O Circuito Gastronômico de Favelas em sua oitava edição recebe dez cozinheiros de comunidades periféricas de Belo Horizonte, oferecendo pratos que são suas especialidades, a maioria com receitas passadas por gerações. O evento também conta com apresentações musicais de Fabinho do Terreiro e Orquestra Cabaré, participação da chef Márcia Nunes (Dona Lucinha), da masterchef Bete Coutinho, e da quilombola Kriola Taty, premiada pela fundação Palmares. O Projeto Sopa de Pedra, do chef Américo Piacenza, está na programação e vai cozinhar e distribuir prato típico italiano. O evento acontece no Mercado da Lagoinha, nos dias 24 e 25 de maio, sábado e domingo, a partir de 12h, com entrada gratuita. Haverá área de recreação para as crianças.
O Circuito Gastronômico de Favelas tem o patrocínio da Cemig, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais.
“Essa edição é muito especial para o nós do Circuito Gastronômico de Favelas, pois estamos voltando a Pedreira Padre Lopes, depois de seis anos sem retornar a este território de fomento a tradição da cultura e suas histórias na cidade de BH e, desta vez com a novidade que são as palestras e trocas de experiências entre os chefs periféricos e renomados da cidade”, explica Danusa Carvalho, da Casulo Cidadania, realizadora do evento.
24/5 – sábado – 12h às 20h
Canjinquinha com samba e muito afeto
No sábado, a partir de 12h, a chef Márcia Nunes, do tradicional restaurante Dona Lucinha, participa de debate com as cozinheiras do Circuito Gastrônomico de Favelas, e comanda a cozinha-show com a preparação da “Canjiquinha Salpicada de Vida”. Ela conta que a canjiquinha simboliza generosidade. “Um alimento que se multiplica e alimenta “um batalhão de gente” e que tem um poder nutritivo que, preparado em panela de ferro, contribui para a absorção de ferro e pode atuar no combate à desnutrição infantil, segundo pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”, destaca. Mais do que uma receita, a canjiquinha representa uma herança afetiva para Márcia Nunes. Sua mãe, Dona Lucinha, dizia que a vida chegava ao prato no toque final do cheiro-verde, transformando a simplicidade da cor neutra da canjiquinha em vitalidade com o verde da cebolinha e da salsinha. Para ela, cozinhar a canjiquinha é também um ato de transmitir emoções e histórias através da comida. “A relevância da canjiquinha é sobre todos os aspectos, tanto culturais, quanto nutricionais e emocionais. E ela é salpicada de vida, que é um conceito que a mamãe dava ao cheiro verde que traz cor e vida ao prato”, conclui.
O projeto Sopa de Pedra também estará presente no sábado, com palestra e preparo do Carbonara Mineiro pelo chef Américo Piacenza, que será distribuído entre os moradores de rua do entorno. A ação reforça o compromisso do coletivo em transformar a cidade por meio da comida, ocupando os espaços públicos de forma afetiva e democrática. A receita, que une a tradição italiana com sabores e ingredientes mineiros como o bacon, o queijo minas e o sofrito de alho e cebola, é preparada numa grande panela com 50 ovos e pensada para alimentar muitas pessoas de forma coletiva. “A ideia não é entregar um prato bom de comida, mas sim produzir junto, tirar as barreiras, os pedaços cercados, criar um movimento horizontal onde está todo mundo no mesmo nível, sem hierarquia”, afirma Américo, destacando o poder transformador do encontro e da partilha.
Ainda no sábado, quem comanda a programação musical é o príncipe do samba mineiro, Fabinho do Terreiro, que faz a sua roda de samba, recebendo as damas (baluartes) do samba mineiro – Dona Elisa a homenageada da roda, D. Lucinha Bosco e o Seu Domingos do cavaco. No sábado, DJ Joca completa a festa musical do evento.
