Idealizado e coordenado pela poeta Mônica de Aquino, “Dizer sim: poesia, alegria e resistência” acontece entre os dias 21 e 24/5, com programação gratuita que inclui mesas de debate, exibição de filme, leitura de poemas e performance
“Dizer sim na noite atravessada de lampejos e não se contentar em descrever o não da luz que nos ofusca”, escreveu o filósofo francês Georges Didi-Huberman. No livro “Sobrevivência dos vagalumes”, ele toma o pequeno inseto luminescente como metáfora de resistência, de afirmação do presente, de criação de uma comunidade de desejo e de movimento criativo. A frase é o ponto de partida do evento literário “Dizer sim: poesia, alegria e resistência”, que acontece de 21 a 24/5 (quarta-feira a sábado), no Museu da Moda de Belo Horizonte – MUMO. Idealizada pela poeta Mônica de Aquino, a iniciativa se desdobra em uma programação gratuita que inclui mesas de debate, exibição de filme, aula aberta, leituras de poemas e performance.
Com nomes reconhecidos no cenário nacional – como Ana Martins Marques, Veronica Stigger e Cao Guimarães, entre outros -, “Dizer sim” toma a poesia como ponto de partida para misturar diferentes formas de criação artística, como o cinema, as artes plásticas e a performance. O evento visa criar um intercâmbio entre os artistas participantes e o público, reforçando o valor simbólico do “sim” que não é conformismo, aceitação ou mera adesão inconsciente, mas força de resistência e transformação.
“A palavra sim, curta, é no entanto aberta a múltiplos sentidos. Sempre afirma, mas a afirmação a cada volta pode alterar e acrescentar alguma coisa ao seu significado. Sim é a afirmação da vida contra a morte; da luz, literal ou metafórica, contra a noite; do gesto criativo, que instaura pela linguagem um novo mundo, contra o vazio incriado da página (ou da tela) em branco”, reflete Mônica de Aquino. “Nesse sentido, o sim me parecia uma palavra-chave para pensar uma série de questões de interesse no campo da cultura. Pensar a política afirmativa, que luta pela vida contra as forças que negam a vida plena e diversa. Mas pensar também o ato da criação artística, sempre um gesto afirmativo que inventa novas realidades”, completa a artista.
O termo também está ligado à reflexão sobre as origens – tema que, de forma ampla, permeia o trabalho de Mônica de Aquino e a programação do evento como um todo. “O sim nos leva a pensar sobre a origem da linguagem, a origem do mundo, a origem da vida e da imaginação humana, o que remete inapelavelmente à infância, problema central para muitas das minhas pesquisas”, afirma a artista. “O sim que remete ao nascimento, à origem do mundo e da linguagem, às infâncias, está posto na conferência inaugural da professora da PUC-Rio Rosana Kohl Bines e na exibição comentada do filme de Cao Guimarães, um documentário extremamente pessoal sobre a gestação do filho Otto”.
O evento afirma as múltiplas possibilidades do “sim” ao trazer o trabalho de artistas fundamentais por meio de citações que dão título às mesas e servem de mote para as conversas: Didi-Huberman, Clarice Lispector, James Joyce e João Cabral de Melo Neto. “Cada mesa começa com uma inflexão de sentido específica para a palavra sim. A política, a dimensão questionadora e participativa da arte, está posta como problema aberto, e que se volta para tantas obras de arte possíveis, produções do nosso tempo e de outras épocas da modernidade”, explica a idealizadora do projeto. “O evento foi pensado a partir de diferentes aspectos desta potência afirmativa: reimaginação política, erotismo, criação artística, criação coletiva, corporalidade, maternidade e paternidade, infância”, completa.
Para Mônica de Aquino, porém, um assunto ganhou relevo à medida em que o projeto se desenhou: a infância. “Dizer sim como dizem as crianças a quase tudo. Com curiosidade, atenção ao presente, entusiasmo. Infância como pulsão criadora. Junto com a infância – e como parte dela, sua propulsora – está a questão do nascimento. E penso aqui em uma inversão feita pela filósofa Hannah Arendt, quando passa a pensar a filosofia (e a vida, enfim) não a partir da categoria da morte (como o ser-para-a-morte de Heidegger, outro importante filósofo do século XX), mas do nascimento. Escolha que é outra forma de dizer sim”, reflete a poeta. “A infância e a política, conectadas como experiências restaurativas que são capazes de abalar as certezas estabelecidas do mundo são para mim alguns dos destaques do evento”, finaliza.
Sobre Mônica de Aquino
Natural de Belo Horizonte, Mônica de Aquino é autora dos livros “Sístole” (Editora Bem-te-vi, 2005), “Fundo Falso” (Relicário Edições, 2018), “Continuar a nascer” (Relicário Edições, 2019) e “Linha, Labirinto” (Edições Macondo, 2020), lançado também em Portugal (Não Edições, 2022). “Fundo Falso” venceu o “Prêmio Cidade de Belo Horizonte” (2013) e foi finalista do “Prêmio Jabuti” (2019). Mônica também já lançou cinco livros infantis, todos pela Editora Miguilim.
A artista mineira já participou de diversas coletâneas, antologias e eventos no Brasil e no exterior. Mônica também oferece cursos e oficinas de escrita criativa. É mestre em Literaturas Modernas e Contemporâneas pela Universidade Federal de Minas Gerais e neste ano conclui o doutorado em criação literária pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Prepara, atualmente, a antologia “O labirinto da origem”. Seu quinto volume de poemas está pronto e será lançado até 2026.
“DIZER SIM: POESIA, ALEGRIA E RESISTÊNCIA”
Quando. De 21 a 24/5/25 (quarta-feira a sábado)
Onde. Museu da Moda de Belo Horizonte – MUMO
(R. da Bahia, 1.149 – Centro)
Quanto. Gratuito, sujeito à lotação do espaço
Mais. Instagram “Dizer sim” / Instagram Mônica de Aquino
PROGRAMAÇÃO
Dia 21/05 (quarta-feira)
17h30 – Exibição do filme “Otto” e debate com Cao Guimarães
19h45 – Conferência de abertura com a professora Rosana Kohl Bines
Dia 22/05 (quinta-feira)
18h – Mesa “Sim, eu disse sim, eu quero sims”
com Renato Negrão, .:grão (Gabriela Sá + Ícaro Moreno) e Ana Martins Marques
19h45 – Leitura aberta do livro “De uma a outra ilha”
com Ana Martins Marques e Victor da RosaP
Dia 23/05 (sexta-feira)
18h – Mesa “Dizer sim na noite atravessada de lampejos”
com Daniel Arelli, Ligia Diniz e Veronica Stigger
19h45 – Aula aberta com Veronica Stigger
Dia 24/05 (sábado)
10h – Mesa “Tudo no mundo começou com um sim”
com Pablo Lobato, Tatiana Blass e Mônica de Aquino
11h45h – Mesa “O sim contra o sim”, com Ludmilla Ramalho e Gustavo Silveira Ribeiro, seguida de performance com Ludmilla Ramalho
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