Belo Horizonte, a capital mineira, receberá de 10 de novembro a 10 de dezembro de 2025 a 4ª edição da Ocupação NegriCidade, com o tema “Memórias e Territórios Afroindígenas Soterrados: Do Arraial dos Pretos à Cidade dos Brancos”. A programação, totalmente gratuita, celebra e reafirma a potência das culturas afroindígenas na cidade, oferecendo cortejos, exposição, fórum, oficinas e apresentações artísticas.
Sobre a Ocupação NegriCidade
Em 7 de setembro de 1895, o trem que partiu do Arraial do Curral Del Rey levava mais do que trilhos e dormentes — levava um projeto de poder: o nascimento de uma nova capital, planejada para simbolizar o progresso e a modernidade. Belo Horizonte surgiu como emblema desse ideal, mas foi erguida sobre o apagamento de igrejas, cemitérios, espaços urbanos e das memórias das comunidades negras e indígenas que já habitavam esse território.
Realizado pela Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC), em parceria com o Projeto NegriCidade e Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), a Ocupação NegriCidade tem como propósito ocupar a cidade e demarcar os territórios afroindígenas soterrados. Em edições anteriores, a ação aconteceu no Largo do Rosário (próximo às ruas Bahia, Timbiras, Aimorés e Avenida Álvares Cabral). Nesta edição, a ocupação se desloca para a Zona Cultural da Praça da Estação — antiga Vila Alto da Estação — e para o marco ferroviário, de onde partiu o chamado “progresso” da nova capital.
A iniciativa é um convite a reencontrar o antigo Arraial do Curral Del Rey — o “Arraial dos Pretos”, demolido a partir de 1894 com a instalação da CCNC – Comissão Construtora da Nova Capital, e a contar suas histórias, refletir sobre a importância histórica desse território e o apagamento da memória dos povos que ali viviam, que permaneceram sob as edificações da capital.
A abertura da ocupação cultural será marcada pelo evento “Eu Tô Voltando”, um cortejo de Guardas de Congo e Moçambique e das irmandades de Nossa Senhora do Rosário de Belo Horizonte, que simboliza o retorno e a reafirmação das tradições afro-religiosas na cidade. Acontecerá no dia 1º de novembro, das 14h às 16h, com saída do Centro de Referência das Juventudes. O cortejo percorrerá o território da Praça da Estação e da Praça Rui Barbosa, encerrando-se na esquina das ruas Guaicurus e Aarão Reis, próximo às “Casinhas” da Praça da Estação (imóveis históricos sob os cuidados do IPHAN), onde será erguida a Bandeira de Nossa Senhora do Rosário, em um ato de resistência e celebração das ancestralidades.
O público poderá visitar a exposição “Memórias e Territórios Afroindígenas Soterrados: Do Arraial dos Pretos à Cidade dos Brancos”, que ficará em cartaz de 10 de novembro a 10 de dezembro, no hall de entrada da Escola Judicial do TRT (Rua Guaicurus, número 201 – Centro), no coração da Zona Cultural Praça da Estação. Com curadoria de Pe. Mauro Luiz da Silva e expografia do arte-educador Cleiton Gos, a mostra apresenta símbolos, imagens de edificações, festas e cantos das culturas afroindígenas que compunham o antigo Arraial dos Pretos, ainda hoje silenciadas pela urbanização.
“A exposição propõe escavar essas camadas ocultas. Revisitar o Arraial dos Pretos é devolver rosto, voz e dignidade aos que foram transformados em sombra pela história oficial. Que esta cidade, que este país, que este tempo sejam edificados com as mãos de todas as pessoas. E que, ao desenterrar aqui mais um território soterrado, possamos também reerguer esperanças”, explica o Prof. Dr. Pe. Mauro Luiz da Silva, idealizador do projeto.
