Efeito Rebeca Andrade | Sucesso da atleta brasileira em Tóquio

Sucesso da atleta brasileira em Tóquio provoca aumento de 50% nas matrículas em escola de ginástica artística de BH

Apesar de comemorar alta do interesse pela modalidade, professor de educação física e fundador do CT Amigos do Esporte, enfatiza importância dos pais e responsáveis terem cuidado para não gerar falsas expectativas nos filhos sobre certeza de carreira promissora

Além de trazer reconhecimento internacional para a ginástica artística brasileira, as medalhas de ouro e prata conquistadas pela ginasta Rebeca Andrade nas olimpíadas de Tóquio, vêm aumentando o interesse pelo esporte, ainda pouco difundido no país. Meninos e meninas que mal sabiam quem era a atleta paulista antes da competição na capital japonesa, agora não só se inspiram como desejam trilhar o mesmo caminho de sucesso da medalhista. E o ‘efeito Rebeca’ tem provocado uma verdadeira procura de pais e mães pelos centros de treinamento especializados na modalidade.

 Em Belo Horizonte, por exemplo, o CT Amigos do Esporte, [escola que oferece o ensino e formação profissional em ginástica artística para crianças a partir de três anos], teve aumento de cerca de 50% nas matrículas nos meses de julho e agosto, o que causou, inclusive, a necessidade de expansão da infraestrutura. Duas das três unidades, localizadas nos bairros Buritis e Padre Eustáquio, que antes situavam-se em galpões de 300m² cada, tiveram que dobrar a capacidade física: agora oferecem as aulas em espaços de 700m².

O professor de educação física e fundador do espaço, Tiago Gusmão, comemora o crescimento, principalmente pelos efeitos benéficos que a atividade esportiva proporciona para a saúde e qualidade de vida de quem a pratica, mas enfatiza a importância dos pais e responsáveis terem cuidado para não gerar falsas expectativas nos filhos sobre a certeza de uma carreira promissora. “É óbvio que ser atleta de sucesso na ginástica artística é possível, mas requer anos e anos de treinamento e dedicação. A própria Rebeca Andrade começou ainda nova, em uma escola de Guarulhos, sua cidade natal. Por isso, estar em uma escola especializada não é garantia de que daqui há alguns anos, o aluno vai subir no lugar mais alto do pódio olímpico. É necessário trabalhar bem essa informação na cabecinha deles para impedir frustrações futuras”.

Ainda segundo Tiago, a decisão de se profissionalizar deve surgir a partir do desejo da criança e não dos pais. “É comum que muitos [pais] coloquem suas expectativas nos filhos, mas devemos, sobretudo, entender que a escolha sobre uma carreira na área cabe ao aluno”, acrescenta.

De acordo com Gusmão, o ‘Amigos do Esporte’ prefere acreditar na máxima de que antes de ser uma possível opção de carreira promissora, qualquer atividade esportiva deve trazer felicidade para quem a pratica. Por entender essa função primordial, a escola tem um projeto de caráter educacional e inclusivo, que visa oferecer a ginástica artística e o judô para meninos e meninas. “Recebemos autistas, pessoas com síndrome de Down, crianças com sobrepeso, que talvez seriam excluídos em modalidades coletivas”, conta.

Já para aqueles que querem se profissionalizar e competir em torneios oficiais, o CT desenvolve o projeto Atleta. Instituído em 2017, ele é focado exclusivamente no alto rendimento do aluno, com treinos que variam de seis a nove horas por semana. Para participar, os interessados são submetidos a uma seletiva que avalia eficiência, técnica e preparo físico. “O aluno pode, perfeitamente, estar conosco, apenas por hobby, sem o desejo de tornar-se um atleta. Com o tempo, caso ele realmente goste e tenha o sonho de ocupar o lugar no qual a Rebeca Andrade está hoje, poderá sim se aperfeiçoar. Mas essa decisão, volto a dizer, é unicamente dele e feita, principalmente, com consciência”.

 ‘A escolha será sempre do meu filho’

A dona de casa e estudante de Direito, Fernanda Souza, 28 anos, compartilha da opinião de Tiago Gusmão. Ela matriculou o filho, Benício, de apenas três anos, nas aulas de ginástica artística no Amigos do Esporte, há apenas duas semanas, após o pequeno se empolgar com os saltos e piruetas de Rebeca Andrade na TV. “Ao vê-la, ele pulava igual um cabritinho e dizia, mamãe quero ser igual a ela. Procurei uma escola aqui em BH, que oferece a modalidade, como forma de atender o pedido, mas se depois ele quiser parar, não vou insistir. As escolhas da vida dele serão sempre dele. O que estou fazendo agora é apenas permitir que meu filho tenha meios de realizar os sonhos da infância”.

Fernanda também não se incomoda com os comentários preconceituosos quanto ao fato do filho praticar um esporte ainda visto como feminino. “A primeira vez que levei Benício nas aulas, percebi que a ginástica artística, sobretudo, ensina sobre a importância da disciplina e atenção, promove a socialização, além de ser extremamente benéfica para o corpo e mente. Não é a atividade que a pessoa pratica que define sua orientação sexual. O importante é que ele seja feliz.”

Sobre o CT Amigos do Esporte

Fundado em agosto de 2016 pelos empreendedores Tiago Gusmão e Patrícia Lages, o Centro de Treinamento Amigos do Esporte tem o objetivo de aumentar o acesso de crianças e adolescentes a modalidades não populares. Apesar de 92% dos pequenos atletas estarem matriculados na ginástica artística, o CT é referência também em judô adulto e infantil a partir dos 3 anos. A escola conta com dois ginásios nos bairros Padre Eustáquio e Buritis, além de uma unidade na Pampulha. Todas atendem, juntas, quase 620 alunos. “Nossa expectativa é chegar a mil até o final do ano, além de uma nova casa nas adjacências do bairro Cidade Nova, região nordeste de Belo Horizonte”, conta Gusmão.

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