(RE)SIGNIFICAR: O PODER DAS TATUAGENS
COVER-UP, TÉCNICA QUE PERMITE COBRIR TATTOOS INDESEJADAS, GANHA CADA VEZ MAIS ESPAÇO NO MERCADO E AJUDA NA RETOMADA DA AUTOESTIMA
Lu Corrêa, um dos principais nomes do segmento no Brasil, alerta que a escolha de um profissional especializado é fundamental para que experiência reparadora não se torne um novo pesadelo |
Em um passado não tão distante as tatuagens eram encaradas como uma arte corporal imutável, um registro eterno, de convivência diária e com pouquíssimas alternativas. Por conta disso, muitas pessoas deixaram de lado o sonho de ter aquela tattoo por medo da frustração e do arrependimento. Graças aos avanços tecnológicos, sobretudo pela popularização dos tratamentos dermatológicos por laser e também de técnicas como as do cover-up – vertente direcionada à cobertura de trabalhos anteriores por novas tattoos –, conviver com uma tatuagem indesejada passou a ser questão de escolha.
Como o número de adeptos às tattoos vem crescendo consideravelmente nos últimos anos, encontrar alguém insatisfeito com algum trabalho está cada vez mais fácil. “Tatuagem é identidade. Quando ela passa a não representar mais, vira um peso com fortes consequências emocionais. Ainda bem que o cenário hoje em dia dispõe de muitas opções para reparar essa questão, seja por meio de uma remoção completa, de uma cobertura sem deixar vestígios, ou então, da associação desses dois processos, aliando sessões removedoras com uma tatuagem nova no local”, explica o tatuador especialista em coberturas, Lu Corrêa. |

Seja por conta de uma fase passageira, uma homenagem que perdeu o sentido com o tempo, ou um trabalho feito de maneira incorreta, a carga negativa de uma tatuagem indesejada traz sérias consequências psicológicas. “Passei por isso com uma tattoo que fiz para cobrir uma cicatriz de um disparo de arma de fogo. O objetivo era amenizar aquela experiência traumática, mas o resultado não foi o que eu esperava”, declara a nutricionista Rosemary Aparecida Pereira. De acordo com ela, o desenho de um Leão em aquarela deveria simbolizar a força do rei da selva, e a alegria remetida pelas cores, mas por erros técnicos e falta de sensibilidade do tatuador, a experiência foi completamente contrária. “A tatuagem me deixou muito frustrada, além de não ter ficado centralizada na panturrilha, continha respingos de tinta vermelha que lembravam sangue”, conta Rosemary. |
Com limitações em seu dia a dia, que iam desde a vergonha em exibir a tatuagem até a dor de conviver com as lembranças que ela remetia, a nutricionista passou cerca de dois anos tentando reparar o desconforto que a tatuagem causava. “Ficava muito incomodada, a ponto de não usar short ou saia, evitando mostrá-la. Durante esse tempo busquei vários profissionais na |
tentativa de fazer uma cobertura. Porém, muitos não topavam e aqueles que aceitavam fazer queriam realizar um desenho com tons muito pesados, o que eu não queria”, revela. O martírio na busca por um tatuador capacitado que atendesse aos seus anseios não foi uma particularidade vivida por Rosemary, já que profissionais especializados e reconhecidos como referência quando o assunto é cobertura são difíceis de encontrar no mercado. Além de muita técnica, um bom profissional cover-up deve ter também empatia, buscando sempre equilibrar os desejos do cliente com as possibilidades impostas pelo desafio de cobrir um determinado trabalho. “Alguns fatores tornam a cobertura complicada e acabam limitando um pouco o trabalho. Entre eles, eu destaco o grau de pigmentação, ou seja, a quantidade de pigmento e a profundidade na pele onde ele está. O local também pode ser outro ponto de dificuldade, já que lugares como o pescoço e atrás da orelha, por exemplo, não permitem uma ampla expansão da tatuagem por conta do espaço pequeno onde estão localizadas. Por isso, encaro a cobertura como algo além de uma tatuagem. É uma espécie de tratamento que requer muita troca e transparência com o cliente para que ambos fiquem satisfeitos com o trabalho”, define Lu Corrêa.Essa relação criada entre cliente e tatuador é fundamental no prosseguimento da cobertura. “É preciso alinhar as expectativas do cliente com as reais possibilidades do trabalho, e isso exige conversa e entendimento. Se eu avalio um trabalho de cobertura e não acredito que seja possível atingir um resultado desejável dentro do estilo de trabalho que eu faço, que é o realismo, eu prefiro ser honesto e informativo, buscando orientar a pessoa de forma construtiva”, revela o tatuador.A união da técnica e da sensibilidade fez com que o sucesso de Lu Corrêa nas coberturas fosse projetado mundo afora, atraindo clientes de todas as partes do globo e lotando sua concorrida agenda. “Em 2017 postei um vídeo no facebook, como fazia de costume, mostrando uma coberturaque realizei na região da omoplata de um cliente, onde eu cobria um tubarão preto por uma gueixa em realismo preto e cinza. Em poucos dias foram mais de 9 milhões de visualizações orgânicas, milhares de comentários por dia, uma loucura”, conta Lu Corrêa.![]() |
fazer a tatuagem. Foi libertador e hoje uso shorts, saia, as pessoas sempre perguntam quem fez a tatuagem, elogiam. Além de ser um excelente profissional e um ser humano incrível, o Lu teve todo cuidado em me atender da melhor forma possível, desde nosso contato inicial até o resultado final. Só gratidão”, agradece Rosemary.Para a analista de implantação Natália Ferreira de Sousa, a cobertura realizada por Lu foi aliada importante em um dos dias mais importantes da sua vida. “No meu casamento foi quando eu senti ainda mais forte a força do resultado da minha cobertura. Por conta de um tumor que eu retire, precisei esconder uma cicatriz com o meu penteado, mas a tatuagem não. Inclusive, amei exibi-la naquele dia tão especial”, relata. Após 16 anos convivendo com o trabalho indesejado, Natália conta que encontrou Lu por meio de uma rede social, logo após o artista postar no instagram o resultado de uma cobertura que havia realizado em um cliente. “Eu fiquei impressionada e na hora o meu coração disparou. Contei com o suporte do meu esposo Leonardo, que fez o primeiro contato com o Lu e me incentivou muito a fazer a cobertura. É muito ruim você olhar no espelho e ver algo que não gosta na sua pele”, desabafa. O sol, que era pra representar os dias alegres tão apreciados por Natália, por muitas vezes trouxe uma sensação oposta, aflorando sua frustração e decepção. “Era minha primeira tattoo, fiz no calor da juventude. Eu tinha só 17 anos e não contei com o apoio dos meus pais. Acabei fazendo em um lugar sem referência, enfim, o sol tribal era uma moda na época, mas pouco tempo depois comecei a achar o trabalho feio, grosseiro, e rapidamente passei a me sentir desconfortável”, relata Natália.![]() |
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