Show de lançamento ❍ Best Kept Secret ❍ MOONS30/07

“Best Kept Secret”, a ourivesaria pop da banda Moons, chega ao palco do Teatro SESIMINAS em Belo Horizonte

O show, que marca a estreia do importante disco nos palcos,  faz parte do projeto Encontro Musicais. Além dos integrantes da Moons, apresentação terá cinco músicos convidados

Em seu quarto disco, a banda mineira canta a perda e sua superação, em nove canções que evocam a sofisticação radiofônica de um tempo entre os 1960 e os 1980. Show conta ainda com destacadas composições dos demais discos do grupo

foto: Lucca Mezzacappa

ouça Best Kept Secret: https://ditto.fm/best_kept_secret


No próximo dia 30 de junho, a banda Moons retorna aos palcos, e para um momento ainda mais especial: a estreia ao vivo do recém-lançado Best Kept Secret, importante disco na trajetória do grupo. A apresentação, a primeira com o trabalho, terá grande elenco no palco. Além de André Travassos (violão, guitarra e voz), Bernardo Bauer (voz e baixo), Digo Leite (guitarra), Felipe D’Angelo (voz, piano, guitarra barítona e sintetizadores), Jennifer Souza (voz, guitarra e percussão) e Pedro Hamdan (bateria e percussão), integrantes da Moons, o show conta com participação dos músicos Fred Selva (vibrafone), Breno Mendonça (sax tenor e flauta), João Machala (trombone), Vinícius Mendes (clarone, sax tenor e flauta) e William Alves (trompete e flugelhorn). O show acontece no Teatro SESIMINAS, na quinta-feira, às 21h. Os ingressos estão à venda no Sympla e na bilheteria do teatro.

Lançado três anos depois de “Dreaming Fully Awake”, álbum anterior do Moons, “Best Kept Secret” não foi planejado — como quase nada que se deu de 2020 pra cá. “Dreaming Fully Awake” teve sua vida na estrada abreviada devido à quarentena, e a banda, com seus integrantes isolados um dos outros, praticamente interrompeu as atividades. Tentaram produzir algo virtualmente, mas não deu certo. Em 2021, já vacinados, eles se encontraram para matar as saudades e ver o que saía dali. Passaram juntos um fim de semana estendido no sítio onde costumam fazer imersões, nos arredores de Belo Horizonte.

O resultado, como nos melhores segredos, têm a propriedade de soar ao mesmo tempo novo e íntimo. Em nove faixas, se desenha uma fina ourivesaria pop que ecoa neste 2022 a sofisticação radiofônica de um tempo entre os 1960 e os 1980: da sagaz doçura de Carly Simon à poderosa suavidade do olhar de Claus Ogerman sobre João Gilberto em “Amoroso”, passando pela sensualidade elegante de Sade (e Marvin Gaye e Simply Red). 

foto: Lucca Mezzacappa

Mas o best do kept secret não está no que o disco ecoa dos chamados good old times das FMs adultas. Está, sim, no que ele carrega de novo, quente, nas melodias, versos e arranjos escritos sob o signo da pandemia, da amizade, da consciência do ciclo da existência — e de sua beleza. Um testemunho de times que, se não são tão good, são vivos. E vividos pelos seis integrantes da banda: André Travassos (violão, guitarra e voz), Bernardo Bauer (voz e baixo), Digo Leite (guitarra), Felipe D’Angelo (voz, piano, guitarra barítona e sintetizadores), Jennifer Souza (voz, guitarra e percussão) e Pedro Hamdan (bateria e percussão).

“Best Kept Secret” teve um processo diferente dos trabalhos anteriores do Moons. Se antes a banda gravava tudo praticamente ao vivo, desta vez eles registraram as bases e depois inseriram instrumentos como violinos, flautas e clarinetas. Pela primeira vez tiveram um arranjador, Lucca Noacco, escrevendo para as cordas e sopros. Antes, eles mesmos cuidavam disso quando usavam algo fora da formação básica da banda. 

O vibrafone também tem presença bem marcada em “Best Kept Secret”. O uso do instrumento foi sugestão de Leonardo Marques (que assina a produção do álbum ao lado da banda). Foi Leonardo quem apresentou a eles os discos do vibrafonista americano Carl Tjader — parte da trilha sonora do período de preparação do álbum, gravado em duas semanas no estúdio Ilha do Corvo, em Belo Horizonte.  

