CCBB BH recebe “Vienen Por Mí”, primeiro solo de Fábia Mirassos, com texto da dramaturga chilena Claudia Rodriguez, ambas travestis, e direção de Janaina Leite – 30/08 a 23/09

Espetáculo trata sobre pessoas trans em um texto-manifesto de poesia e denúncia. Temporada acontece de 30 de agosto a 23 de setembro

Uma peça escrita por uma travesti com atuação de outra travesti. É assim que a atriz Fábia Mirassos define em poucas palavras “Vienen Por Mí”. O texto da dramaturga chilena Claudia Rodriguez ganha direção de Janaina Leite e é um convite para contestar as autoridades de forma plural e cênica, propondo metáforas que incluem o corpo travesti em diferentes linguagens, como poesia, performance, monólogo e stand-up. O espetáculo cumpre temporada no Teatro II do CCBB BH, de 30 de agosto a 23 de setembro, de sexta a segunda, às 21h. Os ingressos serão vendidos a partir de 15 reais, no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB. Todas as sessões terão acessibilidade em Libras e o programa estará disponível em braille. Após a apresentação do dia 14 de setembro, sábado, acontecerá um bate-papo com a atriz idealizadora Fábia Mirassos e a diretora Janaína Leite sobre o processo  e a trajetória de “Vienen por Mí” no Brasil.

A montagem é dividida em quatro atos, sendo um ensaio inesgotável entre arqueologia, maquiagem e filosofia travesti. “É importante salientar que falar sobre pessoas trans é quase sempre falar de violência. Seja esta de cunho físico, psicológico ou verbal. peçapossibilita uma biografia travesti diferente daquelas que aparecem nos obituários dos jornais. Porque se trata de uma travesti escrevendo sua história enquanto vive. E isso é tudo que importa”, explica Fábia.

Para a atriz, apesar de não ser uma história pessoal, “Vienen Por Mí” traz alguns atravessamentos, principalmente com a questão de dividir com o público como é ser travesti. “O texto da Claudia conclui que a forma como as travestis são tratadas no Chile é a mesma em que são tratadas no Brasil, o que leva a acreditar que são tratadas assim em qualquer lugar do mundo. É utópico – e ainda assim é possível – utilizar o teatro como meio capaz de tornar possível ouvir e enxergar travestis, pessoas, que na maioria das vezes, só são vistas como alvos de violências e violações.” 

Ferramenta política 

Fábia Mirassos já vem atuando com a temática LGBTQIAP+ desde 2017, quando estreou a montagem Pink Star, da Cia. Os Satyros, com direção de Rodolfo Garcia Vasquez. Na sequência, a atriz engatou alguns sucessos nos palcos e telas, como Luis Antonio-Gabriela, da Cia. Mungunzá de Teatro, com direção de Nelson Baskerville; Brian ou Brenda, com direção de Yara de Novaes e Carlos Gradim e as séries Todxs Nós (HBO) e Nós (Canal Brasil). 

O encontro com Claudia Rodriguez se deu quando Fábia fez a leitura do texto da dramaturga chilena dentro do projeto Histórias de Nossa América, do Coletivo Labirinto realizado virtualmente durante a pandemia. Na ocasião, a atriz teve conhecimento de que “Vienen Por Mí” foi escrito devido a necessidade da autora em contar suas histórias, mas não ter onde e nem para quem. “Como a leitura dramática era virtual, a Claudia assistiu e logo após a apresentação já trocamos algumas impressões. O pedido para encenar o texto no Brasil aconteceu logo depois”, conta Fábia. 

Claudia Rodriguez incentiva no Chile a biografia de travestis, transgêneros e transexuais, fazendo disso uma ferramenta política. A ativista também trabalha na conscientização das doenças sexualmente transmissíveis e juntou todas essas experiências na construção do texto. 

