Obras de treze mulheres artistas residentes em Belo Horizonte trazem questões e imaginários relacionados à latinidade
O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição coletiva ‘Sangre latina’, das artistas Barbara Daros, Zi Reis, Adriana Santana, Govinda Navegando, Carol Merlo, Carina Aparecida, Mirele Brant, Daniela Schneider, Luciana Lanza, Marina Takeishi, Noemi Assumpção, Nathalia Falagan e Thatiane Mendes, com curadoria de Mirele Brant eGovinda Navegando. A mostra reúne 53 obras, apresentando instalação, esculturas, pinturas, objetos, colagens e fotografias, que suscitam questões e imaginários relacionados às mulheres latino-americanas. O evento acontece no dia 13 de junho de 2025, sexta-feira, às 19 horas. As obras poderão ser vistas até 6 de julho de 2025. A entrada é gratuita e tem classificação indicativa de 14 anos.
A latinidade
A latinidade é um conceito complexo, em constante transmutação, que já nasce carregando em si a representação da violência histórica da colonização. É, ao mesmo tempo, um chamado para abraçar a vasta diversidade de identidades culturais, sociais e políticas dos povos que resistem e reexistem. Se, por um lado, a latinidade traz a marca de uma identidade forjada à força, eurocêntrica e colonial, por outro, é também um símbolo de resistência — um lar simbólico onde ecoam as memórias e raízes ancestrais sequestradas pelo processo da invasão.
Ser latino-americana, latino-americano, é caminhar numa diversidade que desafia as fronteiras impostas, numa identidade que nunca se fecha, que não se acomoda.
A proposta dessa mostra busca apresentar a potencialidade das mulheres desse território, contemplando artistas residentes em Belo Horizonte. Parte dessas artistas trabalham viajando entre estados brasileiros e países da América Latina, atuando em movimentos ativistas feministas e de retomadas. Muitas dedicam-se à processos educativos com públicos diversos, em sala de aula, oficinas e centros de convivência da rede de saúde mental.
São mulheres autônomas que defendem e disseminam seus saberes, territórios, tradições, símbolos, subjetivações e modos de vida. A identidade possui um valor estratégico nessa proposta, levantando questões femininas e feministas que permitem observar e compreender as regulações que interpelam as mulheres. A visão coletiva está relacionada às memórias e às ancestralidades, que vão sendo repensadas e reconstruídas por meio das narrativas tensionadas nos trabalhos.
Sangre latina – por Carina Aparecida, Govinda Navegando e Mirele Brant
As obras reúnem, por múltiplas linguagens que se alternam, matérias de expressão como resistência. Essa resistência e produção ativa se apresentam em caráter de busca espiritual, de manifestação política, de reconexão à natureza e aos ancestrais personificados, muitas vezes nos saberes da bisavó, avó e da mãe, além de estar na ordem da não submissão aos padrões estéticos. Situam-se em imaginários de encantaria, rebelião e liberdade. São mulheres latino-americanas, atravessadas por questões existenciais, dispostas a fazerem da arte uma bandeira da luta íntima e coletiva.
Por uma latinidade que se faça espelho das feridas da colonização, refletidas nas fronteiras de nossos próprios corpos. Por uma latinidade que, se preciso, se recuse a ser, na busca profunda e incansável pelas raízes que tentaram enterrar. Por uma latinidade que, em seu emaranhado de limitações e contradições, seja também território fértil para o que criamos e que abrace as múltiplas maneiras de ser, sentir, ocupar e olhar para este território de tantas memórias que habitamos.
Sobre as artistas
Barbara Daros, 1994, natural de Belo Horizonte, é Bacharel em Artes Plásticas, habilitada em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Arte-educadora e artista multidisciplinar, busca integrar diferentes linguagens e suportes de criação. Sua pesquisa parte das Artes Visuais, em junção com as artes do corpo e do som. Constrói narrativas entre a pintura mural e em tela, a dança, a música e a tatuagem.
Carina Aparecida tem seus trabalhos de fotografia e audiovisual inspirados na relação memória, saberes ancestrais e territorialidades. Estudou Documentário no Centro de Formação em Cinematografia em Caracas, na Venezuela, e há mais de quinze anos se dedica às produções documentais/experimentais. Já desenvolveu e expôs trabalhos no Chile e Colômbia. Em 2019, foi uma das participantes da residência artística ‘Estética da Autonomia e Feminismos’, na cidade de São Cristóbal de Las Casas, no México. É neta de Sinhana, parteira, raizeira e benzedeira.
