“Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista” – 06 a 08/06

Protagonizado por Ivanna Cruz espetáculo chega a Belo Horizonte, de 06 a 08 de junho, no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes, além de ser apresentado  em comunidades quilombolas

Depois de emocionar plateias em todo o Brasil, desembarca em Belo Horizonte, o espetáculo “Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista”, cujo o enredo faz uma homenagem à primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e tem como protagonista a bailarina e atriz Ivanna Cruz. As apresentações acontecem de 06 a 08 de junho, sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h, no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes. E de 10 a 12 de junho as sessões seguem para os quilombos, incluindo o Quilombo dos Moreiras na cidade de Rio Espera, Comunidade Quilombola dos Arturos, em Contagem, Quilombo Vila Santa Efigênia e Adjacências – Engenho Queimado, Embaúbas e Castro, em Mariana e Quilombo Mangueiras, no Novo Airão Reis, em Belo Horizonte. 

Com direção artística de Luiz Antônio Rocha, que também assina o texto junto com Ivanna Cruz e Pedro Sá Moraes, o musical celebra a trajetória da mulher que revolucionou a dança contemporânea no Brasil ao criar o balé afro-brasileiro e abrir caminhos para artistas negros nos palcos. A atriz e bailarinaIvanna Cruz, natural de Campos dos Goytacazes (RJ), interpreta Mercedes de um jeito potente, que tem sido muito elogiado pela crítica especializada. Ela conduz a narrativa, entrelaçando sua própria história à da homenageada em uma importante fusão de arte, memória e ancestralidade.

Além de Ivanna, completam o elenco as musicistas e atrizes Geiza Carvalho e Lelê Benson. A montagem reúne uma ficha técnica majoritariamente negra — mais de 90% — e traz coreografias de Diego Rosa, cenografia e figurinos de Eduardo Albini, e iluminação de Ricardo Fujii.

Para Ivanna Cruz, a história de Mercedes é também um reencontro com suas raízes e com o propósito de continuar a luta por representatividade. “Mercedes abriu portas com coragem e inteligência. Ela não só dançava, ela planejava, criava e executava tudo. Uma mulher à frente do seu tempo. Ao interpretar sua trajetória, espero também curar e fortalecer tantas outras que, como nós, seguem colocando o pé no terreiro”, declara.

A peça já passou pelo Rio de Janeiro, São Luís e Vitória e desembarca em Belo Horizonte com apoio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A montagem mergulha em ritmos afro-brasileiros como o Jongo e a Mana Chica, reverberando os sons da diáspora africana e a força cultural que resiste e floresce. “Mercedes Baptista foi e continua sendo um pilar da identidade afro-brasileira na dança. Sua luta é inspiração, sua arte é legado“, afirma o diretor Luiz Antônio Rocha.

Quem foi Mercedes Baptista?

Nascida em Campos dos Goytacazes (RJ), Mercedes Baptista rompeu barreiras históricas ao se tornar a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Criadora do balé afro-brasileiro, ela fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista e deixou um legado de resistência, estética e ancestralidade. Sua pesquisa coreográfica, inspirada em terreiros de candomblé, codificou movimentos e elevou a dança negra ao patamar de patrimônio cultural.

O espetáculo é um convite ao reencontro com a história, com as raízes e com a potência criativa da cultura afro-brasileira, que continua a moldar o presente e o futuro das artes no Brasil. É importante ressaltar que o Ballet Folclórico Mercedes Baptista foi responsável pela consolidação da dança moderna do Brasil.  Além disso, a trajetória de Mercedes é desenhada por diversos prêmios e reconhecimentos, o que solidifica sua posição como uma das principais bailarinas do país. Sua estreia no Theatro  Municipal do RJ é um momento culminante de sua carreira e um exemplo inspirador de superação.

A produção artística negra, sistematicamente apagadas e desvalorizadas, quando entendida sob o viés decolonial, evidencia o potencial intelectual e econômico da cultura afro-brasileira. Tratam-se de produções essenciais que possibilitam a manutenção de laços comunitários entre a população negra, assim como ofertaram as bases que estruturaram a identidade nacional. A inserção da dança afro-brasileira, batuque, canto preto e filosofia africana como eixo central da pesquisa, contribuiu ao fazer a ponte entre o que existiu com a atualidade.

O projeto parte do encontro entre Mercedes e a atriz e bailarina Ivanna Cruz, com meio século de intervalo entre elas, duas artistas pretas da dança que nasceram na mesma Campos dos Goytacazes, uma das últimas cidades do Brasil a acatar a abolição da escravidão. “Mercedes Baptista é um ícone da resistência e do talento. Sua presença no Theatro Municipal do RJ é um passo importante para a representatividade e inclusão racial na dança brasileira. É uma honra fazer parte de um projeto como este, pensado nos mínimos detalhes e tão sonhado em executá-lo para além de poder homenagear, apresentar a grandeza que foi e é Mercedes Baptista”, declara Ivanna Cruz.