25/5 – domingo – 12h às 18h
Cozinha afetiva, sabor ancestral quilombola e Orquestra Cabaré
No domingo, 12h, o Circuito Gastronômico de Favelas recebe Beth Coutinho, cozinheira autodidata e especialista em gastronomia mineira, conhecida por sua comida afetiva. Ela vai conduzir uma conversa com o tema “Simplesinho mesmo”. Ela aprendeu a cozinhar com sua mãe, brincando de casinha, o que moldou seu estilo simples e saboroso, sempre feito com amor e alegria. Semi Finalista do Masterchef+ 2022, hoje comanda a cozinha da Fazenda Santa Bárbara, um espaço dedicado a eventos, experiências gastronômicas e hospedagem. Beth também realiza almoços e jantares no Espaço Cultural Lajinha, em Belo Horizonte, e participou de importantes eventos como o Fartura Brasil, Festival Tambor Mineiro, FIT 2024 e festivais gastronômicos em Santo Antônio do Itambé e Sabará. Criou o evento “O Sabor da Experiência” para o Sesc Mesa Brasil e apresenta o Cook Show “Comer, Cantar e Gargalhar”, onde une culinária, histórias e música. Em sua fala, Beth promete compartilhar histórias, sabores e emoções, conectando o público à tradição mineira com a leveza e a alegria que são sua marca registrada.
A ancestralidade e os saberes quilombolas também têm espaço na programação, de domingo, às 13h. A quilombola Kriola Taty vai levar ao público o seu premiado quitute kubu, uma broa feita na folha de bananeira, além de ministrar a palestra “Sabores de raiz, herança das panelas quilombolas”. Ela compartilha como os ensinamentos das mulheres do Quilombo Mangueiras moldaram sua forma de cozinhar, desde as medidas intuitivas – “um punhado”, “um copo”, “cinco gotas” – até a escolha de ingredientes tradicionais como mandioca e taioba. Para Kriola, manter essas práticas vivas é uma forma de preservar a memória e resistir ao apagamento cultural. Ela ressalta que a culinária quilombola não apenas influencia a gastronomia local, mas também integra profundamente a cozinha brasileira, com raízes africanas presentes em pratos emblemáticos da Bahia e de Minas Gerais. Cozinhar, para ela, é um ato de resistência, celebração e continuidade histórica. “É muito rico trazer e poder desfrutar dessa forma ancestral de cozinhar e manter esse legado vivo da forma de cozimento e preparo de alimentos”, afirma.
No domingo, a Orquestra Cabaré, banda que fez barulho nos palcos da cidade entre 2010 e 2015, promete um baile com duração de três horas, trazendo os principais clássicos do samba em releituras cheias de personalidade. O grupo é formado por Thiago Delegado (voz e violão), Manu Dias (voz), Fernando Bento (voz e cavaquinho), Raquel Coutinho (voz e pandeiro), André Miglio (voz), Robson Batata (percussão), Carioca (bateria), Aloízio Horta (baixo), Marcos Frederico (Bandolim), além de João Machala com seu sofisticado trombone. No domingo, DJ Thiagão completa o time musical do dia.
Circuito oferece ao público o melhor da gastronomia das comunidades
Durante o Circuito Gastronômico de Favelas, todas as receitas serão vendidas diretamente pelos chefs participantes, que receberam capacitação sobre gestão de negócios, comunicação, canais de venda e técnicas de preparo de alimentos. “Mais do que um evento gastronômico, o Circuito é uma ação de fortalecimento das potências que existem nas comunidades. É uma vitrine para que esses cozinheiros tenham visibilidade, avancem em seus negócios e ocupem novos espaços. Estar no Mercado da Lagoinha, um lugar simbólico da cidade, reforça nosso propósito de conectar a gastronomia das favelas com o centro da capital, promovendo encontros, troca de saberes e reconhecimento”, afirma Danusa Carvalho, idealizadora do projeto.
Com criações originais e representativas da culinária popular, os chefs participantes apresentam pratos que revelam a diversidade e os sabores autênticos das favelas de Belo Horizonte. Lia, da comunidade Barragem Santa Lúcia, apresenta a Língua Recheada com Chips de Batata Doce; Dona Dirce, do Alto Vera Cruz, traz a tradicional Feijoada Senzala; Marlene, do Taquaril, serve o Embolado Berrante; Izaías, da Vila Maçola, prepara seu clássico Peixe Frito; Lora, do Barreiro, aposta na suculenta Panceta Crocante; Diones, da Cidade Industrial, oferece o Pastel Trem de Minas; Wanusa, do Morro do Papagaio, leva o prato Agromerado; Alexandra, da Vila Nossa Senhora Aparecida, apresenta o doce Delírio de Limão e outras tortas artesanais; Luana, da Vila Estrela, traz a sobremesa Delícia da Lua; e Bimbal, da Pedreira Padre Lopes, fecha a lista com sua criativa Paella Mineira.