Carolina Merlo (1983) é graduada em Artes Visuais pela UFMG (2009), com bacharelado em Gravura. Atua como ilustradora e arte-educadora antimanicomial. Em sua pesquisa visual abrange técnicas como desenho, aquarela, recortes, colagens e gravura. Também pesquisa o têxtil com bordados e bonecos de pano. Em suas criações, se dedica as questões do feminino, da presença da plantas, animais, seres oníricos e sagrados. No campo das publicações trabalha com o universo do livro ilustrado para a infância.
Daniela Schneider, 1977, Belo Horizonte. Formada em Psicologia pela Universidade FUMEC (2002) e em Artes Visuais pela Escola Guignard (2010), pós-graduanda em Arte Contemporânea na mesma instituição. Já participou de exposições coletivas na Mini Galeria, Galeria Mari’Stella Tristão no Palácio das Artes, Coletivo 252 e Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte. Exposição individual na Piccola Galleria, na Casa Fiat de Cultura, em 2023. Residência artística no NowHere, Lisboa, em agosto de 2023. É apaixonada pelo crochê, que aprendeu com a mãe e a avó. Cria formas que podem lembrar uma parte do corpo, ou o todo, sobretudo o corpo feminino, convidando o espectador a interagir com a obra, tocando ou manipulando.
Dri Santana é artista visual, ilustradora e muralista. Vive e trabalha entre o interior de Minas, Cláudio e a capital Belo Horizonte. Possui Bacharelado em Artes Gráficas e Licenciatura em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. É Mestra em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG. Em seus trabalhos são encontrados temas que perpassam questões ligadas à ancestralidade, às culturas africana e afro-brasileira, onde cria narrativas poéticas partindo de suas pesquisas, investigando suas origens e histórias. Tem participado de atividades voltadas para as artes visuais como: Residência Artística Angola Air/Luanda 2024; Projeto ALA pelos parques da cidade (Coletivo ALA) 2024; Sesc Arte Urbana (artista colaboradora); Sesc Mesa Brasil. Belo Horizonte/MG, 2024, dentre outras.
Govinda Navegando, que também é Fernanda Figueiredo, é uma corpa experimental desde que teve consciência sobre sua existência e o fazer criador. Nasceu em Belo Horizonte em 1987 e entre montanhas bebeu das influências cotidianas artísticas e intelectuais provindas dos avós maternos. Seu sonho de criança sempre foi viver mundos imagéticos improváveis. Suas fotoperformances com colagens digitais nos convidam para um olhar lúdico da bricolagem, que podemos chamar também de surrealismo fantástico, sem deixar de pautar um certo erotismo. Vários animais surgem nas imagens, além de plantas, que fazem composição com cores vibrantes, luzes, cristais e olhos em cenários infinitos que nos permitem um mergulho nos cosmos, denotando uma atmosfera ao mesmo tempo naturalista e futurista. Trabalha com a performatividade e fenomenologias interpostas por ambientes oníricos, nos quais a figura feminina surge na vivacidade do mistério da criação.
Luciana Lanza é mestranda na Escola de Belas Artes da UFMG na linha de pesquisa em Ensino e Aprendizado em Artes. Formada em Dança pelo Palácio das Artes e em Jornalismo pela FUMEC. Como bailarina independente recebeu, em 2023, o prêmio Iberescena de ajuda as Artes Cênicas para criação de espetáculo. Pesquisa sobre o ato de ocupar espaços através de técnicas de dança contemporânea, contato e improvisação, teatro, capoeira e danças populares.
Marina Takeishi (1991) é natural de Três Pontas, graduada em Design Gráfico pela UEMG, com pós-graduação em Arteterapia Junguiana e em Culturas Populares e Tradicionais. Como nipo-brasileira, dedica sua pesquisa às culturas tradicionais e mitológicas do Brasil e Japão, honrando suas ancestralidades. Sua pintura reflete essa investigação, combinando manchas fluidas de tinta aguada e grafismos geométricos, com inspiração em elementos que traduzem os espíritos da natureza. Utiliza o movimento do seu corpo ao pintar, fixando carimbos naturais de plantas para criar texturas. Publicou, como ilustradora, o livro ‘Imersa’ (Editora Elora, 2021) e, como escritora, ‘Palavra-pássaro, palavra-peixe’ (Editora Minimalismos).
Mirele Brant, 1982, Belo Horizonte/MG. Graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard/UEMG e Estilismo e Modelagem do Vestuário pela UFMG. Mestrado em Educação e Comunicação pela UNB. Trabalha com pintura, desenho, colagem e instalação, explorando a figura feminina na publicidade de moda, os arquétipos, mitologias e imaginários relacionados ao feminino. Atua como artista visual, produtora e curadora no campo das Artes Visuais, tendo realizado diversas exposições coletivas e individuais.