Também está programado o Fórum Municipal “Territórios Afroindígenas Soterrados”, que acontecerá nos dias 18 e 19 de novembro, das 12h às 17h, na Escola Judicial do TRT. A programação inclui minicurso e mesas de debate com a participação de lideranças tradicionais, religiosas e acadêmicas. Entre os nomes confirmados estão Cláudia Magno (Projeto Reverbera), Cynthia Bráulio Alvim Bustamante (PPGEO/UFMG), Eliane Parreiras (Secretária Municipal de Cultura), Fernando Walter da Silva Costa (Projeto NegriCidade), Isabel Casimira (Rainha de Congo de Minas Gerais), Mara Catarina Evaristo (Educação PBH), Maria do Carmo Lara Perpétuo (Superintendente do IPHAN-MG), Mariana Ramos de Morais (PPGAS/MN/UFRJ), Marisa Campos Tomáz (Comitê de Equidade TRT-MG), Miriam Aprígio Pereira (Mestra em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais/UnB), Simone de Assis (UEMG – Campanha) e Padre Mauro Luiz da Silva.
O encerramento da programação será marcado pelo cortejo festivo “AfroFuturo: Caminhos de Volta!”, que reunirá as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, guardas de Congo e Moçambique, grupos culturais afro-periféricos e a centenária Banda Carlos Gomes. O cortejo sairá da esquina das ruas Guaicurus e Aarão Reis, seguirá pela Rua Sapucaí (região da antiga Vila Alto da Estação, considerada a primeira favela de Belo Horizonte) e retornará à Praça da Estação, em um ato simbólico de festa, memória e resistência cultural. A celebração será conduzida pela Bandeira de Nossa Senhora do Rosário, com o tradicional “Descer a Bandeira”, ritual que marca o encerramento das festividades. O momento é de devoção e gratidão, quando a bandeira é retirada de seu mastro com rezas, cânticos e profunda reverência, encerrando o ciclo festivo com fé e emoção.
Também será realizado um minicurso gratuito sobre o processo de pesquisa e elaboração histórica em torno dos “Territórios Afroindígenas Soterrados”, voltado à compreensão dos processos históricos e urbanos que resultaram no apagamento dos territórios afroindígenas na origem de Belo Horizonte.
Com carga horária total de 9 horas, o curso será dividido em três aulas abertas ao público. As inscrições poderão ser realizadas pelo site oficial do evento, e as vagas são limitadas. As duas primeiras aulas acontecem nos dias 18 e 19 de novembro, na Escola Judicial do TRT (Rua Guaicurus, 201 – Centro), com interpretação em Libras e gravação posteriormente disponibilizada com legendas.
A terceira aula, o percurso externo “AfroTurístico: Caminhos do Rosário”, será realizada no dia 20 de novembro, no Largo do Rosário (Rua dos Timbiras, esquina com Rua da Bahia). A atividade propõe a construção coletiva de políticas de valorização da memória e de proteção do patrimônio cultural soterrado sob o asfalto, reconhecendo seu valor histórico e afro-turístico.
Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Evento: 4ª Ocupação NegriCidade – “Memórias e Territórios Afroindígenas Soterrados: Do Arraial dos Pretos à Cidade dos Brancos”
Cortejo de abertura: 01 de novembro – sábado, das 14h às 16h, na Zona Cultural Praça da Estação
Exposição temporária: 10 de novembro a 10 de dezembro, das 9h às 17h, Escola Judicial do TRT, Rua Guaicurus, número 201 – Centro
Fórum Municipal: 18 e 19 de novembro, das 12h às 17h, Escola Judicial do TRT, Rua Guaicurus, número 201 – Centro
Minicurso: https://bit.ly/OcupaçãoNegriCidade
Aulas presenciais do TRT: 18 (Sala 2) e 19 (Sala 3) de novembro, das 9h às 12h, Escola Judicial do TRT, Rua Guaicurus, número 201 – Centro
Percurso AfroTurístico: Caminhos do Rosário: 20 de novembro, das 9h às 12h, Largo do Rosário, Rua dos Timbiras, esquina com Rua da Bahia
Cortejo de encerramento: 30 de novembro – domingo, das 10h às 12h, esquina das ruas dos Guaicurus e Aarão Reis, próximo às Casinhas do IPHAN
Atividades: Fórum, minicurso, shows e performances culturais
Acesso: GRATUITO. Fórum e minicurso contarão com medidas de acessibilidade.




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