Composta por trabalhos de seis artistas, a mostra “Como nascem os relâmpagos?”, parceria inédita com a 15ª edição do Festival Durante, que nesta edição apresenta a ação “Trupica, mas não”, mistura performance, pintura, grafitti, crochê e conta, ainda, com oficina, roda de conversa e apresentação da DJ Larissinha. A abertura acontece no dia 31 de outubro, às 19h, no Mama Cadela
De 31 de outubro a 2 de novembro, o Centro Cultural Mama Cadela, na Zona Leste de Belo Horizonte, recebe a exposição “Como nascem os relâmpagos?”, um encontro entre seis artistas que fazem do convívio e da amizade uma forma de criação. A mostra reúne trabalhos dos artistas Ártemis, Priscapaes, Fhero, Gustavo Machado, Line Lemos e Mariana Zani, artista visual e curadora da mostra, responsável por articular e provocar o encontro das forças poéticas do grupo. A ideia é propor um campo de diálogo entre corpo, gesto, memória e território. A abertura da exposição “Como nascem os relâmpagos?” acontece nesta sexta-feira, 31 de outubro, a partir das 19h, com as performances “Durante”, das 19h30 às 21h, seguida de roda de conversa mediada por Cesco Napoli, produtor do festival ao lado de Mariana Castanheira, das 21h às 21h30. A exposição é o eixo central de uma parceria inédita com o Festival Durante que, nesta 15ª edição, realiza no Mama Cadela a ação coletiva “Trupica, mas não”, uma performance com participação dos artistas Shima, Gus, Renata Mara e Perla, aproximando performance, experimentação e presença.
Assim como os relâmpagos nascem quando forças opostas se encontram nas tensões que se acumulam até o ar se romper num clarão, a exposição também se constrói como um campo de gestos individuais e afetos coletivos. No encontro entre os seis artistas algo se acende: a amizade vira método, e o convívio, matéria de trabalho. Cada artista apresenta uma pesquisa singular em diálogo com esse espaço de trocas. Line Lemos traz parte da pesquisa “Arqueologia doméstica de afetos e ruínas”, onde quintais familiares se tornam espaço de memória e resistência. Fhero, referência do graffiti desde os anos 1990, apresenta obras que carregam a energia da rua e a caligrafia urbana como forma de transformação do olhar e da paisagem. Ártemis expõe “Colo”, série de pinturas e performance que parte de uma fotografia de seu primeiro aniversário no colo do pai, explorando as tensões entre cuidado e ausência. Priscapaes apresenta crochês pintados como tramas, diálogos entre plástico e linha que evocam a efemeridade da vida e a possibilidade de permanência. Gustavo Machado investiga a instrumentalização da fé na política contemporânea, tensionando o uso da religiosidade como ferramenta de poder e controle.
Segundo Mariana Zani, a mostra se inaugura a partir de uma pergunta que não busca, necessariamente, uma resposta, mas que se mantém em suspenso. Partindo, talvez, de uma semelhança imagética e temporal: o acontecimento-relâmpago e a exposição-relâmpago, ambos marcados pela brevidade de sua duração. “Ainda assim, a exposição abre-se a outras conexões e sentidos. Afinal, o que é a arte senão atravessamentos, nem sempre tangíveis e quase nunca apreendidos no primeiro olhar? É preciso tempo e disponibilidade para que esses encontros se revelem”, relata.
Dessa maneira, a exposição “Como nascem os relâmpagos?” busca tornar visíveis os processos de pesquisa dos cinco artistas que compartilham uma mesma geração, uma mesma cidade e um mesmo contexto. “O convívio entre eles, sustentado por uma rede de amizade e trocas constantes, constitui também parte do trabalho, como um território de pensamento coletivo que alimenta e atravessa cada percurso individual. A partir dessas proximidades, outra pergunta se abre: quais são as maneiras de se apropriar do mundo sensível e de traduzi-lo em práticas artísticas?”, destaca Mariana Zani.
