Experiência editorial partilhada: O Diário Frágil 04/06 a 25/06

Projeto editora-escola é aposta para lançamento de obras independentes

“Experiência editorial partilhada: O Diário Frágil” propõe a edição coletiva de obra literária

Criada em 2018, a Curva Editorial foi lançada por profissionais do livro que procuravam se desviar dos caminhos lineares da produção editorial e experimentar outros modos – curvilíneos, com mais maleabilidade e movimento – de editar livros. A editora tem o objetivo de, durante o desenvolvimento de projetos, levantar questões teóricas e possibilidades práticas de transformar a edição do livro em algo que interfira nos contextos de produção e circulação da cultura. Assim nasceu o primeiro objeto, Poemas para o seu baile, um disco-livro composto de texto, áudio e imagem.

Agora, a Curva Editorial lança um projeto piloto de editora-escola, que pretende ensinar a editar a partir do universo de produção de cada livro. O primeiro projeto da editora-escola, “Experiência editorial partilhada: O Diário Frágil”, propõe a edição coletiva da obra literária Diário Frágil, de Laura Torres. Ele será realizado em duas oficinas, nas quais os inscritos participarão do processo de produção do livro, colaborando para o estabelecimento do original e definindo diretrizes para a preparação do texto e para o projeto gráfico.

Mais do que ensinar técnicas de produção de um livro, a ideia é abrir o processo de feitura e estimular um debate que irá interferir na obra final materializada.

“A ideia de criação da editora-escola tem muito a ver com a minha pesquisa de doutorado, em que analisei a experiência de produção de livros com povos indígenas. O foco foi o processo que chamei de edição orgânica, que é uma forma de edição que acontece nas comunidades. As equipes vão até as comunidades para dialogar com as pessoas, para saber que projeto vai ser feito, e esse projeto é feito junto com a comunidade. Essa é uma forma de produção tão distante do modo de edição industrial, em que a gente se insere em um espaço totalmente fechado, em que o diálogo é muitas vezes limitado e funcional, e que tem consequências para a recepção das obras, como, por exemplo, a invisibilização do processo que acontece entre o original e livro pronto”, explica Alice Bicalho, doutora em Estudos Literários pela UFMG e uma das criadoras da Curva Editorial.

O projeto lança luz sobre o trabalho de edição literária, que, por muitas vezes, sofre um apagamento no processo industrial da cadeia do livro.

“As pessoas acham que o livro que elas estão lendo é exatamente igual ao original que o autor entregou para a editora. O trabalho da edição fica invisibilizado e isso traz consequências para o que as pessoas entendem sobre o que é literatura, alimentando a concepção do autor que produz uma grande obra, única e exclusivamente com o seu gênio, e não como um processo coletivo que tem muitas mãos envolvidas. Essas mãos desaparecem no processo editorial”, descreve a pesquisadora.

Por serem on-line, as oficinas permitem que profissionais, estudantes e aficionados em leitura de todo o Brasil participem do processo de feitura do livro.

Na primeira oficina, intitulada “Original e transposição entre mídias: estabelecimento do texto”, os participantes atuarão no estabelecimento do texto que vai integrar o livro, a partir da leitura comparativa dos posts de um blog mantido por Laura Torres de 2018 a 2021, observando

aspectos da edição de livros e da teoria da literatura. Os participantes também irão discutir a importância e os limites próprios e necessários ao trabalho de um editor de textos literários.

As aulas são gratuitas e a inscrição na oficina pode ser feita por meio de formulário no site da editora: www.curvaeditorial.com.br. As aulas terão início no dia 4 de junho e a duração total da atividade é de 12 horas. Haverá certificado para os integrantes, que também terão os nomes creditados no livro.

Uma segunda oficina, que será oferecida no segundo semestre de 2022, abordará a materialidade e o projeto gráfico do livro. Não há vínculo obrigatório entre as oficinas, podendo ou não haver permanência dos alunos em ambas. O curso promoverá, portanto, uma realização conjunta, com participantes de diversos perfis, o que permite que a obra seja lida, elaborada e construída a partir de pontos de vistas diferentes e complementares.

“Quando nós editamos um livro, sabemos que é um processo em equipe, mas, ao mesmo tempo, é usualmente um processo linear de produção. A ideia de editora-escola possibilita transformar esse processo em um debate coletivo. Mistura as técnicas de edição de texto e preparação do livro e o pensar sobre esse texto, debater as suas questões e tratar cada obra como um universo único para a edição”, explica Carolina Leal, integrante da Curva Editorial e uma das docentes do curso.

Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Oficina “Original e transposição entre mídias: estabelecimento do texto”

com Alice Bicalho e Carolina Leal

Data: 4, 11, 18 e 25 de junho, das 14h às 17h.

Onde? On-line, pela plataforma Zoom.

Inscrições até 20 de maio pelo site www.curvaeditorial.com.br

Gratuita