitos garantidos e para que o enfrentamento à crise climática avance com justiça e responsabilidade pública.

Erechim, 25 de novembro de 2025.
Coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens no Rio Grande do Sul – MAB/RS