A mostra também apresenta relações com o trabalho da artista Lygia Clark, pintora e escultora brasileira contemporânea que se auto intitulava “não artista”. Em suas obras, Lygia aborda questões como a arte como um processo e experiência e não como resposta, mas como campo de experimentação. Nesse sentido, a exposição privilegia o inacabado, o experimental, o transitório, ou seja, a arte como processo em vez de produto. Outros temas associados ao trabalho de Clark são a busca da pergunta como método, um ato de interrogar o que é sensível, e não de oferecer certezas; o corpo e a relação como material; o instante como forma; o relâmpago como um acontecimento; e o coletivo como campo sensível compartilhado.
Performance “Colo”
Na performance “Colo”, realizada por Ártemis e Ítalo Augusto, a cena se abre em movimento. Entram balões cor-de-rosa, sons, o assobio característico do pai, marcas de presença que anunciam a ausência. O gesto de carregar é reencenado em tentativas insistentes de sustentar e ser sustentada, até o corpo se esgotar nesse jogo entre força e fragilidade. Não é sobre refazer a memória ou fixá-la, mas sobre expor sua falha: o cuidado que nunca se cumpre inteiro, o amparo que também fere, a cena que insiste e escapa. Pintura e performance se dobram uma sobre a outra e se repetem para deslocar, insistem para revelar. “Cada falha, cada gesto, cada versão mostra que a origem não se recompõe: ela se reinventa. É nesse espaço instável que o trabalho encontra sua matéria viva”, diz Ártemis.
Festival Durante – Ação “Trupica, mas não”
Especialmente para a exposição “Como nascem os relâmpagos?”, o Festival D 15º Festival Durante realiza, nesta sexta, 31 de outubro, das 19h30 às 21h, a ação “Trupica, mas não”, uma performance coletiva que ocupa um cais imaginário em uma Belo Horizonte marítima, com participação dos artistas Shima, Gus, Renata Mara e Perla, seguida de bate-papo mediado por Cesco Napoli, produtor do festival ao lado de Mariana Castanheira. A proposta parte da ideia de que “é caindo que se aprende a levantar: quando o tropeço se torna gesto, e o gesto vira dança, a queda pode ser entendida como criação”.
Oficina “Pintura a partir de um registro afetivo”, com o duo deslinde
Integrando a programação da exposição coletiva “Como nascem os relâmpagos?”, a oficina de pintura com deslinde, dupla formada por Ártemis e Line Lemos, propõe um encontro entre memória, imagem e gesto. A partir de fotografias de família ou encontradas ao acaso, cada participante será convidado a trazer uma fotografia impressa que desperte perguntas, lembranças ou estranhamentos. Durante a atividade, as artistas conduzem uma conversa sobre as imagens e orientam a criação de uma pintura inspirada nesse diálogo entre o que se vê e o que se sente. Assim como em seus trabalhos em exposição, Ártemis e Line exploram o território afetivo das imagens pessoais, abrindo caminhos de escuta, imaginação e criação compartilhada.
Mini-bios
Ártemis
Ártemis (Ilhéus, 1990) é artista plástica, arte-educadora, psicanalista e mobilizadora social. Há mais de 10 anos trabalha na intersecção entre arte, educação e saúde pública. Formada em Artes Plásticas com habilitação em Pintura pela Guignard (UEMG), sua pesquisa investiga as relações entre corpo, território e pertencimento. Sua produção pictórica transita entre o gesto íntimo e o coletivo: são murais, colagens e performances que articulam memória e afetividade. Para ela, pintar é uma forma de estar atenta ao que se move dentro, entre as pessoas e no mundo.