Ivana também complementa:”Para além da primeira bailarina do Theatro Municipal, Mercedes também foi uma mulher aguerrida que manteve sempre a cabeça erguida em um propósito: mostrar que ela merecia chegar aonde chegou e ainda ousar em quebrar paradigmas e mostrar a cultura da nossa gente, a cultura afro, sobretudo por interferir de maneira positiva na percepção de novos significados para o contexto da dança, com a diversidade, inclusão e memória, tão presentes na sua trajetória“.

Ivanna ainda conta que, durante o processo de preparação, ficou surpresa com a força de Mercedes em empreender, em não esmorecer, ao brigar pelo espaço dela. A bailarina cuidou da criação, da venda do seu produto, sua arte, ela sabia o que acontecia em cada detalhe da cadeia de criação dos projetos dela. “Ela mesma arrecadava e pagava cada integrante, cada cachê, ela valorizava o profissional da arte, visionária e corajosa. Para cada porta que ela encontrava fechada, criava mais força para desenvolver e executar projetos culturais numa época ainda onde a mulher não tinha voz e nem vez”, salienta Ivanna. 

“Eu espero com esse projeto, passar por um processo de cura, de ressignificação, que as pessoas se reconheçam merecedoras, de uma maior união, de mãos dadas a quem se propõe a ser aliado e gritar junto pelo espaço que não é para segregar, separar é para juntar mais ainda. Eu me sinto muito forte quando encontro outras mãos que me ajudam e dizem que eu devo seguir, persistir, porque eu mesma já pensei em desistir muitas vezes. Mas eu lembro de Mercedes e tantos outros que deram o sangue para que eu pudesse estar aqui. Conhecer a nossa História faz parte do aparato de força e nivelação para se chegar aos resultados. Muita coisa mudou para os artistas negros, para o povo negro em geral, mas ainda temos sim um longo caminho pela frente”, diz Ivanna. 

“Diante dos obstáculos, cada vez mais duros enfrentados em sua caminhada de artista negra, Ivanna encontra em Mercedes uma fonte de resiliência e encantamento, uma chave para destravar as portas do seu futuro. No espetáculo, há uma teia formada por relato pessoal, investigação histórica, dança e canções que ecoam a tradição e as raízes compartilhadas por ambas”, acrescenta Luiz.

Para Pedro Sá Moraes o projeto é como uma reparação, uma pequena colaboração para jogar luz sobre a fortaleza de uma mulher que tanto lutou com as armas mais nobres para quebrar paradigmas, a ARTE. Gritou com os batuques e a sua dança para mostrar que merecia ser vista e ouvida.

“Falar sobre Mercedes Baptista é não deixar que sua trajetória brilhante seja esquecida e, sobretudo, com relação às novas gerações que possuem o direito e a obrigação de conhecer quem fez pela sua cultura. No caso de personalidades afrodescendentes, a responsabilidade é não permitir mais um apagamento histórico de pessoas negras que se mostraram capazes e enfrentaram tantas divergências para estarem nos lugares de direito”, comenta.  

Ivanna Cruz, atriz e bailarina multifacetada que respira arte

 A atriz, dançarina, produtora, Educadora Popular e professora de dança Afro, nasceu em Campos dos Goytacazes, cursou o Teatro Experimental do SESC e o  Curso Técnico Profissionalizante da CAL. Atuou em espetáculos como: “Vestido de Noiva”, “Antígona”, “A Serpente”, “Marido Oscar”, “O outro lado da história”, “O boi e seus alegres brincantes”, “Histórias Encantadas”, “A Arca de Noé”, “Ilê Sain à Oxalá”, 2000 a 2015 “A menina e o vento” “As Feras”, de Vinicius de Moraes de 2017 a 2019. Dirigiu os musicais: “Metal contra as nuvens” e “Batuque das Tias”, e o infantil “A Fada cheia de ideias”. Participou dos Curtas Metragens “Broadway” dir. de Maycon Gual (2017) e “A Casa de Pedra”, dir. Ricardo Conti (2018). Participou da novela “Quanto Mais Vida melhor”, na Rede Globo. Ivanna também está à frente de trabalhos como ativista cultural na cidade onde desenvolve um trabalho em terreiros e escolas divulgando a tradição popular da cidade com danças como “Mana Chica”, uma dança similar às quadrilhas de roda com nuances do Fado do tempo da escravidão. 

Luiz Antônio Rocha, um operário das artes por vocação

Produtor, autor e diretor teatral, é um dos mais conceituados diretores de casting do mercado, segundo a revista Veja. Foi membro do conselho da Michael Chekhov Brasil e em 2012, fez parte do júri oficial do International Emmy Awards realizado em Nova York. Foi indicado ao prêmio Shell de 2019 na categoria inovação por Paulo Freire, “O Andarilho da Utopia”. Sendo considerado por Flávio Marinho no seu livro “Quem tem medo de besteirol” como um dos reinventores do gênero. Seus espetáculos, além de ficarem muito tempo em cartaz, possuem uma marca autoral com grande sensibilidade que valoriza a força do ator e da palavra. Seus espetáculos mais recentes são: “Anima”; “O Profeta”, uma releitura filosófica da obra de Khalil Gibran; “Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”; “Violeta Parra em dez cantos”; “Zilda Arns, a dona dos Lírios ; “Brimas”;  “Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”; “A história do Homem que ouve Mozart e da Moça do lado que escuta o Homem”; “Uma Loira na Lua”; “Eu te darei o Céu” entre outros.  