Outra mudança de “Best Kept Secret” se dá na forma como ele se espalha com naturalidade por diferentes gêneros musicais, algo que não havia acontecido com essa intensidade nos discos anteriores. 

— “Best Kept Secret” é o melhor retrato do Moons como banda, mostra uma maturidade do nosso encontro — define Jennifer. — Antes, André (que fundou o Moons inicialmente como um projeto solo) chegava com as músicas muito bem desenhadas. Agora tivemos mais momentos de construção, composição e arranjos juntos. É o álbum com mais contribuições de todos nós. Isso se reflete na diversidade de climas, na pluralidade.  

O violão de nylon, usado por André ao longo de quase todo o disco, também é novo no som do Moons. Indiretamente, mas de forma sensível, o instrumento faz vibrar referências brasileiras, menos perceptíveis nos trabalhos anteriores da banda — as letras, ótimas como de costume, seguem em inglês.

A ideia de perda atravessa os versos de “Best Kept Secret”. Mas nunca com tristeza — há serenidade, mesmo algum pesar, sempre, porém da perspectiva de quem observa o fluxo do tempo, em seu constante processo de destruição e criação. Há até alegria em muitos momentos, como no convite à dança e à vida de “Let’s Do It All Again”, mesmo sendo esta uma canção sobre a… morte — ou melhor, sobre sua superação, o recomeço depois dela (“And so I made you eternal in this song”).

A morte (especificamente as vidas perdidas na pandemia, explica André) também marca “Another You”, que reflete sobre como cada ser é único — e cada perda, portanto, é irreparável. “They put your name / On some distant avenue / Acting just like they care”, diz a letra. Curiosidade: o primeiro verso (“There will never be another you”) dá título a uma canção famosa com Chet Baker, Lá, porém, o contexto é da saudade de um amor perdido.

“Confusions of a Heart” é o desejo contraditório da perda: “I need to get you out of my head / Cuz out of my heart I won’t”. Cabeça dizendo não, coração dizendo sim na voz de Jennifer (parceira de André na faixa), no arranjo cama de lençóis macios com as cores de Sade. 

A solidão digital contemporânea (agravada em tempos de isolamento social) aparece em “The Will to Change”: “Who doesn’t feel lonely / In current times? / Waiting for a message / In the middle of the night”. No mesmo tom, a efemeridade vazia dos stories do Instagram e seus filtros inspira a estrofe final de “Low Key”: “Lost in a pile, on a messy shelf/ Memories of myself / So much more than fifteen seconds could tell / No filter can hide the void from the eyes / Of a narcissistic youth”, canta André sobre o arranjo que recende ao veneno pop de Beck.  

Em “Moonglow”, última faixa do disco, Felipe D’Angelo (principal autor da canção) pergunta “How many tears can I still cry?”, em mais um momento em que a falta é sentida. Antes dela, porém, “Childlike Wisdom” dá o nó do álbum ao celebrar o oposto da perda: a criança. Elis (filha de André gerada na pandemia) e Rosa (filha de Bernardo) materializam a infância em suas vozes gravadas nos segundos finais da canção, assinada pelos dois pais.

“So everything makes sense again”, diz um dos versos da faixa-título, “Best Kept Secret” — uma canção de amor. Tudo faz sentido de novo. O segredo, afinal, está em como se conta o segredo.

1. The will to change (André Travassos) / 2. Low key (André Travassos) / 3. Best kept secret (André Travassos) / 4. Silver linings (André Travassos) / 5. Another you (André Travassos) / 6. Let’s do it all again (Música: Moons / Letra: André Travassos, Jennifer Souza e Felipe D’Angelo) / 7. Confusions of a heart (André Travassos & Jennifer Souza) / 8. Childlike wisdom (Música: André Travassos / Letra: André Travassos & Bernardo Bauer) / 9. Moonglow (Música: Bernardo Bauer, Digo Leite, Felipe D’Angelo, Jennifer Souza, Pedro Hamdan / Letra: Felipe D’Angelo)

Centro Cultural Sesiminas | Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia

30 de junho | quinta-feira | 21h

ingressos | inteira 30,00 – meia 15,00

capacidade | 660 lugares

classificação | livre