Nathalia Falagan é artista visual e ilustradora autodidata, natural de Belo Horizonte. Utiliza a pintura como principal meio expressivo. Interessa-se pela vida em suas relações e nos fios que conectam os seres à natureza e ao cosmos, investigando essas interligações sob a ótica do feminino e de diferentes cosmovisões e culturas ancestrais. Dentro da tríade corpo-natureza-memória busca extrair a ancestralidade dos vínculos com a terra, abarcando experiências individuais e coletivas que trazem à vida significados mais amplos e universais. Fluindo em um território atemporal de sonhos e memórias, por meio do imaginar e de narrativas oníricas, cria novos diálogos e outras realidades possíveis.
Noemi Assumpção é artista visual, vive e trabalha em Belo Horizonte/MG, onde nasceu em 1973. Formada em design gráfico pela Escola de Design/UEMG (1998) e em Artes Plásticas pela Escola Guignard/UEMG (2013) com habilitações em desenho e escultura. A artista transita entre a instalação, o vídeo e a performance. Trabalha com os sentimentos e as dores geradas pela relação do indivíduo com o próprio corpo, o lugar do desejo que orbita entre a dor e o prazer e, principalmente, a psique que cria compulsões compensatórias a partir do vazio existencial contemporâneo, provocado pelo consumo exagerado e imposição de padrões estéticos opressores.
Thatiane Mendes é artista, pesquisadora e professora adjunta na Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Doutora em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre pela Universidade de Barcelona. Trabalha na interseção entre têxteis/vestíveis, escultura e instalação. Investiga, em sua produção artística, as construções sociais e os estereótipos relacionados ao corpo, acompanhadas das noções de gênero e monstruosidade. Como processo catalisador faz uso de experimentos e experiências, nas quais ciências, tecnologia e biologia possuem um papel importante.
Zi Reis é artista transdisciplinar, mãe e mulher periférica. Mestranda na Linha de Artes Visuais na Escola de Belas Artes da UFMG, graduada em Artes Visuais pela mesma escola, formada em Direção e Produção Audiovisual pela Oi Kabum! BH Escola de Arte e Tecnologia, Doutora Honoris Causa, Ilha de Itaparica, Bahia. Trabalha com múltiplas linguagens, como arte urbana, poesia falada, cinema e Arte-educação. Articula, em suas criações, questões sobre a maternidade e a infância, a ancestralidade e a luta das mulheres por equidade de gênero.
Sobre as curadoras
Govinda Navegando é formada em Cinema e Vídeo, especializada em Direção de Arte, mestra em Práticas Artísticas Contemporâneas, professora de Criação de Personagens e Direção de Arte, taróloga e esquizoterapeuta. Como manifesto em suas obras e curadorias, converge saberes em um agenciamento ético-estético que engloba a percepção psicomágica, a estrutura do tarot, a performatividade com influências da esquizoanálise, assim como o cinema e todo o mundo da direção de arte e das forças de Pachamama. O surrealismo pulsa em si como uma urgência de descamar os níveis da realidade e do real. Sangre Latina é a segunda curadoria feita em parceria com Mirele Brant.
Mirele Brant é bacharel e licenciada em Artes Visuais, especialista em Arte e Cultura, mestre em Educação e doutoranda em Linguagens na linha de pesquisa Discurso, Mídia e Tecnologia no programa Posling do Cefet – MG. Curadora independente desde 2010, produz e realiza exposições coletivas em Belo Horizonte, tendo realizado também em Brasília e Buenos Aires. Busca, com suas curadorias, unir artistas com obras relevantes na cena artística local, em espaços culturais institucionais e independentes, trazendo propostas inovadoras que agreguem no campo artístico. Curadorias realizadas: ‘Para além da Zona de Conforto’, Galeria de Arte Biblioteca Padre Alberto Antoniazzi, PUC Minas Coração Eucarístico, BH (2010). ‘Atropelamentos’, Centro Cultural UFMG, BH (2011). ‘Um Espelho Colado aos Olhos’, Casa Camelo, BH (2016). ‘Pulsão Feminina’, Sesc 504 Sul, Brasília, DF (2017). ‘Pulsão Vermelha’, Casa Viva Lagoinha, BH (2023). ‘La Mirada Femenina’, Espacio Bolívar, Buenos Aires (2024).
Exposição ‘Sangre latina’
Abertura: 13 de junho de 2025 | às 19h
Visitação: até o dia 06/07/2025
Terças a sextas: 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: 9h às 17h
Sala Celso Renato de Lima
Classificação indicativa: 14 anos
Entrada gratuita
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