Pedro Sá Moraes e sua versatilidade e sensibilidade artística

Ator e músico, começou sua carreira musical como intérprete de samba, compartilhou palco e gravações com mestres do gênero, como Nelson Sargento, Wilson Moreira, Elton Medeiros e outros. Em 2007, lançou-se como compositor de MPB, e a carreira internacional se abriu em frequentes turnês pela Europa, América Latina, Ásia e América do Norte. Foi escolhido pela rede nacional de rádios públicas (NPR) dos Estados Unidos um dos dez artistas revelação de 2012, aclamado pelo jornal The New York Times. Em 2016, foi vencedor do Prêmio Profissionais da Música como Melhor Cantor.  Em 2018, estreou o solo “A Paixão de Brutus”, uma adaptação autoral sua sobre o Julius Caesar de Shakespeare, com direção de Norberto Presta, com o qual visitou dezenas de cidades brasileiras. A Folha de São Paulo, numa crítica de destaque, afirma que “Pedro Sá Moraes se transmuta, como um trovador, em versos de um lirismo tocante e pungente”. Em 2018, junto a Jéssica Barbosa, realizou “Em Busca de Judith”, que estreou como peça-filme em 2021, contemplado pelo Edital da Lei Aldir Blanc, e estreou nos palcos em 2022 em temporada no Itaú Cultural (SP). Desde 2020, dedica-se a aprofundar sua pesquisa sobre a relação entre a música popular brasileira e o teatro, através de um doutorado em Artes Cênicas, pela Universidade de Campinas (UNICAMP), em São Paulo.  

FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO “Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista”

Texto: Ivanna Cruz, Luiz Antônio Rocha e Pedro Sá Moraes/ Canções: Pedro Sá de Moraes/ Encenação: Luiz Antônio Rocha/ Atriz: Ivanna Cruz/ Instrumentistas/atrizes: Lelê Benson e Geiza Carvalho/ Cenário e Figurinos:  Eduardo Albini/ Projeto de Luz: Ricardo Fujii/ Coreografia e preparação corporal: Diego Rosa/ Direção musical:  Pedro Sá Moraes /Preparação vocal: Jorge Maya/ Consultoria Jongo/ Mana-chica: Neusinha da Hora e Neide da Hora/ Fotografia: Jow Coutinho e André Brito/ Aderecista: Nilton Souza/ Confecção figurino raízes: Marcos Vieira/ Tingimento figurino raízes: Aline Nogueira/ Costureira:  Maria Madalena de Oliveira/ Gestão de redes sociais: Cultura Lab/ Design gráfico: Cristhianne Vassão /Gravação e registro de imagens: Julio Stotz /Voz OFF: Arlete Heringer/ Elaboração de Leis de incentivos e Prestação de contas: Lilian Maia/ Produção Executiva: Luiz Antônio Rocha/ Direção de Produção: Damiana Inês/ Produção: Arteiro Produções, Espaço Cênico Produções Artísticas e Teatro em Conserva/ Agradecimentos especiais: Viviane Ramiro e Dona Ruth/ Patrocínio do Instituto Cultural Vale, Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal. / Apoio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura do RJ/ Assessoria de imprensa em Belo Horizonte: Luz Comunicação – Jozane Faleiro 

Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista

Datas: 04, 06, 07, 08 de junho, sexta e sábado, às 20h – Domingo, às 19h

Local:  Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes – Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, BH.

Classificação: Livre

Duração: 80 minutos

Ingresso: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia entrada)

Link para comprar ingressos: https://www.eventim.com.br/artist/palacio-das-artes/mao-na-barra-pe-no-terreiro-a-vida-e-a-danca-de-mercedes-baptista-3899818/

Além das apresentações no Palácio das Artes, o espetáculo será apresentado gratuitamente no Quilombos:

  • 09/06 – Comunidade Quilombola dos Arturos.
  • Horário: 9h30
  • Escola Municipal Walter Lopes – Bairro Alvorada – Contagem/MG
  • 10/06 – Quilombo Vila Santa Efigênia e Adjacências – Engenho Queimado, Embaúbas e Castro) – Mariana – (Escola quilombola –  Estadual Monsenhor Morais. 
  • Horário: 13h
  • 11/06 – Quilombo Mangueiras – Novo Airão Reis – BH
  • Horário: 18h
  • 12/06 – Quilombo dos Moreiras – Rio Espera – BH
  • Horário: 17h