A dramaturgia é um recorta e cola de diferentes gêneros textuais, assim como a própria travesti, que, muitas vezes, é recortada e colada: do seu corpo, da sua história, da sua família ou da sua casa. “Vienen Por Mí também é isso, um copia e cola de narrativas com o intuito de construir uma biografia LGBTQIAP+ e ocupar um lugar de fala que até então lhes foi silenciado. Dizer por quem ainda não havia dito nada”, revela a atriz. 

Encenação minimalista 

Referência em teatro documental e autoficção no Brasil, Janaina Leite assina a direção de “Vienen Por Mí”. Com uma encenação minimalista, onde o público ficará próximo da cena, a diretora foca nos espelhamentos e diferenças entre o texto e as vivências pessoais da atriz Fabia Mirassos. “Apesar de abordar temas inquietantes e urgentes, a montagem não é denuncista. A ideia é se apropriar da delicadeza para dar voz ao discurso da transexualidade e falar de outras coisas inerentes ao humano, como desejo, alegria, humor e potência”, adianta Janaina. 

Com recortes de expressões e do corpo da atriz Fabia Mirassos, o desenho de luz de Aline Santini é um aliado do minimalismo proposto pela direção. Janaina Leite também propõe um tom ambíguo no espetáculo com a união das vozes de Claudia e Fabia: “As linhas de contradição desses corpos-manifestos aliadas à tensão do encontro de duas travestis de países diferentes”.

Sinopse

Sobre o que temos que falar, nós, as travestis? é a pergunta central do espetáculo “Vienen por Mí”, com concepção e interpretação de Fábia Mirassos e texto da chilena Claudia Rodriguez. Questionando preconceitos e estereótipos, ao mesmo tempo em que enfrenta as contradições de ser um corpo travesti, “Vienen por Mí”, surpreende por transitar com delicadeza em meio a um mundo barbaramente misógino. Acidez, humor e sensualidade são ingredientes de um prato que se come frio, como toda estratégica vingança. Mas “Vienen por Mí” surpreende também porque acrescenta a esse preparo, o amor. O amor travesti. E também o sonho, a criatividade, como nos contam os depoimentos de todas as travestis a quem Fábia convida para responder a pergunta norte do espetáculo. Renata Carvalho, Ave Terrena e Maria Léo Araruna. Vozes que se somam a esse coro travesti convidando à conversa, à partilha e a uma nova possibilidade de ver e contar a história travesti.

Ficha Técnica 

Idealização e performance: Fábia Mirassos/ Texto: Claudia Rodriguez/ Tradução: Carol Vidotti e Malu Bazan/ Direção: Janaína Leite/ Assistente de direção: Emilene Gutierrez/ Colaboração Artística: Carol Vidotti/ Desenho de luz: Aline Santini/ Técnica e operação de luz: Henrique Andrade/ Sonoplasta: Ultra Martini/ Visagismo: Fábia Mirassos/ Concepção de Figurino: Amanda de Moura e Fábia Mirassos / Confecção de figurino: Amanda de Moura e Adriana Vianna / Direção de arte e design gráfico: Renan Marcondes/ Audios em off: Claudia Rodriguez, Ave Terrena, Renata Carvalho e Maria Leo Araruna/ Intérprete de LIBRAS: Carol Mezanto/ Fotos e video: Hugo Faz/ Assessoria de imprensa: Jozane Faleiro – Luz Comunicação/ Produção local: Nathan Coutinho/ Produção executiva: Gustavo Sanna/ Direção de produção: Carol Vidotti

Circuito Liberdade 

O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.

“Vienen por Mí”, com Fábia Mirassos

Quando: de 30 de agosto a 23 de setembro

Temporada: sexta a segunda

Horário: 21h 

Local: Teatro II – CCBB BH – Praça da Liberdade

Duração: 50 minutos

Classificação Indicativa: 16 anos

Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH.

Sessão em Libras todos os dias. Programa disponível em braille.  

Bate-papo após o espetáculo: 14/09 (sábado) – com a atriz idealizadora Fábia Mirassos e com a diretora Janaína Leite, sobre o processo de  montagem e a trajetória de Vienen por Mí no Brasil.