Pereira da Viola – Show de lançamento do cd Novos Caminhos 21/03

Pereira da Viola lança o álbum “Novos Caminhos”, com 10 faixas autorais

O violeiro, cantor e compositor Pereira da Viola já percorreu muitas estradas e veredas. Como bom viajante, sabe que o mais importante não é a chegada, mas a travessia. Seu mais recente trabalho, “Novos Caminhos”, é uma confirmação desse destino caminhante. Pereira se revela por inteiro com seus elementos mais puros, apenas voz e viola. A busca da singeleza não esconde o delicado acabamento da expressão. Em 13 canções e histórias, estão o universo e a aldeia, o coração apaixonado e o coração valente, a natureza e os homens.

Foram necessários seis discos, um DVD e mais de 20 anos de carreira para chegar à depuração de “Novos Caminhos”. A grande força do trabalho, a simplicidade, só é alcançada porque existe um sólido trajeto de escolhas artísticas por trás. Sem falar do prazer que sempre mostrou em dividir seu ofício com parceiros, instrumentistas e cantores. Para o músico, o trabalho coletivo sempre foi uma decisão estética e consequência ética do compartilhamento que anima sua vida. Estar só e inteiro, neste momento, só é possível porque traz junto a memória de tantos companheiros.

Senhor absoluto dos recursos da viola, Pereira mostra em seu disco todas as possibilidades do instrumento, garantindo um suporte delicado para sua madura interpretação vocal. O cantor Pereira da Viola é tão completo e único como o instrumentista, o que é bastante raro no cenário da música de raiz. Essa expressividade peculiar nos dois campos é mais um motivo do acerto da escolha do formato voz e viola.

O repertório do disco traz nove temas autorais, todos em parceria com poeta João Evangelista Rodrigues, ao lado de canções Padre Zezinho (“Mãe do Céu Morena”), Cyelne Peluso e Olívio Araújo (“Sabiá”) e Nilson Chaves (“Bela Pessoa”). Completando o álbum, dentro da tradição da oralidade e dos causos, fortemente presente em apresentações do artista, Pereira recria uma lenda hindu, narrada ao som da viola em acordes de tonalidade impressionista.

O violeiro, na cultura brasileira, representa uma tradição muito rica e diversificada. Carregando elementos da tradição rural, das culturas caipira, indígena e africana, além da origem portuguesa do instrumento, o artista é ainda guardião de muitas memórias. A viola tem também como seu patrimônio o papel e animar festas, garantir emoção a rituais, expressar o amor, destacar as forças da natureza e ajudar a narrar a aventura da vida, com suas dores e belezas. Um instrumento que alegra, transcende, critica e emociona.

É nessa história que Pereira da Viola, filho de João Preto e Mãe Augusta, nascido em São Julião, distrito de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, incorpora sua marca pessoal. Como sempre, faz tudo sem chamar para si um valor que ele defende ser de uma cultura maior e de muitos artistas que vieram antes e de outros que com ele partilham o mesmo destino violeiro. “Novos Caminhos” é uma estação particularmente especial nessa estrada.

As canções autorais inéditas perpassam temas afetivos e sociais, e portam ainda chamados à memória de lugares, ao ofício dos homens, ao louvor e à celebração da natureza. As melodias, construídas a partir do diálogo entre a viola e a poesia, com arranjos que destacam o virtuosismo sempre discreto do instrumentista, exprimem influências da música caipira tradicional, do cancioneiro latino-americano e da MPB. Modas de viola e cantigas singelas convivem com canções com arranjos elaborados, com uso de recursos contrapontísticos, harmônicos e rítmicos.

Os temas do novo trabalho exprimem ainda uma espiritualidade forte, feita de várias vertentes, e o compromisso com a emancipação dos homens e mulheres. A religiosidade está presente em “Mãe do Céu Morena”, de inspiração católica, e se deixa sentir em “Lenda Hindu”, que traz a espiritualidade para a natureza e para o coração das pessoas. O compositor destaca que foram “influências de bons sábios espíritos”.

Militante das boas causas sociais, Pereira da Viola também traz seu olhar de indignação em “Via-Crúcis” e seu canto de esperança na canção que dá nome ao disco, que propõe: “Vamos em frente, com a cara e a coragem/ De quem ainda sonha um país mais feliz”. O difícil equilíbrio entre arte e política se resolve de forma sensível e inteligente na obra de Pereira da Viola. Ao revolver camadas profundas da cultura popular em diálogo atento com seu tempo, o artista realiza, sem abrir mão da beleza, o que se pode chamar de arte transformadora.

A natureza, tema recorrente em quase todas as faixas, ganha espaço destacado em músicas delicadas como “Sabiá” e “Passarinho”. A força dos elementos também sinaliza, na poética das canções, momentos de tomada do destino nas mãos, representando a ação do homem sobre as intempéries e injustiças, “semeando rebeldia”, como em “Fartura” e “Nas asas do condor”. As cidades, as festas e os lugares das Minas Gerais também são cantados em temas como “Prenda”, “Lua de Minas”, “Carinhanha” e “Via-Crúcis”.

Nascida de um ancestral português, que remonta ao período anterior ao “achamento” do Brasil, a viola caipira, com seus múltiplos nomes (viola de festa, viola da arame, viola sertaneja, viola brasileira, viola cabocla) é um instrumento de cinco ordens de cordas duplas, que soam em uníssono. Vem daí a sonoridade característica, que parece se prolongar no ar, e as muitas possibilidades de afinação.

Em Pereira da Viola, essa característica do instrumento se torna uma riqueza a mais. Seu toque parece tirar de cada par de cordas uma expressão singular, que junta a espontaneidade popular com exatidão da técnica. Na levada de Pereira, tudo que não é sofisticado é caipira demais.

Depois de “Viola ética” e “Viola cósmica”, discos que compõem uma obra forte e pessoal, Pereira da Viola depura sua música, “movido pela energia da simplicidade e amor incondicional à vida”. Persiste a marca consciente da ética e a abertura cósmica ao mundo. Para o violeiro, nessa estrada sem fim da vida, é chegado o momento de “Novos Caminhos”.

 

Participações especiais de Dito Rodrigues Bartira Sene e Thaila Rodrigues.

Data: 21/março – quarta-feira

Horário: 20hs

Local: Grande Teatro do Sesc Palladium

Rua Rio de Janeiro, 1046 Centro BH/ MG

Ingressos: R$ 30 (inteira) R$ 15 (meia) R$ 12 (comerciário)  na bilheteria e no site www.ingresso.com.br

Informações: 31 3270-8100