No dia 23 de agosto, acontece, no Espaço Mama Cadela, o lançamento do livro Salto, segunda obra da autora Clara Amorim, publicada pela Curva Editorial. Numa composição bastante contemporânea, marcada pela mescla de várias formas literárias, como poemas em verso, fragmentos, narrativas poéticas e memórias, o livro aborda, por meio do universo da natação e da água como metáfora, temáticas relacionadas ao feminino e às narrativas de mulheres, à passagem do tempo, às aprendizagens da vida. O lançamento acontecerá às 16h e conta com entrada franca. Mais informações no Instagram @claradamorim.
De acordo com a poeta e romancista paulista Lilian Sais, em seu novo livro, Clara Amorim propõe saltos no tempo, em um percurso de aprendizagens que vão da infância à adolescência e à vida adulta. Para ela, em Salto, “quem salta, em primeiro lugar, é o corpo lírico de uma mulher posto em cena, que se narra, geralmente, em primeira pessoa do singular. Em segundo lugar, um inventário de outros corpos líricos, narrados de fora, que vão compondo um mosaico de histórias, vidas, mulheres e fantasmas. Em terceiro lugar, nós, que, ao lermos o livro, adivinhamos a iminência de um baque, som resultado do atrito causado pelo produto do salto, que é sempre – e principalmente – algum tipo de queda.”
Clara conta que o ponto de partida para a escrita da obra Salto se deu a partir de um diário de natação, da observação do cenário da piscina, dos corpos nadando, aprendendo e ensinando a nadar. “A partir desse ponto que envolvia a água e a ideia de aprendizagem, eu comecei a tecer relações entre o gesto de nadar e o gesto da escrita: quais as semelhanças entre nadar e escrever? Fui descobrindo autores que já tinham pensado sobre isso e que diziam que tudo é uma questão de ritmo”, diz.
Segundo a autora, o desenvolvimento do livro se deu, também, quando ela começou a revisitar memórias pessoais e familiares que, de alguma forma, envolviam a água e principalmente as mulheres de sua história familiar. “A partir dessa constatação, foi surgindo uma cartografia de fragmentos de histórias dessas mulheres, transformando-as em personagens que se constituem e logo desaparecem em pequenos fragmentos e cujas histórias são permeadas pelas várias formas da água, como a piscina, o rio, o mar, a cisterna, o chuveiro, as infiltrações, as lágrimas”, diz.
Ao mesmo tempo em que as memórias relacionadas à água surgiam, Clara começou a se interessar por referências artísticas visuais, audiovisuais e literárias que tivessem a piscina como cenário. “Eu fui percebendo que a piscina, que a princípio é um espaço que remete ao lúdico, à brincadeira, a um espaço solar e leve, nessas obras artísticas tornava-se um cenário para coisas mais densas: tensões familiares, a descoberta da sexualidade, conflitos internos, assédios, até crimes; e isso me instigou a aprofundar nessa pesquisa da piscina e da água como um lugar que revela algo do inconsciente”, conta.
Salto é uma publicação de poesia marcada pela contemporaneidade de sua forma. “Eu entendo a obra como um livro de poesia que explora esse aspecto híbrido das formas que o compõem, com poemas em verso, pequenas narrativas poéticas, pequenos fragmentos, poemas em prosa. O processo de escrita foi me levando para um lugar de investigação e invenção da linguagem que aposta nessa mistura. No Salto, há uma certa encenação de um eu diante dessas várias memórias, desses vários fantasmas, dessas mulheres e suas histórias, habitando diversos cenários molhados”, revela a autora.
“É um livro que parece uma espiral. A partir desse fio condutor que é a água e o aprendizado, ele vai tecendo uma espiral entre os textos em torno do feminino, das memórias de mulheres, do aprendizado da escrita, dos saltos da vida, do que tropeça, e não necessariamente só do que salta”, ressalta Clara.
Salto foi editado em parceria com a editora Curva, coordenada por Alice Bicalho. Alice e Clara propuseram um processo editorial compartilhado e colaborativo, em que o original foi lido em voz alta e comentado em duas ocasiões antes de ser preparado. Além disso, o livro também conta com ilustrações da artista e psicanalista Olívia Viana e projeto gráfico de Ana Bahia, e o resultado é um livro que traduz a água, suas profundezas e sua maleabilidade não apenas em sua poética, mas também em sua visualidade.
Canção para fazer o sol nascer
Clara conta que seu primeiro livro, Canção para fazer o sol nascer, publicado em 2022 num projeto coordenado pela editora Carolina Fenati (Edições Chão da Feira), dialoga com a escrita de Salto. “Meu primeiro livro foi escrito a partir da vivência de um processo de luto, da perda precoce do meu pai. Foi uma maneira de registrar e elaborar essa experiência da perda, da ausência e de outros sentimentos que o luto traz”, conta.
Segundo a autora, Canção para fazer o sol nascer também transita entre vários gêneros e formas literárias, como o diário, fragmentos e poemas, resultando em uma linguagem híbrida. “Naquele momento, eu comecei a explorar algo que hoje entendo como uma marca forte da minha poética: a escrita que se dá pela experiência, pela vivência, a partir de um lugar autobiográfico e daquilo que se faz dele por meio da linguagem. Assim, o que antes era uma narrativa individual, particular, pode apontar para o universal – uma filha que perde um pai”, diz.
Sobre a autora
Clara Amorim é escritora e professora de linguagens e literatura. Canção para fazer o sol nascer, seu livro de estreia, foi publicado em 2022. É co-autora da coletânea de poemas Corpo de Terra, publicada em 2021 pela editora Quelônio. Ministra oficinas de criação literária, é editora na revista Cupim e é também uma profissional do livro, prestando serviços editoriais para diversas editoras.
Sobre a Curva Editorial
Curva é uma trajetória a ser atravessada por um ponto. Diferente da linha reta, indica maleabilidade e movimento. A Curva Editorial visa o trânsito entre textos, suportes, significados e ações. Formada por profissionais do livro, pesquisadores da cultura e da educação, a Curva é uma editora, uma escola, uma produtora de experiências partilhadas.
Lançamento do livro Salto, de Clara Amorim, publicado pela Curva Editorial
Local: Espaço Mama Cadela – Rua Pouso Alegre, 2048, Santa Tereza, BH
Horário: 16h
Mais informações: @claradamorim
*Entrada gratuita
Adicionar Comentários