Rampa oferece formação cênica para artistas da música em Belo Horizonte

Projeto coordenado por Marcelo Veronez, Claudia Manzo e Luísa Bahia promove aulas gratuitas entre abril e julho; inscrições estão abertas e vão até 18/4

Como a cena pode interferir no processo de criação para ampliar os horizontes e o alcance de um trabalho musical? Essa é uma das perguntas levantadas pelo Rampa, iniciativa que visa promover formação cênica para artistas da música em Belo Horizonte. Coordenado pelos artistas e cantores Marcelo Veronez, Claudia Manzo e Luísa Bahia, o projeto vai oferecer uma série de aulas gratuitas, que acontecerão entre abril e julho, na Gruta. As inscrições já estão abertas e vão até esta quinta-feira. Para participar, os interessados devem enviar uma carta de intenção, com um breve currículo, para o e-mail treinamentorampa@gmail.com.

Serão oferecidas 20 vagas, sendo 12 para participantes e oito para ouvintes. Os selecionados, que também receberão uma ajuda de custo para deslocamento deverão assinar um termo de compromisso garantindo assiduidade nas aulas. A ajuda de custo será concedida apenas aos 12 participantes, e não aos ouvintes. Ao todo, serão 32 encontros de três horas, três vezes por semana, totalizando 96 horas de aprendizado. O conteúdo programático do projeto aborda aspectos como dramaturgia, técnica vocal para a cena, conceituação de figurino e preceitos básicos de luz e técnica de som.

Idealizador do Rampa em parceria com a produtora Afinal, Cultura, Marcelo Veronez conta que a ideia partiu da demanda dos artistas da música por direção cênica em BH. “Por ter formação em teatro e desenvolver um trabalho na música, esse cruzamento sempre foi natural na minha vida. Então, muitas pessoas começaram a me procurar individualmente para incorporar aspectos do teatro em suas criações musicais”, afirma, citando artistas como Déa Trancoso, Luan Nobat e Havayanas Usadas. “Com isso, no final de 2018, fiz uma série de workshops buscando ampliar esses estudos. Daí surgiu o Rampa: da vontade de abrir o projeto para a cidade, inclusive tornando os participantes multiplicadores desse diálogo entre as linguagens artísticas”, ressalta.

Para Veronez, a música é o setor que mais distanciou-se das perspectivas cênicas da criação artística. “Com a coisa da praticidade, a música foi se desligando dos aspectos dramatúrgicos e perdendo a capacidade de comentar aquilo que está sendo apresentado”, analisa. “Quando vão estrear um show, os músicos fazem alguns poucos ensaios em um estúdio e pronto! Isso é uma loucura para quem vem do teatro, porque você não aprofunda conceitualmente o trabalho. O conceito de dramaturgia fica muito distante e perde-se uma grande oportunidade de fazer com que a apresentação ganhe outros contornos, outra profundidade”, sublinha.

Mergulhos”

Veronez destaca que a ideia dos encontros é proporcionar um “mergulho” na formação cênica – por isso, a exigência de pelo menos 80% de frequência nos encontros. “Para ter outras perspectivas e direcionamentos, chamei a Claudia Manzo, que focará no treinamento vocal para a cena, e a Luísa Bahia, que também parte desse lugar, mas trabalhando ainda questões do corpo”, afirma o artista, que ficará por conta de ensinar o conceito de dramaturgia na criação musical.

“Teremos ainda alguns encontros com a Lira Ribas, que também faz essa dobradinha entre música e teatro, trabalhando muito a conceituação de figurino, e com o Akner Gustavson, que vai falar de luz e técnica de som numa formação básica sobre aparelhos e possibilidades que se pode encontrar num teatro durante um show musical”, continua Veronez, lembrando que Denise Perón, doutora em Literatura Comparada com a tese “A performatividade na cultura contemporânea” e pós graduada da Faculdade de Letras da UFMG, também participará de alguns encontros.

O artista ressalta que, fechando o projeto, no final de julho haverá uma mostra de trabalhos, criada a partir de um texto dramatúrgico de base, que ainda será definido. “O objetivo é que os participantes saiam do Rampa sabendo o que oferecer para além da execução, conseguindo trabalhar a abordagem teatral inclusive não apenas em cena”, assinala. “Essa visão ampla, cruzada, possibilita incorporar inspirações de outras linguagens artísticas ao trabalho musical, desdobrando-o em camadas e fazendo com que o espectador queira assistir o espetáculo novamente”, finaliza.

O projeto Rampa é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.