Line Lemos
Line Lemos (Belo Horizonte, 1989) é artista visual e educadora, com mestrado em História pela UFMG e graduação em andamento em Artes Plásticas na Escola Guignard. Publicou os livros em quadrinhos A Hora da Estrela (Rocco, 2025), Fessora! (Independente, 2021) e Artistas Brasileiras (Miguilim, 2018). Sua trajetória conecta arte, educação e ativismo, com experiência como arte-educadora em projetos socioculturais e no Centro de Referência em Saúde Mental do SUS. Sua produção diversificada inclui quadrinhos, zines, xilogravuras, pintura e intervenção urbana, formando um conjunto de trabalhos que exploram narrativas políticas e memórias sociais.
Fhero
Fhero – Fernando dos Santos (São Paulo, 1984) iniciou sua trajetória no graffiti em 1997. Desde o começo, as letras desempenharam um papel central em sua produção, influenciadas pelas tags. Com o tempo, passou a integrar imagens às suas composições, criando uma identidade visual única que une caligrafia urbana, formas expressivas e uma paleta vibrante. Com uma trajetória consolidada, Fhero participou de duas Bienais, incluindo uma na Colômbia, e de diversas exposições individuais e coletivas. Seu trabalho já integrou importantes festivais de arte na Europa e América Latina.
Prisca
Priscila Paes, também conhecida como Priscapaes (Curitiba, 1984), é bacharela em Artes Plásticas pela Escola Guignard. Sua formação artística também passou pelo teatro e pelo design. É arte-educadora desde 2011, ministrando oficinas para crianças e adolescentes. Publicou de forma independente os zines Pra Tua Presença Ausente, Profundidade e Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só. Em 2018, estreou sua primeira exposição individual, “Sempre Estive Aqui”. Assinou a curadoria de “Expo – 97”, do artista Fhero, e “Espelho Oculto”, de Ártemis Garrido, em 2022.
Gustavo Machado
Gustavo Machado é artista visual e designer, formado em Design pela UFMG, com especialização em Design Sustentável pelo Politécnico de Torino, pós-graduado em Arte Contemporânea pela UEMG e um dos fundadores do escritório de design Piau. Em sua pesquisa artística, que transita pela pintura, gravura, colagem e arte digital, discute a produção da imagem na contemporaneidade, relações de poder e o esgotamento do corpo humano dentro da estrutura de produção de capital.
Programação
Sexta, 31/10 – Abertura da exposição, performances “Durante” e bate-papo
19h – Abertura da exposição “Como nascem os relâmpagos?”, com participação dos artistas Ártemis, Priscapaes, Fhero, Gustavo Machado, Line Lemos e Mariana Zani, curadora da mostra
19h30 às 21h – Performances Durante – Ação “Trupica, mas não”, com participação dos artistas Shima, Gus, Renata Mara e Perla
21h às 21h30 – Roda de conversa mediada por Cesco Napoli, produtor do Festival Durante ao lado de Mariana Castanheira
*Entrada gratuita
Sábado, 01/11
15h às 17h – Oficina “Pintura a partir de um registro afetivo” (duo deslinde: Ártemis e Line Lemos)
Vagas: 10 vagas
Valor: R$50
Inscrições: https://www.even3.com.br/oficina-de-pintura-com-deslinde-644850/
Set DJ Larissinha: 17h às 20h
*Entrada gratuita, exceto na oficina de pintura ministrada pela dupla deslinde
Domingo, 02/11
14h às 16h – Mesa de desenho
16h – Performance “Colo”, de Ártemis e Ítalo Augusto
Encerramento da exposição “Como nascem os relâmpagos?”
Exposição coletiva “Como nascem os relâmpagos?”, parceria inédita com a 15ª edição do Festival Durante
Data: 31 de outubro a 2 de novembro de 2025
Abertura: 31 de outubro, das 10h às 19h
Local: Mama Cadela (Rua Pouso Alegre, 2048, bairro Horto/Santa Tereza)*Entrada gratuita em todas as atividades, exceto na oficina de pintura ministrada pela dupla deslinde




Adicionar Comentários