Danusa Carvalho – Liderança com propósito social
O Circuito foi idealizado por Danusa Carvalho, profissional com mais de 35 anos de atuação no mercado cultural. Reconhecida por sua contribuição à cena artística brasileira, Danusa é sócia e diretora artística da Casulo Cultura, empresa especializada em projetos culturais e eventos. Ao longo de sua carreira, trabalhou com nomes como Cássia Eller, Seu Jorge, Kátia Lund, Renegado, Paula Lima e Thiago Delegado, além de coordenar projetos como o Festival Natura Musical, Natal da Praça da Liberdade e a Bienal da UNE. Fundadora da ONG Casulo Cidadania, Danusa tem se dedicado a iniciativas que integram cultura, inclusão social e geração de renda, como o próprio Circuito Gastronômico de Favelas, realizado desde 2017, que já movimentou diversas regiões de Belo Horizonte com foco na valorização da gastronomia periférica.
Sopa de Pedra
O Sopa de Pedra é um projeto de gastronomia social idealizado pelo chef Américo Piacenza, da Cantina Piacenza, que transforma as ruas de Belo Horizonte em espaços de encontro, afeto e partilha. Inspirado na fábula que dá nome à iniciativa, o projeto propõe a ressignificação do espaço público por meio da comida, promovendo jantares abertos a quem estiver passando. As refeições, muitas vezes inspiradas na culinária italiana e preparadas com ingredientes locais, como massas e molhos artesanais, são oferecidas em clima de celebração, unindo pessoas em torno da mesa e da cultura alimentar.
Mais do que servir comida, o projeto busca alimentar vínculos e provocar mudanças por meio do lúdico, da alegria e da ocupação afetiva da cidade. Para tornar tudo isso possível, Américo se uniu a amigos, empresários e voluntários que colaboram na organização dos eventos. Juntos, formam um movimento que acredita na gastronomia como ferramenta de transformação social.
Casa da Gastronomia Social
O Circuito Gastronômico de Favelas integra uma proposta ainda mais ampla de fortalecimento da gastronomia periférica: a Casa da Gastronomia Social, projeto idealizado por Danusa Carvalho que será lançado em 2025. A Casa será um centro de referência permanente para a formação, pesquisa, produção e convivência de profissionais da culinária oriundos das favelas e periferias de Belo Horizonte. O espaço abrigará cursos de capacitação e oficinas práticas voltadas a todas as etapas da cadeia gastronômica – do preparo ao empreendedorismo –, com foco em geração de renda e profissionalização. Também funcionará como espaço de convivência e troca de saberes, promovendo o intercâmbio entre cozinheiros, fornecedores, comunicadores e gestores culturais. A Casa da Gastronomia Social pretende ainda oferecer refeições a preços populares, serviços de catering, produção de alimentos congelados e consultorias. O Circuito Gastronômico de Favelas, desde já, é uma das ações concretas que compõem essa iniciativa e ajuda a consolidar o projeto como um legado transformador para Minas Gerais.
Cemig
A Cemig é a maior incentivadora da cultura em Minas Gerais e uma das maiores do país. Ao longo de sua história, a empresa reforça o seu compromisso em patrocinar as expressões artísticas existentes no estado, de maneira a abraçar e acolher a cultura mineira em toda a sua diversidade. Os projetos e atrações patrocinados pela Cemig têm o objetivo de beneficiar o maior número de pessoas, nas diferentes regiões do estado, promovendo a democratização do acesso às práticas culturais. Ao investir, incentivar e impulsionar o crescimento do setor cultural em Minas Gerais, a Cemig contribui para dar vida à arte, refletindo o posicionamento da Companhia em ser uma indutora do desenvolvimento social e econômico de Minas Gerais.
Circuito Gastronômico de Favelas
Dias 24 e 25 de maio de 2025, sábado e domingo
Horário: a partir das 12h
Local: Mercado da Lagoinha – Av. Pres. Antônio Carlos, 821 – Lagoinha, Belo Horizonte
Entrada gratuita
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