Aulas de música para a terceira idade

NUNCA É TARDE PARA APRENDER MÚSICA

Aulas na terceira idade são benéficas para socialização e saúde, proporcionando bem-estar e auxiliando a exercitar a memória

Tocar violão sempre fez parte da vida de José Rubem, mas ele não levava isso muito a sério. Contador por profissão, “arranhava” um Roberto Carlos para a esposa e para os amigos de vez em quando, e usava o instrumento para se distrair. Aos 71 anos, já aposentado, descobriu que a música pode fazer muito mais por ele. “Via pessoas novas com perda de memória e comecei a fazer aulas para ‘trabalhar’ a cabeça. Depois de uma certa idade, a gente não pode parar”, conta.

Fazendo aulas de música há seis anos no Núcleo Villa Lobos de Educação Musical, José Rubem aprendeu maior variedade de ritmos e ganhou nova motivação para a vida. “Eu tocava por conta própria e busquei uma escola profissional para aprender mais. Assistia a shows de artistas que eu gostava, como Almir Sater e Renato Teixeira, e ficava encantado. Sempre quis tocar como eles”, ressalta.

Ao contrário do que muitos pensam, é possível aprender música em qualquer idade. Para José Rubem, ela ajuda no bem-estar e colabora para uma boa saúde mental. Como ele, várias outras pessoas acima de 60 anos têm buscado essa atividade pelo prazer que a música proporciona e pelos benefícios secundários, ou “não musicais”, que ela traz.

EFEITOS NA SAÚDE – De acordo com o médico e músico Dr. João Gabriel Marques Fonseca, professor do Núcleo Villa-Lobos, a música provoca quatro grandes efeitos na saúde, quando ouvida sistematicamente – ou seja, quando a pessoa ouve deliberadamente, por que quer ouvir. O primeiro efeito é na memória e cognição, ou seja, na capacidade de aprender. “As pessoas idosas normalmente têm uma grande capacidade de concentração e atenção. Com isso, a música é capaz de estimular a memória e a atenção crítica, o que traz um grande benefício cognitivo. E se, além de tocar e cantar, a pessoa se dispuser a praticar a composição musical seja na forma de um arranjo ou de criação de uma pequena obra musical, mesmo que seja algo muito simples, esse benefício será ainda maior”, ressalta o médico.

Outro grande efeito provocado pela música é o emocional. Segundo João Gabriel, ela mobiliza emoções de tal forma que pode ajudar na estabilização emocional de pessoas mais sensibilizadas ou com depressão. “Elas aprendem a música no contexto da escola e levam essa experiência para casa, para seu cotidiano pessoal e de seus familiares, em geral com efeitos estabilizadores”, relata.

Há, ainda, a resposta fisiológica que a música provoca. “A escuta ativa pode equalizar o funcionamento do sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) da pessoa, em boa parte responsável pelo controle dos sistemas fisiológicos vitais (coração, pulmão, pressão arterial, glicose sanguínea, etc.). Esse tipo de equilíbrio, propiciado pela música, pode colaborar no tratamento de doenças muito comuns, como hipertensão e diabetes. “Há vários trabalhos científicos que estudam o efeito da audição voluntária de música por pacientes em pós-operatório de grandes cirurgias, internados em CTIs, que mostram que essa audição deliberada faz diferença positiva na evolução do pós-operatório, com melhora na cicatrização e redução no tempo de internação em CTIs”, explica o médico.

Por fim, a música provoca um efeito motor claramente perceptível. Certos ritmos induzem o movimento como o baião, o samba e tantos outros. Essa estimulação motora é muito usada na estimulação corporal geral, bem como na recuperação de traumas, no tratamento de crianças prematuras ou com déficits motores, e para manter a atividade do corpo.

TÉCNICAS DIFERENCIADAS – De acordo com o diretor do Núcleo Villa Lobos, Matheus Braga, são utilizadas técnicas diferenciadas para alunos da terceira idade durante as aulas de música. “O aprendizado precisa ser mais direcionado, pois os idosos podem apresentar maior dificuldade de memória, por exemplo. No entanto, a própria música ajuda a estimular o cérebro para manter a mente ativa”, destaca Matheus Braga, diretor do Núcleo Villa-Lobos.

“A idade não limita nada. Temos alunos com mais de 80 anos e isso não é empecilho”, conclui. No início, são ensinadas músicas com poucas notas e, com o desenvolvimento, os professores aumentam o grau de dificuldade.

SOBRE O NÚCLEO – O Núcleo Villa-Lobos de Educação Musical é uma escola tradicional localizada nos bairros Santa Efigênia e Vila da Serra, que oferece aulas de música direcionadas para todas as idades, tendo uma metodologia especial para alunos da Terceira Idade. Sua missão é oferecer um trabalho de educação musical diferenciado, centrado na experiência musical, por meio de uma abordagem pedagógica criativa, lúdica e prazerosa.